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'Vitória de Trump ativa imaginário de que Jair Bolsonaro pode retornar ao poder', diz Eduardo Bolsonaro

Filho do ex-presidente diz acreditar que vitória do republicano gera pressão indireta que pode levar à volta de Bolsonaro às urnas em 2026.

6 nov 2024 - 18h12
(atualizado às 18h18)
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Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro em 2019
Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro em 2019
Foto: Shealah Craighead/Casa Branca / BBC News Brasil

A vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas gerou uma onda de euforia não apenas entre os correligionários e eleitores do presidente eleito.

No Brasil (e nos Estados Unidos), apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também comemoraram a vitória de Trump a passaram a divulgar a esperança de que, numa espécie de efeito dominó, Bolsonaro tenha a sua inelegibilidade revertida e possa disputar as eleições presidenciais em 2026.

Essa é a expectativa de um dos principais expoentes do bolsonarismo, o filho do ex-presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Em breve entrevista à BBC News Brasil, Eduardo Bolsonaro disse que a vitória de Trump pode ter efeitos sobre as eleições de 2026.

"A vitória de Trump ativa o imaginário de que o Bolsonaro também pode retornar", diz Eduardo Bolsonaro direto da Flórida, no Sul dos Estados Unidos, onde acompanhou o resultado das eleições na propriedade de Trump conhecida como Mar-a-Lago.

Jair Bolsonaro ficou inelegível em 2023 após ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) duas vezes.

Num primeiro processo, ele foi condenado por abuso do poder político por ter convocado uma reunião com embaixadores de países estrangeiros, onde questionou a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro.

A segunda condenação foi por abuso do poder econômico.

Sua defesa alegou que ele era inocente nos dois casos. A inelegibilidade de Bolsonaro termina em 2030, quando, em tese, ele poderia disputar novas eleições.

No Brasil, no entanto, há um movimento liderado por bolsonaristas para reverter a inelegibilidade do ex-presidente, seja por meio de recursos jurídicos, seja por meio da aprovação de uma lei prevendo uma espécie de anistia que abrangeria o seu caso.

Eduardo Bolsonaro, no entanto, diz acreditar que não é apenas ativação do imaginário dos brasileiros que seria responsável por uma eventual reversão da inelegibilidade de Bolsonaro.

Ele diz acreditar que a chegada de Trump ao poder poderá exercer algum tipo de influência indireta sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte poderá, em tese, julgar recursos movidos pela defesa de Bolsonaro sobre sua inelegibilidade.

"Eu não vejo eles [o governo norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim. Mas, certamente, o STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar suas políticas... eles vão ficar com o pé atrás", diz Eduardo Bolsonaro.

Confira os principais trechos da entrevista.

Eduardo Bolsonaro durante encontro com Donald Trump em 2019, na Casa Branca
Eduardo Bolsonaro durante encontro com Donald Trump em 2019, na Casa Branca
Foto: Joyce N. Boghosian/Casa Branca / BBC News Brasil

BBC News Brasil - A vitória de Trump pode mudar o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação à sua inelegibilidade? Qual é o plano?

Eduardo Bolsonaro - Trump não precisa fazer nada. Só a atmosfera política criada pela eleição dele já ativa o imaginário dos brasileiros de que o Bolsonaro também pode retornar.

Os dois casos, a vitória de Trump em 2016 e a de Bolsonaro em 2018, foram eleições improváveis. E depois, quando eles não conseguiram a reeleição, os dois reclamaram de suspeitas no processo eleitoral.

Com Trump retornando, isso aumenta o imaginário do brasileiro de que o Bolsonaro também poderá fazê-lo. Há males que vêm para o bem.

Se Trump tivesse sido reeleito em 2020, ele não teria a mesma força no Congresso que tem hoje. Trump terá a maioria, tanto na Câmara quanto no Senado.

Não custa para nós imaginar que Bolsonaro, podendo concorrer em 2026, teria uma maioria mais sólida na Câmara e no Senado, o que ajudaria muito para colocarmos adiante as pautas que os presidentes conservadores querem [...]

A vitória de Trump é uma mudança de paradigma. Se você começar a olhar para toda a nossa região, para as Américas, você vê uma guinada à direita.

Os Estados Unidos com o presidente Trump. O Equador com Daniel Noboa, o Uruguai com Luis Alberto Lacalle Pou, o Paraguai com [Santiago] Peña, e o Javier Milei na Argentina.

Daqui a pouco, vamos ter eleições no Brasil, em 2026... no Chile e na Colômbia. Não custa imaginar que toda a região vai ficar mais conservadora.

BBC News Brasil - Do ponto de vista da inelegibilidade do presidente Bolsonaro, o senhor acredita que a vitória do Trump pode pressionar o TSE ou o STF ou que os ministros podem se sentir, de alguma forma, pressionados por essa vitória e mudar seus entendimentos sobre o assunto?

Eduardo Bolsoanro - Dos sete juízes do TSE, três deles vêm da Suprema Corte. Eles conversam entre eles. Todos vimos que o Elon Musk teve um enfrentamento muito grande com o Alexandre Moraes. O Elon Musk estava ontem com a gente lá em Mar-a-Lago e Trump falou que vai dar para ele um cargo para ele exercer um trabalho dentro do governo americano.

Qual é a principal bandeira do Elon Musk? É a liberdade de expressão. Eu não vejo eles [o governo norte-americano] mandando recado para o TSE ou algo assim. Mas, certamente, o STF... um ou dois juízes que ficam mais à vontade para adotar suas políticas... eles vão ficar com o pé atrás.

Porque aí não faria mais um enfrentamento com uma empresa norte-americana como foi o caso do Twitter [atual X] ou como foi o caso da Starlink, que o Alexandre de Moraes enfrentou. Aí, eles estariam enfrentando um ministro do governo norte-americano.

E aqui nos Estados Unidos existem várias leis para não permitir esse abuso de autoridade contra autoridades americanas. Então, o natural é que haja, por parte principalmente de um ministro do STF, uma cautela e uma prudência maior.

Eu acho que vai haver esse cenário de menos abuso, de botar a bola no meio de campo e dizer: "Olha só... fomos longe demais nesses pontos". No final do dia, todo mundo tem patrimônio nos Estados Unidos, todo mundo tem casa aqui, todo mundo quer ter um visto americano, todo mundo tem uma conta bancária. Seja alguém do seu meio de trabalho, da sua família... É dessa maneira que, normalmente, os Estados Unidos exercem a influência.

Eles [o governo dos Estados Unidos] congelaram os ativos, não só do Nicolás Maduro e do Diosdado Cabello [ministro do Interior e da Justiça da Venezuela], mas de várias outras autoridades venezuelanas.

Tudo bem que foi por outros motivos, mas os Estados Unidos não se furtam de utilizar os poderes que estão à sua mão para fazer pressão geopolítica internacional.

BBC News Brasil - O senhor espera que os Estados Unidos exerçam pressão para que haja a reversão da inelegibilidade do presidente Bolsonaro?

Eduardo Bolsonaro - Como eu falei, não vejo uma atuação política direta dos EUA neste ponto. Mas a questão da inelegibilidade de Bolsonaro é uma questão de justiça [...] E a relação dos Estados Unidos com o Brasil é cada vez mais íntima.

Há um projeto de lei, por exemplo, da deputada [republicana] Maria Elvira Salazar, que prevê a retirada de vistos de autoridades estrangeiras que não respeitem a liberdade de expressão de americanos. E foi este o caso do Twitter.

As pautas estão andando e cada vez mais eu vejo uma atmosfera favorável para a reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

Quero deixar claro que não falo por ninguém dos Estados Unidos, por nenhuma autoridade. Mas o que eu quero dizer é que, aqui nos Estados Unidos, cada vez mais eles estão cientes do que acontece no Brasil.

BBC News Brasil - O ex-presidente foi convidado a participar da posse de Trump? E se for convidado, terá condições de ir?

Eduardo Bolsonaro - A gente espera aqui que ele seja convidado para posse. Estou aqui falando com algumas pessoas e ele deve ser convidado para posse, sim. Só que ele tem que reaver o passaporte, né? Os advogados deverão peticionar ao Alexandre de Moraes para que o passaporte seja devolvido e ele possa fazer essa viagem. Certamente, Trump vai chamá-lo.

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