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Celular de mulher indica 'abrigos' de Queiroz em SP

Dados telefônicos de Márcia de Aguiar mostram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro passou por pelo menos três cidades e endereços ligados a Frederick Wassef

3 jul 2020 - 13h03
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RIO - Dados do celular de Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, ajudam a elucidar onde o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) esteve enquanto o País perguntava sobre seu paradeiro. Apreendido em dezembro do ano passado pelo Ministério Público do Rio, o aparelho da também ex-assessora, foragida há duas semanas com a prisão preventiva decretada, mostra que Queiroz passou por pelo menos três cidades e endereços ligados a Frederick Wassef - ex-defensor do parlamentar e que também se apresentava como advogado do presidente Jair Bolsonaro.

Wassef nunca atuou formalmente para Queiroz e só entrou oficialmente no caso representando Flávio nos autos, em meados de 2019. Em 18 de junho passado, o ex-assessor foi preso num sítio em Atibaia registrado por Wassef como escritório. O advogado alegou que deu abrigo a Queiroz por uma "questão humanitária". Disse também que o fato de o ex-servidor do gabinete de Flávio estar lá não constituía crime, já que o policial aposentado não era considerado foragido. Até então, não havia mandado de prisão contra ele.

Márcia e o suposto operador de Flávio chegaram ao aeroporto de Congonhas, zona sul da capital paulista, em 18 de dezembro de 2018, segundo informações obtidas pelo Ministério Público e às quais o Estadão teve acesso. Poucos dias antes, o jornal havia revelado que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome do ex-assessor.

Queiroz é apontado na investigação do Ministério Público como o operador de esquema de "rachadinhas" - apropriação de parte dos salários dos funcionários - no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. Pouco antes do réveillon, Queiroz passou por cirurgia para tratamento de um câncer no hospital Albert Einstein.

Cerca de dois meses depois, no fim de fevereiro de 2019, o celular de Márcia começou a registrar sua presença no Guarujá, no litoral paulista. Nas fotos do imóvel em que se hospedaram, destaca-se a vista para o mar. Por meio dessas imagens e de informações como conexões em redes de wi-fi, o MP conseguiu construir um mapa de deslocamento da investigada, que passou dez anos empregada no gabinete de Flávio - a suspeita é de que ela seria funcionária "fantasma". O casal deixou registros na praia da cidade e em locais como uma cafeteria.

Casal. Márcia, foragida da Justiça desde o dia 18, e Queiroz, que está preso em Bangu 8
Casal. Márcia, foragida da Justiça desde o dia 18, e Queiroz, que está preso em Bangu 8
Foto: Rede Social / Reprodução / Estadão

Segundo reportagem do Jornal da Band, publicada na semana passada, o apartamento de 200 metros quadrados na praia de Pitangueiras pertence à família de Wassef. O ex-assessor teria chegado lá em dezembro de 2018, antes dos registros observados no telefone de Márcia, conforme relataram moradores à TV.

Ao longo de 2019, Márcia, que morava no Rio, visitou o marido diversas vezes. Depois dos quatro meses em que há indícios seus no Guarujá, foram a Atibaia, no interior paulista. Lá, os registros começam a aparecer em 27 de junho, quase um ano antes da prisão de Queiroz no escritório de Wassef na cidade.

Mesmo com o mistério em torno do seu paradeiro, Queiroz não deixava de ir ao Rio visitar a família ou a São Paulo para compromissos médicos. Num dos trajetos, o casal parou em Aparecida (SP). Apesar da aparente descontração, Márcia dava a entender, em conversas pelo WhatsApp, que Queiroz vivia "no limite" e descontava o estresse nela quando chegava ao Rio. As idas à capital paulista incluíram, em agosto, um passeio pela Rua Augusta. Já no dia 23 de novembro, Márcia recebeu, à meia-noite, uma mensagem de Queiroz dizendo que ele e o filho Felipe estavam no apartamento do "Anjo", como era chamado Wassef nas conversas.

Embora tenha escritório em Atibaia, o advogado vive no Morumbi, zona sul da capital, onde Queiroz chegou a ficar antes de ir para o Guarujá. Com base nessas informações, há indícios de que pelo menos três endereços vinculados a Wassef tenham servido de abrigo para Queiroz.

Em 23 de novembro, conforme os registros, o advogado estava em Brasília, já que o Supremo Tribunal Federal decidia o futuro da investigação sobre as "rachadinhas". Foi no dia seguinte, pela manhã, que Queiroz contou à mulher sobre o plano de Wassef de levar toda a família para se esconder em São Paulo em caso de derrota na Corte, como ocorreu. Márcia considerava um "exagero".

Em nota, Wassef afirmou que Queiroz "nunca passou uma noite em imóvel meu em São Paulo capital". Ele classifica as informações como "clandestinas". "É criminoso este permanente vazamento de peças e informações de processo que tramita em segredo de justiça. As demais informações também são distorcidas da realidade e se transformam em mentiras", escreveu o advogado.

Wassef afirmou ainda que nunca teve o apelido de "anjo". "Nunca criou nenhum plano de esconder Queiroz ou alugar casa para que sua família se mudasse. Não é verdade que ele passou um período de 6 meses direto em Atibaia. Eu apenas autorizei o uso da propriedade para quando Fabrício Queiroz entendesse necessário."

Operação

O celular da mulher de Queiroz foi apreendido em dezembro pelo MP do Rio, quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços ligados a assessores de Flávio. O material capturado no endereço de Márcia inclui anotações com contatos que poderiam ser acionados em caso de emergência (mais informações na página ao lado). Na mesma semana em que Queiroz dormiu na casa do advogado em São Paulo, Márcia dizia que a família estava sendo feita de "marionete" pelo ex-defensor de Flávio. / COLABOROU TÚLIO KRUSE

Estadão
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