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Caso Flordelis: relatos de abuso sexual marcam o sexto dia de julgamento

Júri pela morte do pastor Anderson do Carmo ocorre desde a última segunda-feira, 7, no fórum de Niterói, no Rio de Janeiro

12 nov 2022 - 22h47
(atualizado às 22h50)
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Julgamento de Flordelis chega ao sexto dia neste sábado, 12
Julgamento de Flordelis chega ao sexto dia neste sábado, 12
Foto: Divulgação/TJRJ

O julgamento da ex-deputada Flordelis dos Santos e Souza chegou ao sexto dia neste sábado, 12, e se aproxima do desfecho. Após os cinco réus - Flordelis, os filhos afetivos André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, a filha biológica Simone dos Santos Rodrigues e a neta da pastora, Rayane Oliveira - serem interrogados, o Ministério Público começou a promover a acusação, por volta das 19h.

Anderson do Carmo, marido de Flordelis, foi morto com mais de 30 tiros, em 16 de junho de 2019. Ele foi alvejado na garagem da residência do casal. Porém, antes do homicídio, segundo a polícia, a vítima sofreu várias tentativas frustradas de envenenamento.

Simone, de 42 anos, foi a última a ser interrogada durante o julgamento que ocorre desde a última segunda-feira, 7, no fórum de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ela é a única ré que tem advogada própria - os outros quatro réus, Flordelis inclusive, são defendidos pela mesma banca.

Durante seu depoimento, ela afirmou se sentir "culpada" pela morte do pastor, por ter incitado o irmão Flávio dos Santos, já condenado por ter disparado os tiros que mataram Anderson do Carmo, a cometer o crime, ao contar para ele sobre os abusos que sofria do pastor. Mas negou ter planejado o crime ou ter pedido ao irmão para que matasse o pastor.

Simone disse que chegou a ser obrigada a fazer sexo com Anderson e que também havia flagrado o momento em que o pastor introduziu o dedo na vagina de uma das filhas dela, Rafaela, numa noite em que Anderson invadiu o quarto onde elas dormiam. Ela afirmou que só teve coragem de conversar com a filha sobre esse episódio após a morte do pastor.

Simone não trabalhava e por isso dependia do dinheiro da família que era controlado pelo pastor. Além do sexo forçado, Simone diz que numa ocasião Anderson chegou a pedir que ela tocasse em seu pênis em troca da entrega do dinheiro pedido para atender uma questão rotineira. Esses episódios de abuso não foram denunciados antes pela ré, segundo ela por "vergonha e medo de expor a família".

Simone afirmou que, ao relatar esses abusos ao irmão Flávio, imaginou que ele fosse agredir o pastor e não matá-lo. Contou ainda que nessa ocasião o irmão pediu a ela a senha do cofre da família, e não disse mais nada.

A filha de Flordelis afirma que, no momento do crime, na madrugada de 16 de junho de 2019, estava com o namorado em um apart-hotel na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), e que foi avisada a respeito por telefone, numa ligação de uma familiar. Então pegou um carro de aplicativo e foi para Niterói - planejou ir para a casa da família, onde o crime foi cometido, mas redirecionou o trajeto para o hospital, onde encontrou os parentes. Ao chegar, segundo ela, soube que o pastor já estava morto.

Quando a família voltou para casa, segundo Simone, Flávio entregou a ela uma camiseta e pediu que ateasse fogo. Ela chegou a perguntar do que se tratava, mas ele não respondeu. Ela foi a um dos banheiros da casa e incendiou a peça de roupa, mas causou muita fumaça, então ela apagou o fogo e jogou a camiseta no lixo.

Simone negou ter planejado o assassinato do pastor e também disse nunca ter tentado envenená-lo - ela é acusada também de tentativas de homicídios, por envenenamento.

A filha de Flordelis mudou sua versão sobre ter entregue R$ 5 mil à irmã Marzy Teixeira para que ela contratasse alguém para matar o pastor, como havia dito em depoimentos anteriores. Segundo ela, a primeira versão foi dita na tentativa de proteger os irmãos.

Planos frustrados

Antes de Simone prestou depoimento a quarta ré no processo, Marzy Teixeira, filha afetiva de Flordelis. Ela endossou relatos de abuso sexual por parte do pastor Anderson do Carmo e admitiu ter participado de planos frustrados para matar o pastor tempos antes de seu assassinato, mas negou estar envolvida com sua morte.

Marzy contou que no passado chegou a planejar o crime e pedir ao irmão Lucas dos Santos para que ele matasse Carmo, mas que o plano não teve sucesso. Lucas já foi condenado por ter comprado a pistola usada por Flávio no assassinato.

Por orientação da defesa, assim como Flordelis e os demais réus, Marzy só respondeu a perguntas da defesa e dos jurados, por intermédio do juízo.

Questionada pelos jurados sobre o que merece um abusador, Marzy foi direta: "a morte". Perguntada se seria melhor denunciar ou matar o pastor, ela demorou a responder, mas disse: "era melhor denunciar, mas, no momento de explosão, eu já tinha decidido matar". A fala de Marzy fazia referência aos planos supostamente frustrados do passado, uma vez que, na sequência, ela voltou a negar envolvimento na trama que levou à morte de Carmo.

O depoimento de Marzy na presença dos sete jurados seguiu a estratégia da defesa, de atribuir o crime a um grupo restrito de filhos de Flordelis, que teria reagido aos supostos abusos de Carmo. A acusação contesta a versão e atribui o mando à Flordelis e o envolvimento de mais filhos.

No início do depoimento, Marzy se disse vítima de abuso sexual na infância pelo irmão da avó biológica. Noutro momento, disse ter sido encurralada por Carmo na cozinha da casa da família adotiva. Na ocasião, ela teria conseguido se desvencilhar, mas teria ouvido do pastor que "era uma gostosa e tinha um corpão".

Em seguida Marzy disse ter visto o pastor abusar de duas das suas irmãs - Anabel, que teria sido acariciada nas pernas, e Simone, que teria tido as calças abaixadas.

Os crimes imputados à ex-deputada são homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, com emprego de meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Os interrogatórios foram encerrados às 18h20 e em breve devem começar os debates entre a acusação e a defesa, que podem se estender por até nove horas. Cada parte tem duas horas e meia para expor sua tese, e em seguida é possível réplica da acusação e tréplica da defesa, de duas horas cada.

Relembre o caso

O crime ocorreu em 16 de junho de 2019, quando o pastor Anderson foi executado a tiros na casa da família, no bairro de Pendotiba, em Niterói. Peritos que examinaram o corpo do pastor identificaram 30 perfurações de balas. Ele foi casado com Flordelis por 25 anos. A pastora era deputada federal pelo Rio de Janeiro, mas foi cassada pelo plenário da Câmara dos Deputados no dia 11 de agosto de 2021.

Outros acusados de participação no crime já foram condenados pela justiça. Em julgamento iniciado no último dia 12 de abril, o Tribunal do Júri de Niterói condenou quatro réus: 

Adriano dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto por uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada; 

- O ex-policial militar Marcos Siqueira Costa foi sentenciado a cinco anos e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado; 

Andrea Santos Maia, mulher de Costa, foi condenada a quatro anos, três meses e dez dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto; 

Carlos Ubiraci Francisco da Silva, filho afetivo de Flordelis, foi condenado pelo crime de associação criminosa armada a dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto, mas depois conseguiu liberdade condicional.

Em novembro de 2021, Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis e denunciado como autor dos disparos que mataram o pastor, foi condenado pelo Tribunal do Júri de Niterói a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. 

Na mesma sessão de julgamento, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis e acusado de adquirir a arma usada no assassinato, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado.

*Com informações do Estadão Conteúdo

Fonte: Redação Terra
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