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Alvo de desinformação, conflito entre Israel e Hamas tem origens em disputa centenária

23 out 2023 - 15h46
(atualizado em 1/11/2023 às 18h43)
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Este conteúdo foi atualizado em 1º de novembro de 2023

O atual conflito entre Israel e Hamas, iniciado em 7 de outubro após ataques terroristas do grupo islâmico em território israelense, já é o mais mortal da história de Gaza e o que mais vitimou israelenses nos últimos 50 anos. As raízes da disputa remontam à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

O conflito tem sido o principal assunto nas redes; junto de imagens gráficas da violência, circula também conteúdo desinformativo que busca causar pânico moral e fomentar a polarização. Boa parte dos posts enganosos e mentirosos desconsidera o cenário político ou omite pontos do conflito.

A fim de explicar o histórico entre Israel e Palestina, Aos Fatos organizou o guia a seguir:

  1. Quais são os desdobramentos mais recentes?
  2. Como começou o conflito atual?
  3. Por que o Hamas atacou Israel?
  4. De que lado está o Brasil?
  5. Que tipo de desinformação sobre o conflito tem circulado?

1. QUAIS SÃO OS DESDOBRAMENTOS MAIS RECENTES?

As Forças de Defesa de Israel fizeram na quarta-feira (1º) o segundo ataque em menos de 24 horas ao campo de refugiados de Jabalia, o maior da Faixa de Gaza, uma área densamente povoada. Israel justificou a investida dizendo que um líder do Hamas se encontrava no local e teria sido morto. Já a ONU chamou o ataque de "atrocidade".

Segundo as Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, 7 reféns morreram, 3 deles estrangeiros, após o ataque israelense contra o campo de refugiados.

Também nesta quarta (1º), Israel anunciou a morte de 15 de seus soldados, suas primeiras baixas desde o início da invasão por terra.

Em outra frente, as Forças Armadas israelenses anunciaram o envio de embarcações com mísseis para reforçar a segurança no Mar Vermelho, um dia após o movimento iemenita Houthi, ligado ao Irã, ter afirmado que continuaria atacando Israel com mísseis e drones.

Também na quarta (1º), os primeiros estrangeiros começaram a deixar Gaza pela fronteira com o Egito, após negociações mediadas pelo governo do Qatar, e o Itamaraty anunciou o resgate de 32 cidadãos brasileiros que estavam na Cisjordânia.

Confira outros episódios do conflito:

  • O Ministério da Inteligência de Israel propôs deslocar os 2,3 milhões de palestinos da Faixa de Gaza para acampamentos na península do Sinai, no Egito, após o fim do conflito. A informação consta em um documento do ministério publicado pela imprensa israelense e confirmado pelo governo de Israel, que disse se tratar de um plano hipotético;
  • Na segunda-feira (30), o Conselho de Segurança das Nações Unidas voltou a se reunir para tratar do conflito entre Israel e o Hamas e, novamente, não chegou a um acordo;
  • Um dia após rejeitar qualquer possibilidade de cessar-fogo, Israel declarou na terça-feira (31) ter atacado homens armados do Hamas dentro do complexo de túneis construído pelo grupo. O Hamas, por sua vez, disse ter disparado mísseis antitanque contra as forças de Israel em Gaza. Nenhuma das informações pode ser checada de forma independente;
  • Também na terça (31), Israel anunciou ter feito ataques aéreos no Líbano contra alvos do movimento xiita Hezbollah, aliado do Hamas que tem investido contra Israel desde o início do confronto;
  • Na segunda (30), Israel anunciou ter atingido mais de 600 alvos em 24 horas e eliminado "dezenas de terroristas" após intensificar as operações na Faixa de Gaza no final de semana anterior, incluindo com o ingresso de tanques. A invasão por terra havia sido anunciada por Netanyahu no último dia 25;
  • O secretário-geral da ONU, António Guterres, reagiu no sábado (28) ao que chamou de "uma escalada sem precedentes de bombardeios" , reforçando o pedido por um cessar-fogo imediato para a entrega de ajuda humanitária aos civis afetados pelo conflito;
  • No dia 24, Guterres já havia condenado as ações de Israel na Faixa de Gaza, o que fez o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, a pedir sua renúncia;
  • Um pedido de trégua humanitária havia sido aprovado na última sexta (27) pela Assembleia Geral da ONU, embora a resolução não tenha poder para impor o cessar-fogo. O placar foi de 120 votos a favor, 14 contrários e 45 abstenções;
  • Na preparação para a invasão de Gaza por terra, Israel cortou a internet do território no último dia 27, deixando a população palestina sem contato com o exterior;
  • No dia 9, as autoridades israelenses já haviam imposto bloqueio total de água, comida e energia em Gaza até que os reféns fossem liberados pelo Hamas;
  • Apesar de Israel ter autorizado, no dia 21, a entrada do primeiro comboio de ajuda humanitária, ela é considerada insuficiente pelos organismos internacionais e, no dia 29, a ONU divulgou que milhares de palestinos haviam saqueado os depósitos de alimentos da sua agência de assistência local, considerando que o incidente demonstra o desespero dos habitantes de Gaza e o colapso da ordem pública;
  • O impacto do conflito sobre os civis tem levantado preocupações sobre a ocorrência de crimes de guerra em Gaza;
  • No dia 17, uma explosão em um hospital de Gaza deixou centenas de mortos e feridos. O Hamas atribuiu a autoria dos ataques a Israel, que negou ter realizado o bombardeio e culpou o grupo extremista Jihad Islâmica pelo incidente, o que não foi confirmado.

2. COMO COMEÇOU O CONFLITO ATUAL?

No último dia 7 de outubro, o grupo extremista islâmico Hamas bombardeou diversas cidades israelenses em uma ofensiva tratada como uma operação de retomada de território. Além de disparar cerca de 2.200 mísseis — número citado por autoridades israelenses —, o grupo invadiu as fronteiras do país, assassinou civis e levou reféns.

Em resposta aos ataques, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que o país estava em guerra e ordenou o bombardeio da Faixa de Gaza. Segundo a ONU, apenas durante a primeira semana de conflito, metade da população de Gaza — quase 1 milhão de pessoas, o equivalente à população de Maceió — foi obrigada a se deslocar.

Imagem de satélite mostra incêndios na Faixa de Gaza após ataques no dia 7 de outubro
Imagem de satélite mostra incêndios na Faixa de Gaza após ataques no dia 7 de outubro
Foto: Aos Fatos

Ataques. Imagens de satélite mostram fogo após ataques no dia 7 de outubro (Pierre Markuse/Wikimedia Commons)

O confronto atual remete a uma disputa de território que já perdura há décadas:

  • Localizada entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, a Palestina é considerada sagrada pelo cristianismo, pelo judaísmo e pelo islamismo. Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o território estava sob domínio do Império Otomano, mas depois foi repassado ao Reino Unido;
  • Durante a Primeira Guerra, os britânicos prometeram aos árabes a criação de um Estado independente e aos judeus a criação de uma nação na Palestina. Isso levou a uma disputa interna entre as duas comunidades durante o controle britânico da região;
  • O movimento sionista ganhou força após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), principalmente em razão do Holocausto;
  • Dois anos após o final da guerra, a ONU propôs, por meio da resolução 181, a criação de dois Estados — um árabe e um judeu — na região, sendo que Jerusalém seria um território separado governado por um regime internacional. A proposta foi aprovada por 33 votos favoráveis, contra 13 contrários e 10 abstenções. Os árabes, no entanto, foram contra a divisão, e o plano nunca foi implementado na prática;
  • Desde então, a região foi palco de diversos conflitos, como a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou a Faixa de Gaza e anexou territórios do Egito e da Síria, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Também houve diversas tentativas frustradas de acordos entre palestinos e israelenses;
  • Em 1994, o Acordo de Oslo — firmado entre Israel e a entidade multipartidária OLP (Organização para a Libertação da Palestina) — cria a ANP (Autoridade Nacional Palestina), para representar um governo de transição até que fosse estabelecido o Estado Palestino. O acordo também previa que Israel iria retirar suas tropas da Cisjordânia e de Gaza, mas isso não ocorreu;
  • A organização islâmica Hamas, criada em 1987, durante o levante palestino contra a ocupação de Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, no entanto, se opôs ao Acordo de Oslo e, desde então, tem realizado ataques contra Israel. Sua principal bandeira é a criação de um Estado islâmico no território e a extinção do Estado de Israel;
  • Desentendimentos entre o Fatah, partido que lidera a ANP, e o Hamas fizeram com que o território palestino se dividisse em duas regiões a partir de 2007 (veja abaixo): a Cisjordânia, governada pela ANP, e a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas;
  • No último dia 15, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, condenou as ações do Hamas e afirmou que o grupo não representa a Palestina;
  • É importante ressaltar que Israel foi responsável por ataques violentos contra a população palestina nas últimas décadas.

4. DE QUE LADO ESTÁ O BRASIL?

No mesmo dia em que ocorreram os primeiros bombardeios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Itamaraty condenaram os ataques do Hamas e disseram que as autoridades deveriam evitar a escalada do confronto.

O posicionamento não foi bem recebido pelas autoridades israelenses. O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, por exemplo, disse que o governo deveria ter sido mais duro e responsabilizado o grupo extremista. O presidente da Conib (Confederação Israelita no Brasil) também criticou o fato de o Executivo não considerar o Hamas um grupo terrorista.

Segundo o próprio governo, o Hamas não é classificado internamente como organização terrorista porque o Brasil segue as avaliações do Conselho de Segurança da ONU. Vale ressaltar, no entanto, que Lula chamou de "terroristas" os ataques ocorridos no dia 7 de outubro.

Lula é, historicamente, um defensor da causa palestina — foi em seu governo, por exemplo, que o Brasil reconheceu oficialmente o Estado Palestino e instalou uma Embaixada na Cisjordânia. Apesar de integrantes do Hamas já terem demonstrado simpatia pelo presidente brasileiro em outros momentos, não há qualquer relação entre Lula e o grupo extremista.

Durante o conflito atual, Lula tem se posicionado em defesa do cessar-fogo e de estratégias que garantam a segurança de civis:

  • Em discurso no dia 25, o presidente classificou o conflito no Oriente Médio como um genocídio. "Não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2.000 crianças que não têm nada a ver com essa guerra, são vítimas dessa guerra", disse;
  • O Brasil, que preside o Conselho de Segurança da ONU em outubro, propôs uma resolução que pedia o cessar dos ataques para permitir o acesso de ajuda humanitária e a fuga de civis inocentes;
  • Colocada para votação no dia 18, a proposta recebeu votos favoráveis de 12 países, mas foi vetada pelos Estados Unidos, aliado histórico de Israel. O país é um dos cinco membros do conselho com poder de veto — além de China, Rússia, França e Reino Unido;
  • No dia 14, em conversa com o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, Lula ressaltou mais uma vez a importância da criação de um corredor humanitário e da libertação dos reféns;
  • No dia 12, o petista conversou com Isaac Herzog, presidente de Israel, e disse ter "condenado os ataques terroristas" e feito um "apelo por um corredor humanitário para que as pessoas que queiram sair da Faixa de Gaza pelo Egito tenham segurança". Lula disse ainda ter se colocado à disposição para ajudar nas negociações de paz;
  • No dia 11, Lula publicou um apelo para que o Hamas libertasse as crianças israelenses feitas de reféns e que Israel cessasse os bombardeios para permitir a fuga de jovens e mulheres palestinos;
  • Em seu primeiro posicionamento após os ataques, o presidente conclamou a comunidade internacional a trabalhar pela solução do conflito para garantir "a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados";
  • Na sexta-feira (27), Lula voltou a comentar o conflito durante café da manhã com jornalistas, declarando que nem todo palestino é militante do Hamas e que mulheres e crianças "são as grandes vítimas desta guerra". Também acusou Netanyahu de querer "acabar com a Faixa de Gaza".

Foto mostra homem descendo de avião sorrindo e mostrando bandeira de Israel
Foto mostra homem descendo de avião sorrindo e mostrando bandeira de Israel
Foto: Aos Fatos
Mapa mostra território atual da Palestina e de Israel
Mapa mostra território atual da Palestina e de Israel
Foto: Aos Fatos
Mapa mostra divisão territoral na Palestina proposto pela ONU
Mapa mostra divisão territoral na Palestina proposto pela ONU
Foto: Aos Fatos

Repatriados. Governo federal trouxe de volta ao país brasileiros que estavam em Israel; estrangeiros que estavam em Gaza começaram a ser retirados pelo Egito (Paulo Pinto/Agência Brasil)

5. QUE TIPO DE DESINFORMAÇÃO SOBRE O CONFLITO TEM CIRCULADO?

Desde o início dos conflitos, as redes foram tomadas por conteúdos de desinformação. No Brasil, peças de desinformação têm usado a disputa no Oriente Médio inclusive para reforçar a polarização política: diversas publicações enganosas desmentidas por Aos Fatos tentam relacionar o presidente Lula ou partidos de esquerda ao Hamas, sugerindo, por exemplo, que o governo teria feito doações ou acordos com o grupo extremista.

Outras estratégias desinformativas que têm viralizado são as que usam imagens descontextualizadas para gerar engajamento. Esse é o caso de posts que compartilham registros de crianças e bebês vítimas de violência armada e de publicações que se apropriam de gravações antigas de outros conflitos e até cenas de videogame.

Veja abaixo o que o Aos Fatos desmentiu sobre o assunto até o momento:

Referências

1. G1 (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15)

2. Ansa Brasil

3. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5 e 6)

4. UOL (1, 2, 3, 4, 5 e 6)

5. O Globo (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7)

6. RFI

7. Agência Brasil (1, 2, 3, 4 e 5)

8. O Estado de São Paulo (1 e 2)

9. ONU News

10. CNN Brasil (1, 2, 3, 4, 5 e 6)

11. BBC (1, 2, 3, 4 e 5)

12. X (@ForensicArchi)

13. Estado de Minas

14. Folha de S.Paulo (1, 2, 3 e 4)

15. Al Jazeera

16. Britannica (1 e 2)

17. História do Mundo

18. X (@LulaOficial 1, 2, 3 e 4)

19. Governo federal (1 e 2)

20. Conib

21. The Washington Post

22. Reuters

23. Veja

Aos Fatos
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