Witzel diz que atitude de Bolsonaro pode ser enquadrada como crime contra humanidade
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou nesta segunda-feira que a atitude do presidente Jair Bolsonaro de desrespeitar as orientações de isolamento social e defender o fim das quarentenas decretadas em decorrência do coronavírus pode ser enquadrada como crime contra a humanidade.
"Se pudesse dar conselho como jurista, (Bolsonaro) está colocando em risco a sua liberdade. A um chefe de Estado não se admite que vá na contramão das orientações da ONU e OMS", disse o ex-juiz federal Witzel em entrevista coletiva.
"Fazer ações que possam aumentar pandemia pode caracterizar crime contra humanidade. Não estou para fazer pré-julgamento, mas meu conselho é que não desafie as autoridade sanitárias, porque amanhã a responsabilidade virá e pode ser muito dura. Não é hora de desafiar nem de fazer política", acrescentou.
Assim como outros governadores, Witzel diverge frontalmente de Bolsonaro quanto às estratégias para lidar com o novo coronavírus.
Enquanto o governador tem adotado medidas de restrição à circulação, como fechamento do comércio, e insistido que as pessoas fiquem em casa --em consonância com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS)--, Bolsonaro já se referiu à doença como uma "gripezinha", defende a volta das pessoas ao trabalho para evitar danos à economia e acusa governadores e prefeitos que adotam medidas de isolamento de "exterminadores de empregos".
No domingo, Bolsonaro disse que estava "com vontade" de editar um decreto que permita que todos os profissionais que precisam trabalhar para sustentar suas famílias retomem suas atividades, apesar das medidas de restrição à circulação tomadas por vários Estados e municípios.
O presidente também divulgou no domingo um vídeo em que conversa com um vendedor ambulante em Taguatinga, no Distrito Federal, durante um passeio, contrariando recomendação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para que a população mantenha isolamento social para evitar a disseminação do coronavírus.
Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu a um pedido de comentário sobre as declarações do governador.
O governador do Rio também afirmou que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) se Bolsonaro realmente assinar o decreto para afrouxar o distanciamento social.
"O Brasil tem estruturas democráticas suficientes para que se questione os atos dos administradores. Um eventual decreto que venha flexibilizar distanciamento poderá ser questionado no STF, que já deu demonstrações de que a crise é gravíssima", afirmou.
Witzel também fez um pedido para que as pessoas mantenham o isolamento social, afirmando que as medidas de distanciamento têm dado certo. Segundo ele, a curva de casos no Estado se assemelha à da Coreia do Sul, país que conseguiu controlar o avanço da Covid-19.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, até domingo o Rio de Janeiro era o segundo Estado com mais casos de Covid-19 no país, atrás de São Paulo, com 600 registros e 17 mortos. Em São Paulo, eram 1.451 casos e 98 óbitos.