Cenário: General Mourão não leva polêmicas para casa
Vice é visto como alinhado com o governo, embora tenha ideias próprias e nenhuma dificuldade em apresentá-las
O vice-presidente Hamilton Mourão, chamado de general pelo presidente Jair, fala o que quer — e pensa, pensa bastante. O jeito aguerrido e o jargão da caserna ficam reservados à composição do tipo marcial oferecido ao público. Aos 65 anos, em boa forma, na reserva do Exército desde fevereiro passado, Mourão teve boas experiências na carreira militar.
Morou em Washington, foi adido em Caracas, cumpriu o curso de Política e Alta Administração, integrou a Missão de Paz da ONU em Angola, chefiou o Comando Militar do Sul e a Brigada de Infantaria de Selva, na Amazônia. Fluente em inglês, fala espanhol e é um leitor — ultimamente esteve atracado com o livro 'Como as democracias morrem'. O perfil intelectualizado não é, entretanto, de um moderado.
Mourão não leva polêmica para casa. Na campanha, sustentou teses como a da sociologia da família "fábrica de desajustados", aquela em que os filhos crescem sem a presença do pai e a possibilidade assustadora de o presidente, sob o risco de um quadro de caos generalizado no País, desfechar "um autogolpe" de Estado, com apoio das Forças Armadas.
Houve mais, e mais sério: coeleito com Jair e seus 58 milhões de votos, disse acreditar na edição de uma nova Constituição produzida por "notáveis", nomeados para esse fim. Ainda assim, ao longo do tempo, o vice defende a obediência à norma constitucional. Na área de costumes e religião, a pauta é ampla, explosiva até, cobrindo desde o aborto, visto por ele como uma decisão pessoal da mulher, à mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém — da qual é crítico.
No círculo dos sete generais que estão no primeiro escalão da administração Bolsonaro, o "amigo Mourão", como se referiu a ele na sexta um desses oficiais, é visto como alinhado com o governo, embora tenha ideias próprias e nenhuma dificuldade em apresentá-las.
"Não há ruído no Planalto, a linha de comando está afinada" afirma um ex-assessor de Mourão, lembrando que os "militares convocados" estão no governo "cumprindo missão", são seguidores, "por formação", da regra da disciplina e da hierarquia. E que o comandante em chefe é Jair Bolsonaro.
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