Viúva de Jango sobre a exumação: ‘acho que ele merecia’
A viúva do ex-presidente da República João Goulart disse nesta quinta-feira, em Brasília, que seu marido merecia o processo de investigação pela causa de sua morte, como o que é feito pelo governo federal. Segundo Maria Tereza Goulart, a exumação dos restos mortais do marido foi um ato de coragem. “Acho que é (uma atitude) de coragem e de reconhecimento pelo presidente que ele foi. Então, acho que ele merecia”.
Maria Tereza disse que considera todas as hipóteses sobre a causa da morte, inclusiva a de que o ex-presidente tenha morrido realmente de causas naturais, conforme apresentou o laudo oficial em 1976. “Tem essa hipótese (de morte natural) também né? Todas são consideradas. De qualquer maneira, (a exumação) é importante”, disse a viúva, que chegou a se emocionar durante a cerimônia oficial realizada na Base Militar de Brasília. “Tive vontade de chorar. Nesse momento é uma emoção tão grande”, completou.
Os restos mortais de Jango chegaram a Brasília no final da manhã de hoje. O material passará por análise pericial para apurar a suspeita de assassinato por envenenamento. A chegada da urna com os restos mortais contou com uma cerimônia fúnebre com honras militares e todo o cerimonial voltado a chefes de Estado. O corpo foi recebido pela presidente Dilma Rousseff e os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva. Fernando Henrique Cardoso se ausentou por estar passando por um tratamento contra diverticulite.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, ressaltou a importância do ato para a consolidação da democracia no País. “Este momento tem uma grande importância para o Brasil e a presidenta Dilma determinou que este resgate histórico significasse a valorização da democracia. Nós estamos aqui fazendo justiça, recuperando a nossa própria história e, ao nos encontrarmos com esta história, valorizando todas as conquistas que temos construído”, disse.
“A democracia não é algo pronto. É algo que se constrói todos os dias, inclusive com momentos como este, onde nós homenageamos a um presidente constitucionalmente estabelecido e que foi deposto em uma circunstância de golpe. Para que nunca mais aconteça é que hoje nós tivemos aqui forças civis e militares”, ressaltou a ministra.
Exumação
Os restos mortais de Jango foram exumados na última quarta-feira na cidade de São Borja (RS). Após a cerimônia, eles serão enviados ao Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, que buscará vestígios de envenenamento. Os restos mortais do ex-presidente retornam à cidade gaúcha no dia 6 de dezembro, data de sua morte.
A apuração é um pedido da Comissão Nacional da Verdade, colegiado incumbido de investigar violações de crimes contra direitos humanos entre 1946 a 1988, período que compreende a ditadura militar (1964-1985). Existe uma suspeita de que João Goulart teria sido assassinado por envenenamento em 1976, quando estava exilado na Argentina.
A ação poderia ter sido executada por agentes uruguaios no âmbito da Operação Condor, uma aliança entre os regimes militares sul-americanos, a pedido do governo brasileiro.
A solenidade de recepção aos restos mortais de Jango conta com salva de 21 tiros de canhão, execução do Hino Nacional e da marcha fúnebre. O corpo foi transportado em aeronave da Força Aérea Brasileira. A cerimônia é reservada a um grupo de 150 convidados e acontece na Base Aérea de Brasília.