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Vitória se transforma na capital do caos no Brasil

9 fev 2017 - 09h50
(atualizado às 11h10)
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Mulher deixa a praia no litoral de Vitória cuja a segurança é feita por homens do Exército.
Mulher deixa a praia no litoral de Vitória cuja a segurança é feita por homens do Exército.
Foto: Reuters

Com um "Bem-vindos ao Iraque", um taxista cumprimenta os clientes no aeroporto de Vitória, capital do Espírito Santo, antecipando o clima hostil que se vive na cidade devido à greve iniciada no sábado passado pela Polícia Militar local e que já deixou um saldo de quase cem mortes.

Com pouco mais de 350 mil habitantes, Vitória é uma tranquila cidade que raramente aparece nas manchetes nacionais e que a greve de policiais levou às primeiras páginas dos jornais.

Vagar por estes dias por Vitória é fazê-lo por uma cidade fantasma, na qual praticamente todas as lojas estão fechadas, não há transporte público e quase não se encontram pessoas na rua.

"Durante a noite, a coisa se torna muito feia. É uma situação muito tensa", comenta Rodrigo, um jovem de 24 anos, na fila de um supermercado.

Desde que a Polícia iniciou a greve, pelo menos 90 pessoas foram assassinadas no estado, quase todas elas em Vitória e sua região metropolitana, enquanto centenas de lojas foram saqueadas.

A Polícia se retirou das ruas no sábado em protesto contra as condições trabalhistas e o congelamento de salários, e, visto que por seu status estão assimilados ao Exército não podem fazer greve, seus familiares bloqueiam desde então os quartéis para justificar a paralisação da atividade dos agentes.

Sem a presença da Polícia Militar nas ruas, o governo regional se viu obrigado a pedir ajuda a Brasília, que enviou 1.200 militares e membros da Força Nacional.

Exército patrulha ruas de Vitória em meio a protesto de moradores por mais segurança.
Exército patrulha ruas de Vitória em meio a protesto de moradores por mais segurança.
Foto: EFE

Mas sua presença não conseguiu acabar com a onda de violência e a confusão e os empresários com recursos optaram por pagar sua própria segurança e contrataram policiais civis para que vigiem seus estabelecimentos.

"Fazemos turnos de sete horas, e cobramos cerca de R$ 500 por dia", explica um deles, deixando claro que não quer ser filmado nem fotografado.

"Nem nos chamaram para conversar, deram as costas ao conjunto de funcionários público", explicou à EFE.

"Isto é um caos. Estamos aqui porque precisamos do dinheiro, quando deveríamos estar em casa com nossas famílias, mas com o pouco que recebemos é impossível viver", acrescentou.

Um de seus companheiros lamentou porque há "um trabalho que o governo teria que fazer, mas estamos à mercê de uma política barata e corrupta, não só no Espírito Santo, mas em todo o Brasil".

"O Brasil está fracassado, são tantos roubos que o país está à mercê de qualquer acontecimento como este ou mais grave", advertiu.

Todas as críticas se dirigem ao governador, Paulo Hartung, do PMDB.

"Onde está o governador, onde está o governador?", cantam várias das esposas de policiais na frente do quartel da corporação em Vitória.

Os familiares mantêm um clima de colaboração que só se rompe perante os protestos de grupos de cidadãos que se aproximam para reivindicar que os policiais voltem a sua atividade.

"Venham para nosso lado, povo! Precisamos da Polícia nas ruas. Para ele, Paulo Hartung, dá no mesmo porque já tem seus guarda-costas para protegê-lo", gritou uma mulher em cima de um caminhão utilizado como palanque na porta do quartel.

Na calçada da frente, outro grupo de mulheres também protesta: "É uma vergonha, que voltem a trabalhar! São funcionários públicos, nos abandonaram", gritou uma delas.

A tensão entre as famílias dos policiais e dos cidadãos contrários à greve é esquecida quando do caminhão se pede "uma oração" para encontrar uma solução e rapidamente se forma um cordão com dezenas de pessoas que rezam para que termine um conflito que poderia piorar se a Polícia Civil se somar à greve.

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