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Capitão Adriano foi morto após abrir fogo, conclui inquérito

Investigadores da Bahia, onde miliciano foi morto em fevereiro, apresentaram nesta quarta-feira a conclusão dos laudos

26 ago 2020 - 13h29
(atualizado às 13h31)
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A Polícia Civil da Bahia apresentou nesta quarta-feira, 26, a conclusão do inquérito sobre a morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, localizado no interior daquele Estado em fevereiro deste ano, após mais de um ano foragido da Justiça do Rio. Acusado de chefiar o Escritório do Crime, grupo miliciano de matadores de aluguel, e também citado no caso das "rachadinhas" no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro, Adriano teria resistido ao mandado de prisão com sete tiros, antes de ser atingido por dois disparos feitos pelos policiais.

Capitão Adriano foi morto após abrir fogo, conclui inquérito
Capitão Adriano foi morto após abrir fogo, conclui inquérito
Foto: IstoÉ

Após produzir todos os laudos e a reprodução simulada do momento da morte, que aconteceu no município de Esplanada, os peritos descartaram qualquer hipótese de que ele tenha sido executado e torturado. O corte na cabeça usado para questionar se ele teria sofrido coronhadas de armas dos policiais seria, na verdade, um machucado produzido após a queda dele, ao bater em algum objeto -que pode ser uma quina da parede, por exemplo.

"Praticamente não tem reação vital. Esse ferimento estaria (se ele estivesse vivo na hora da lesão) bem vermelho. É uma lesão depois dos disparos. O coração não teve força para jogar sangue. Pode ter sido feito no momento em que ele caiu, no momento do socorro. Mas não é, de jeito nenhum, uma lesão feita em vida", afirmou Mário Câmara, diretor do Instituto Médico Legal.

Com base na reprodução daquela manhã de fevereiro, os policiais apontaram como teria sido a dinâmica da tentativa de prisão. Do lado de fora do terreno da casa, os agentes avistaram um homem com os traços físicos de Adriano. Iniciaram, então, o processo de entrada no terreno, cujo caminho até o imóvel tem cerca de 80 metros. O miliciano teria percebido que algo estava acontecendo e entrado na casa.

Um tenente e dois soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais da Bahia (BOPE) se prepararam para cumprir o mandado de prisão, tendo em mãos suas armas, um escudo balístico e um aríete, instrumento usado para arrombar portas. Eles teriam passado um tempo dizendo em voz alta que estavam ali para cumprir o mandado, mas não tiveram resposta de Adriano. Foi quando decidiram invadir.

Com o tenente à frente e os dois soldados atrás, os policiais entraram no imóvel e se depararam com o miliciano já disparando, segundo o perito José Carlos Montenegro, do Departamento de Polícia Técnica. Em pé, Adriano teria dado sete tiros no total, em cerca de cinco segundos. Segundo a polícia, todas as marcas observadas nas paredes da casa foram feitas por balas que pertenciam à pistola Glock do suposto chefe do Escritório do Crime.

Ao perceber que ele não aceitaria ser preso, os agentes do BOPE reagiram. O primeiro disparo foi dado pelo tenente, e o segundo, por um dos soldados. A ideia de um terceiro tiro, supostamente dado à queima-roupa, foi totalmente descartada pelos laudos. Essa impressão foi causada por uma perfuração provocada por um dos dois tiros, que entrou pela costela e percorreu o corpo de Adriano de baixo para cima, até sair pelo pescoço.

As autoridades baianas criticaram, na coletiva de imprensa desta quarta, as imagens não-oficiais divulgadas pouco após a morte - que endossavam a teoria de que ele poderia ter sido executado. A família Bolsonaro, que tem longa relação de homenagens a Adriano e já empregou sua família no gabinete de Flávio na Alerj, defendeu essa tese e divulgou imagens que seriam do corpo dele antes da polícia divulgá-las.

"Não somos polícia de governo, somos polícia de Estado. Nossa preocupação em todo o momento foi verificar se houve ilegalidade na ação policial. Para chegar a essa conclusão (de que não teve), todos os aspectos foram criteriosamente analisados", garantiu o delegado Marcelo Sansão, que comanda a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO).

Toda a ação de cumprimento do mandado e a consequente morte de Adriano durou seis minutos e meio, segundo as investigações. Adriano estava naquela casa desde a noite anterior, um sábado. Até então, havia ficado escondido na fazenda de Leandro Guimarães, homem conhecido por organizar vaquejadas na região. Às 22h, depois de receber a informação de que sua mulher havia sido parada numa blitz a caminho do Rio, pediu para ser levado a outro local.

Para além da relação com a milícia, o caso ganhou repercussão pelo envolvimento de Adriano com a família do presidente Jair Bolsonaro. Sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher, Danielle Mendonça, foram empregadas no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual. São apontadas pelo Ministério Público como "fantasmas" que desviariam seus salários para contribuir com o esquema de "rachadinha", o Caso Queiroz.

Em dezembro do ano passado, o MP apresentou à Justiça conversas entre Adriano e Danielle em que o miliciano foragido afirmava que se beneficiava do esquema em curso no gabinete de Flávio, que seria operado por Fabrício Queiroz. Preso em junho deste ano, Queiroz é parceiro de longa data de Adriano: trabalharam juntos no Batalhão de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, quando eram policiais militares. Eles respondem juntos a um suposto homicídio registrado como "auto de resistência".

A polícia ainda investiga a suposta lavagem de dinheiro praticada por Adriano na Bahia por meio de imóveis e gado. Essa investigação ocorre em parceria com o Rio, que já investigava há anos o miliciano pelo seu envolvimento com o crime.

Estadão
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