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Candidatas travam duelo desigual pela presidência do Chile

Evelyn Matthei e Michelle Bachelet e se enfrentam nas eleições de amanhã

16 nov 2013 - 09h26
(atualizado às 09h35)
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Funcionário carrega urna durante preparativos do Estádio Nacional, em Santiago, um dos locais de votação da capital
Funcionário carrega urna durante preparativos do Estádio Nacional, em Santiago, um dos locais de votação da capital
Foto: AFP

Pela primeira vez na história chilena duas mulheres disputam a presidência. Numa corrida eleitoral ainda marcada pelas sombras da ditadura de Augusto Pinochet, a ex-presidente Bachelet tem grandes chances de ser eleita.

As eleições presidenciais deste domingo (17/11) no Chile serão marcadas por um duelo desigual entre duas mulheres. A ex-presidente Michelle Bachelet e a candidata governista Evelyn Matthei disputam a preferência da população numa campanha eleitoral marcada pela sombra da ditadura de Augusto Pinochet.

Evelyn Matthei acena para partidários durante último comício antes das eleições de domingo
Evelyn Matthei acena para partidários durante último comício antes das eleições de domingo
Foto: AFP

Não são poucos os motivos para a disputa ser considerada desequilibrada. Enquanto Bachelet conhece o cargo que ocupou de 2006 a 2010, Matthei é uma espécie de solução de emergência, depois que dois candidatos da aliança conservadora de direita desistiram de disputar a presidência.

Enquanto uma é amada até mesmo por opositores, a outra é originária da direitista União Democrática Independente (UDI), do atual presidente Sebastian Piñera, que deixa o cargo com alto índice de impopularidade. Enquanto, de acordo com as pesquisas de opinião, uma pode contar com uma vitória folgada no primeiro turno, a outra já pode se dar por satisfeita se alcançar mais de 20% dos votos.

Nestas eleições, tudo joga a favor de Michelle Bachelet, que é médica, ex-presidente e candidata da aliança de centro-esquerda. Poucos duvidam que ela vá ocupar pela segunda vez o Palácio de la Moneda, residência oficial do chefe de Estado chileno.

Favorita, Michelle Bachelet acena durante comício em Santiago
Favorita, Michelle Bachelet acena durante comício em Santiago
Foto: AFP

Como a Constituição do Chile veda a reeleição imediata do chefe de Estado, Bachelet teve que abrir caminho para o empresário milionário conservador Sebastián Piñera. Ele deixa seu mandato com um balanço respeitável: crescimento de 6% ao ano da economia chilena, inflação baixa e apenas 6% de desemprego.

Basicamente, o país é próspero, politicamente estável e, no momento, o mais moderno da América Latina. O relatório anual Doing Business, encomendado pelo Banco Mundial, que avalia o ambiente internacional de negócios, colocou o Chile na 34ª colocação, acima de todas as outras nações do continente. Ao Brasil, por exemplo, coube a 116ª colocação; à Argentina, a 126ª.

Sistema de educação, velho pomo da discórdia

Embora os dados pareçam bastante positivos, as coisas não são tão simples assim no suposto país-modelo da América Latina. Um grande problema é que o crescimento econômico não beneficia seus 17 milhões de habitantes: a renda mensal dos 20% dos chilenos considerados ricos é superior ao total do restante da população.

O conflito em relação à educação não mudou nada sob o governo de Piñera. O presidente também não conseguiu se aproximar nem um pouco dos estudantes e colegiais, que desde 2011 protestam nas ruas contra o sistema e travam choques sangrentos com a polícia.

O sistema de educação, quase completamente privatizado sob o regime do ditador Augusto Pinochet (1970-1990), ainda é considerado artigo de luxo. O fardo das altas taxas escolares e universitárias só aumentou para as famílias. Um sistema de educação gratuito e de alta qualidade não existe no país, e muitas vezes os professores têm que esperar meses inteiros para receber seus salários.

Sombras do passado

O sistema de educação não é o último vestígio da ditadura: tanto a Constituição quanto o sistema econômico chileno também datam dessa época – a qual aliás, o Chile só vai reavaliando com muita reticência.

Há algumas semanas, as cerimônias pelos 40 anos do golpe militar ilustraram bem até que grau a sociedade chilena está dividida. O governo de direita organizou uma recepção no Palácio de la Moneda, inclusive com a presença da candidata conservadora Evelyn Matthei. E a oposição esquerdista, liderada por Michelle Bachelet, recebeu seus convidados no Museu de Direitos Humanos, também localizado na capital, Santiago.

A história familiar das candidatas igualmente reflete as contradições da ditadura chilena: enquanto o pai de Matthei era chefe da Força Aérea, o de Bachelet morreu numa prisão militar.

Classe média insatisfeita

Pela primeira vez na história chilena, duas mulheres se candidatam ao cargo mais alto do país. A campanha eleitoral foi intensa e barulhenta. Mesmo assim, somente 43% dos eleitores dizem ter acompanhado com grande interesse a disputa eleitoral. Muitos simplesmente não acreditam mais no alegado engajamento dos políticos. O escritor Roberto Brodsky, que vive no exterior, caracteriza seus conterrâneos como apolíticos e consumistas.

Cientistas políticos constatam no Chile um fenômeno também observável no Brasil: a classe média, que cresceu em número nos últimos anos do boom econômico, não está satisfeita com sua nova realidade de vida nem encontra um interlocutor para suas reclamações.

Porém nem mesmo isso deverá impedir a vitória de Bachelet nesse duelo desigual. Na pior das hipóteses, a ex-presidente terá que disputar ainda um segundo turno com Matthei, antes de retornar ao Palácio de la Moneda.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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