Califórnia e China selam aliança pelo clima
Estado americano e Pequim anunciam cooperação para preencher lacuna deixada por saída dos EUA do Acordo de Paris.
A Califórnia e a China desafiaram presidente dos EUA, Donald Trump, e concordaram em trabalhar juntas pelo meio ambiente. O estado americano anunciou que cooperará com Pequim em tecnologia limpa, comércio de emissões e outras oportunidades "positivas para o clima", numa medida que visa preencher a lacuna deixada depois que Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, na semana passada.
O governo da Califórnia e o Ministério da Ciência e Tecnologia da China trabalharão juntos no desenvolvimento e na comercialização de know-how sobre captura e armazenamento de carbono, energia limpa, assim como em tecnologia avançada de informação que pode ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com comunicado emitido nesta terça-feira (06/06).
O governador da Califórnia, Jerry Brown, afirmou que a retirada dos EUA do acordo climático provará ter sido apenas um contratempo temporário e que a ciência e o mercado precisam superar e sobrepor a decisão de Trump. Durante sua visita a uma conferência de energia limpa em Pequim, Brown disse que a China, países europeus e governadores de estados americanos preencherão a lacuna deixada pela Casa Branca.
"O mundo não está fazendo o suficiente. Estamos a caminho de um futuro muito negativo e desastroso, a menos que aumentemos o ritmo da mudança", disse. "Ninguém pode ficar à margem. Não podemos nos dar ao luxo de desistências no desafio humano tremendo de fazer a transição para um futuro sustentável. O desastre continua pairando, e temos que dar uma reviravolta."
Manifestantes em frente à Casa Branca protestam contra a decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris
Embaixador renuncia
O embaixador interino dos EUA na China, David Rank, renunciou ao cargo devido à decisão da Casa Branca de abandonar o Acordo de Paris, segundo a emissora CNN.
Uma funcionária do Departamento de Estado disse à CNN que a renúncia de Rank se deve a uma "decisão pessoal", mas outras fontes citadas pela emissora apontam a saída dos EUA do Acordo de Paris como a causa real.
Rank, de qualquer forma, não permaneceria muito tempo no cargo, já que o novo embaixador, o ex-governador de Iowa, Terry Branstad, assumirá a embaixada americana na China no final deste mês após ser confirmado recentemente pelo Congresso.
"Americanos não precisam de Washington"
No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta segunda-feira, mais de 1.200 prefeitos, empresas, universidades e governadores dos EUA prometeram defender o Acordo de Paris para combater as mudanças climáticas. Numa carta aberta, os signatários afirmaram que vão continuar a apoiar o acordo "na ausência de liderança de Washington".
"O anúncio do governo Trump mina um pilar chave na luta contra as mudanças climáticas e prejudica a capacidade do mundo de evitar os efeitos mais perigosos e dispendiosos das mudanças climáticas", diz o comunicado.
No mesmo dia em que Trump anunciou a saída do Acordo de Paris, em 1º de junho, os governadores de Califórnia, Washington e Nova York anunciaram a Aliança do Clima dos EUA. Diversos estados aderiram prontamente - com destaque para Massachusetts e Vermont, que têm governadores republicanos.
Aos estados se juntaram os líderes de gigantes da tecnologia, como Amazon, Google, Appel, Facebook e Microsoft, assim como representantes de indústrias, como Nestlé, Nike, Unilever e Starbucks.
O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que agora atua como enviado especial para cidades e mudanças climáticas nas Nações Unidas, foi encarregado de coordenar os esforços de todas as partes para cumprir o Acordo de Paris.
"Os americanos não precisam de Washington para cumprir nossos compromissos com [o Acordo de] Paris", disse, em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, e a prefeita da capital da França, Anne Hidalgo. "Os americanos não vão permitir que Washington impeça o cumprimento [do acordo]."
Apesar da determinação de Trump para retirar os EUA do Acordo de Paris, a primeira data possível para a saída é 4 de novembro de 2020 - um dia depois das próximas eleições presidências americanas.