Casais inter-raciais que vibraram com união de Meghan e Harry dizem que racismo é diário
Conversamos com casais inter-raciais no Reino Unido que haviam comemorado o casamento real em 2017. Como eles reagiram às acusações de racismo dentro da família real?
Em novembro de 2017, quando o príncipe Harry e Meghan Markle se casaram no Palácio de Kensington, a BBC perguntou a outros casais inter-raciais como eles se sentiam em ver um relacionamento assim ser celebrado dentro da família real britânica — o que até então era inédito.
Alguns descreveram o evento como "emocionante", enquanto outros desejaram que o casamento se firmasse como "um grande exemplo".
Três turbulentos anos depois, o duque e a duquesa de Sussex renunciaram aos deveres reais e começaram uma nova vida com o filho Archie na Califórnia.
Agora, após uma entrevista do casal transmitida nos EUA no último domingo (7/3), em que Meghan relatou à apresentadora Oprah Winfrey o racismo que sofreu como parte da família real, voltamos a algumas das pessoas com quem conversamos em 2017 para ouvir o que elas pensam.
Nossas entrevistadas e entrevistados, todos vivendo no Reino Unido, falam agora em "choque" e "tristeza".
'O racismo está aí'
De nacionalidade francesa, Astrid Guillabeau, de 31 anos, mora em Birmingham com seu parceiro Mike Munyao, também de 31 anos, com nacionalidade do Quênia e de Ruanda. O casal tem dois filhos.
Em 2017, Astrid afirmou que o casamento de Harry com Meghan mostrava "como a família real é diversa e moderna". Mas agora, refletindo sobre os últimos anos, ela notou que "desde o início [a cor de Meghan] sempre foi mencionada" nos discursos públicos — para a francesa, uma repetição desnecessária que talvez demonstrasse um problema maior.
Referindo-se à acusação de Harry de que ele foi questionado por um membro não identificado da família real sobre "quão escura" a pele do seu filho Archie poderia ser, Astrid disse que um comentário assim é "muito racista" e demonstra que a realeza "está descolada do mundo".
"Ouvir as acusações é chocante, mas ao mesmo tempo não é chocante. O racismo está aí. As pessoas tocam nos meus filhos, nos cabelos deles, nos rostos — pessoas estranhas", relata Astrid.
Ela diz que o "preconceito evidente" ao qual a duquesa e o duque de Sussex foram submetidos reflete a desigualdade de uma forma mais ampla.
"Posso ver isso, todos os dias. Não sei se o fato de ter uma filha mestiça me influencia mais, ou porque a maioria dos meus amigos são negros ou porque sou uma francesa morando no Reino Unido", relata.
"É difícil assistir como ela (Meghan) foi tratada. A coisa mais difícil foi ver que ninguém a defendeu."
Para Astrid, Harry e Meghan devem ser apoiados "pelo bem que fizeram e pela esperança que trouxeram para a nossa geração".
'Decepcionante'
Sara Khoo, 26, de origem islandesa e chinesa, e Adam D'hill, 31, português e afro-americano, avaliaram como uma "grande coisa" a chegada de Meghan à família real, quando conversamos com eles em 2017.
Hoje, eles não estão mais em um relacionamento, mas ainda têm contato e falaram conosco por telefone.
Adam diz que o noivado do casal real foi "emocionante" na época.
"Foi bom ver a família real — que normalmente só recebia pessoas brancas de pele clara — ter uma pessoa de cor se casando", diz ele.
Agora, Sara diz que foi "muito, muito triste ver a forma como ela (Meghan) foi tratada" e que as pessoas estão "em negação" sobre a alegação de que a cor da pele de Archie foi um problema.
Para Adam, as acusações apenas confirmaram a desconfiança que já tinha sobre a família real. Já a partida de Meghan e Harry foi para ele "decepcionante".
"É muito triste (algo assim acontecer) com alguém para quem você realmente torce, porque há muita identificação", diz ele. "Meghan era muito pé no chão."