Viúva diz não ter sossego e cobra penas pesadas por acidente da TAM
17 jul2012 - 19h02
(atualizado às 19h26)
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Fernando Diniz
Direto de Porto Alegre
"Nossos sonhos foram interrompidos. Sonhávamos em viver nossa velhice juntos", relata Joice Vinholes Oliveira, segurando um coração com fotos do marido, Fernando Laroque Oliveira. Cobrando penas pesadas aos responsáveis pela tragédia que matou 199 pessoas, Joice disse que não consegue ter sossego desde 17 de julho de 2007.
Em aeroporto, filha de vítima de acidente da TAM cobra justiça:
Fernando Oliveira viajava a trabalho e tinha como destino final a cidade de Vitória (ES). Ele embarcou no voo 3054 para fazer uma conexão no aeroporto de Congonhas, em cuja pista o Airbus A320 não conseguiu frear há exatos cinco anos.
"Não existe dinheiro que pague por isso. Eu presenciei eles sendo carregados em sacos plásticos, aqueles sacos pretos de carregar lixo. As urnas chegaram aqui (em Porto Alegre) quebradas, que nem caixa de cachorro de madame. Mais uma vez essa empresa nos desrespeitou", disse a dona de casa de São Leopoldo (RS).
"Eu espero por penas pesadas. Seria um certo alento, porque a gente não consegue ter sossego", afirmou Joice. "Espero que o juiz (que analisar o processo do acidente) pense que nem eu, porque um dia pode ser a filha ou a neta dele."
O acidente
O voo JJ 3054 da TAM decolou do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, em direção a São Paulo no dia 17 de julho de 2007. O Airbus A320 pousou às 18h48 no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, mas não desacelerou durante o percurso da pista, atravessou a avenida Washington Luís e se chocou contra um depósito de cargas da própria companhia. Em seguida, a aeronave pegou fogo. Todas as 187 pessoas do avião e mais 12 que estavam em solo morreram.
Uma investigação do Setor Técnico Científico (Setec) da Polícia Federal apontou que uma falha dos pilotos é a hipótese "mais provável" para o acidente. De acordo com o Setec, uma das manetes que controla as turbinas da aeronave estava na posição para acelerar e isso anulou o sistema de freios. Não foi possível esclarecer se o comando estava na posição errada por falha humana ou mecânica.
Como fatores contribuintes para o acidente, o relatório final produzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou que o monitoramento do voo não foi adequado, a Agência Nacional de Avião Civil (Anac) não havia normatizado regras que impedissem o uso de reversos (freios aerodinâmicos) travados e a Airbus não colocava avisos sonoros para mostrar aos pilotos quando as manetes estavam em posições diferentes (uma para acelerar e outra para frear o avião). Após a tragédia, a TAM instalou um dispositivo que avisa os pilotos sobre a posição incorreta do equipamento.
Em novembro de 2008, a Polícia Civil de São Paulo indiciou dez pessoas pelo acidente, entre elas o ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Sérgio Silveira Zuanazzi e a ex-diretora da agência Denise Maria Ayres Abreu. Dias depois, no entanto, a Justiça suspendeu os indiciamentos alegando que "a medida policial ter sido lançada por meio de rede jornalística representa, aos averiguados, eventual violação de seu direito individual".
O inquérito sobre o acidente foi repassado para o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo. Em julho do ano passado, o MPF ofereceu denúncia contra três pessoas por "atentado contra a segurança da aviação". São acusados: a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu; o ex-vice-presidente de operações da TAM Alberto Fajerman; e o ex-diretor de segurança de voo da companhia Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro. Desde 5 de junho de 2011, o processo está na mesa do juiz Márcio Assad Guardia aguardado a decisão final do magistrado.
Em janeiro de 2009, a Justiça Federal aceitou denúncia contra Denise Abreu por fraude processual. Ela é acusada de ter apresentado à desembargadora Cecilia Marcondes, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, um estudo interno como se fosse uma norma da Anac. Esse documento foi usado pela Anac no recurso que garantiria, em tese, a segurança nas operações em Congonhas com chuva, sendo que pousos e decolagens só precisariam ser proibidos caso a pista estivesse com uma lâmina d'água superior a 3 mm. Segundo depoimento da desembargadora Cecília Marcondes ao MPF, o documento foi fundamental para que a Justiça Federal liberasse a pista para pousos e decolagens de todos os equipamentos. Em junho de 2012, Denise Abreu impetrou habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo liminar para suspender a ação. No final do mês, o ministro Ricardo Lewandowski deu parecer favorável ao pedido.
O voo JJ 3054 da TAM decolou do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, em direção a São Paulo no dia 17 de julho de 2007
Foto: Daniel Kfouri / AFP
Todas as 187 pessoas no avião e mais 12 que estavam em solo morreram
Foto: Eugênio Goulart / AFP
O avião da TAM atravessou a avenida Washington Luís e se chocou contra um depósito de cargas da própria companhia
Foto: Roberto Setton / AFP
Chovia no dia do acidente e a pista, que havia passado por obras de recuperação, foi liberada sem a conclusão do grooving (ranhuras no asfalto que permitem o escoamento da água)
Foto: Everton de Freitas / AFP
Chamas da aeronave podiam ser vistas de longe em São Paulo após a tragédia
Foto: Ernesto Rodrigues / AFP
Escavadeira trabalha para retirar corpos durante a noite do acidente no aeroporto de Congonhas
Foto: Roberto Setton / AFP
Garoto observa, com as mãos na cabeça, o resultado do acidente no aeroporto de Congonhas e arredores
Foto: Mauricio Lima / AFP
Equipes de resgate trabalhavam nas busca por corpos das vítimas do acidente no dia seguinte à tragédia
Foto: Mauricio Lima / AFP
Bombeiros trabalham para apagar o fogo causado pela colisão do Airbus A320
Foto: Roberto Setton / AFP
Imagem de TV mostra uma reconstrução gerada por computador do acidente até o momento da colisão
Foto: AFP
No dia seguinte ao acidente, foi realizada uma missa em Porto Alegre, de onde o avião partiu, em alusão às vítimas da tragédia
Foto: Jefferson Bernardes / AFP
Parentes das vítimas em Porto Alegre se dirigiram ao aeroporto Salgado Filho após saberem do acidente com a aeronave que chegava em São Paulo
Foto: Jefferson Bernardes / AFP
Caixão com vítima do acidente chega a Porto Alegre em 19 de julho
Foto: Jefferson Bernardes / AFP
Mais de 5 mil pessoas realizaram uma marcha em 29 de julho em direção ao aeroporto em alusão à tragédia ocorrida no mês anterior
Foto: Daniel Kfouri / AFP
Membros das equipes de resgate do acidente estiveram presentes na cerimônia de encerramento do Pan no Rio de Janeiro e levaram uma bandeira do Brasil ao Maracanã
Foto: Juan Mabromata / AFP
Para lembrar um ano do acidente, familiares das vítimas do voo JJ 3054 levaram flores e um caixão para o aeroporto de Congonhas e protestaram em frente ao balcão da TAM
Foto: AFP
Em agosto de 2008, os familiares fizeram uma manifestação em frente ao guichê da TAM no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Eles estiveram na capital federal para ver uma reconstituição do acidente feita pela Aeronáutica
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
A Polícia Civil de São Paulo indiciou, em novembro de 2008, 10 pessoas pelo desastre em Congonhas. São responsabilizados cinco funcionários e ex-representantes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além de três da Infraero e dois da TAM
Foto: Zanone Fraissat / Futura Press
Em março de 2009, familiares das vítimas se reuniram em São Paulo e realizaram um ato ecumênico para lembrar os mortos na tragédia
Foto: Marcelo Pereira / Terra
Ainda em março de 2009, a associação dos familiares das vítimas organizou um protesto no saguão do aeroporto de Congonhas. Eles colocaram cartazes e fotos no chão, e rezaram
Foto: Vagner Magalhães / Terra
Em maio de 2009, familiares fizeram um protesto silencioso no local do acidente. Após uma caminhada de cerca de 500 m, eles depositaram flores nos tapumes que cercam o terreno do antigo prédio da TAM Express, contra o qual o avião se chocou
Foto: Raphael Falavigna / Terra
Familiares das vítimas do acidente com o voo JJ 3054 se reuniram em São Paulo, em maio de 2009, para tratar com o Ministério Público como seria tipificada a participação dos envolvidos no acidente
Foto: Reinaldo Marques / Terra
No segundo aniversário da tragédia, em julho de 2009, os familiares e amigos das vítimas fizeram um protesto no aeroporto de Congonhas e seguiram para o local do acidente, na avenida Washington Luís
Foto: Marcelo Pereira / Terra
A Aeronáutica apresentou, em outubro de 2009, o relatório da comissão que investigou o acidente. O grupo apontou que um dos manetes estava em posição de aceleração, enquanto deveria estar em ponto morto
Foto: Roosewelt Pinheiro / Agência Brasil
Em julho de 2010, familiares lembraram três anos do acidente com o voo da TAM no local do acidente, em São Paulo
Foto: Levi Bianco / Futura Press
Em 16 de julho de 2011, um dia antes do quarto aniversário da tragédia, familiares homenagearam os mortos em frente à Catedral da Sé, em São Paulo, onde uma missa foi realizada
Foto: Léo Pinheiro / Terra
No quarto aniversário do acidente aéreo, em julho de 2011, um ato ecumênico foi realizado na praça onde ficava o prédio da TAM Express, contra o qual a aeronave se chocou. Na cerimônia, com a presença do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi assinado um protocolo para a construção do Memorial 17 de julho, em homenagem às vítimas