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Biópsia é segura e importante para tratamento do câncer; é mentira que exame cause metástase

EM VÍDEO, MÉDICO COMPARTILHA CONCEITO ANTIGO E SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DE 'ONCOTAXIA INFLAMATÓRIA'; ELE NÃO RESPONDEU AO CONTATO

31 jan 2025 - 09h55
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O que estão compartilhando: em um vídeo, homem diz que se uma mulher tem um nódulo e passar por uma biópsia, o procedimento pode causar uma inflamação que irá atrair células cancerosas para a região, causando uma metástase. Segundo ele, o processo poderia até mesmo tornar um tumor benigno em maligno.

Captura de tela da postagem enganosa
Captura de tela da postagem enganosa
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Médicos consultados pelo Verifica reafirmam a segurança da biópsia e o seu papel central para o diagnóstico e o tratamento do câncer. Hoje sabe-se que as células inflamatórias contribuem para combater o tumor, como ocorre no tratamento de imunoterapia, mecanismo que rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a pesquisadores em 2018.

O Verifica não conseguiu contato com o homem que fala no vídeo.

Saiba mais: As afirmações são feitas pelo médico Lair Ribeiro, que não possui especialização em câncer e já teve vários conteúdos desmentidos pelo Verifica. No vídeo, ele descreve o fenômeno de inflamação causada pela biópsia como "oncotaxia inflamatória", que teria sido descoberto recentemente. Ele ainda deslegitima a biópsia afirmado que a intervenção "não ajuda em nada", servindo apenas para satisfazer uma "curiosidade" médica. Ele dá a entender que se refere ao câncer de mama.

Os especialistas consultados pelo Verifica explicam que o conceito de oncotaxia inflamatória - que levanta a hipótese de que um processo inflamatório possa resultar na migração de células cancerosas para outras partes do corpo - é antigo, da década de 1970, e nunca foi comprovado cientificamente.

Em relação à alegação checada aqui, o Estadão Verifica ouviu sete médicos de diferentes especialidades relacionadas ao tratamento do câncer. Todos foram unânimes em descartar o risco atribuído à biópsia por Ribeiro. O Colégio Brasileiro de Radiologia (CRB), especialidade envolvida diretamente na biópsia, também confirmou a segurança do exame.

Biópsia é segura e essencial no tratamento do câncer

Os especialistas afirmam que a biópsia é segura, diferentemente do que afirma o vídeo. "Fazer uma biópsia, que é um procedimento extremamente importante e necessário, não causa absolutamente nada do que foi dito no vídeo", disse o oncologista Pedro Exman, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

"Não existe qualquer processo biológico em que um tumor benigno, ao passar por uma biópsia, se torna um tumor maligno. Ou que correlacione a biópsia à origem de uma metástase. Falar isso é falta de conhecimento oncológico básico", completou.

Segundo os médicos ouvidos pelo Verifica, a biópsia é crucial para o tratamento do câncer. "Não só para confirmar se é ou não um tumor, mas para saber o seu tipo e detalhes de histoquímica e padrões moleculares que direcionam para o tratamento mais adequado", explicou o oncologista Fernando Maluf, do Hospital Albert Einstein.

Ele afirma que a biópsia não oferece nenhum dano no sentido de causar uma maior disseminação do câncer, piorar a biologia ou mudar o seu padrão de agressividade. "Essas afirmações são uma inverdade, uma fake news que deve ser fortemente combatida", acrescentou Maluf.

O médico Eduardo Carvalho Pessoa, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional São Paulo, explica que a biópsia é um procedimento minimamente invasivo, que permite coletar pequenas amostras de tecido para análise laboratorial.

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Graças à técnica, detalha Pessoa, é possível determinar se um nódulo é benigno ou maligno sem a necessidade de uma cirurgia, além de permitir um diagnóstico preciso e mais rápido, o que é essencial para um tratamento bem-sucedido.

"A biópsia é um procedimento seguro, eficaz e amplamente utilizado na medicina moderna", reforçou Pessoa. "Estudos demonstram que não há aumento do risco de recorrência ou piora do prognóstico em mulheres que realizam o exame antes do tratamento??".

O Colégio Brasileiro de Radiologia (CRB) se manifestou no mesmo sentido. "Biópsias minimamente invasivas e guiadas por exames de imagem resolvem hoje a maioria dos dilemas diagnósticos rapidamente e de forma segura, reduzindo o número de intervenções maiores e de maior risco e acelerando as tomadas de decisão", disse o CRB.

O exame de biópsia, segundo o oncologista Sergio Roithmann, do Hospital Moinhos de Vento, orienta tratamentos anteriores à cirurgia que melhoram a chance de cura do paciente. No caso de mamografia seguida de biópsia, ele afirma que o procedimento reduz em até 50% a mortalidade do câncer de mama.

"Nos hospitais, nós fazemos diagnósticos de lesões muito iniciais, com chances de cura de mais de 90%", diz Roithmann.

Oncotaxia: conceito sem comprovação científica

Além de rechaçarem qualquer relação entre "oncotaxia inflamatória" e biópsia, os médicos ouvidos pelo Verifica explicam que o próprio conceito de oncotaxia inflamatória carece de comprovação científica.

O professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP) Harley Francisco de Oliveira explica que o conceito tem origem em um artigo de 1978. O mecanismo descrito no estudo aponta que processos inflamatórios podem atrair células cancerosas para regiões do corpo distantes do ponto inicial em que o câncer se desenvolveu em um organismo.

"Isso foi bastante questionado e essa hipótese não se sustentou ao longo do tempo", explicou Oliveira.

O oncologista Fernando Maluf também afirma não haver comprovação científica sobre a oncotaxia inflamatória. "Este não é um conceito sólido, comprovado, e não faz parte da rotina de nenhum dos maiores centros de tratamento de câncer do mundo", disse.

Sérgio Roithmann vai na mesma linha: "Este conceito foi definido a partir da descrição de raros casos clínicos e até hoje não existe nenhuma evidência que se trate de um mecanismo importante ou clinicamente significativo na disseminação de um câncer".

Infecções podem combater tumores

Roithmann chama atenção para um fenômeno por meio do qual um processo inflamatório, ao contrário do que sugere o conceito de oncotaxia, contribui para combater tumores.

"É o que acontece na imunoterapia, um dos maiores avanços no tratamento de câncer", explicou. "Nele, as células imunológicas e inflamatórias são ativadas para combater os tumores".

A descoberta do mecanismo rendeu aos pesquisadores James Allison e Tasuku Honjo o Prêmio Nobel de Medicina em 2018. O site da Academia Sueca informa que a manipulação adequada do sistema imunológico do corpo provou ser possível controlar ou eliminar o câncer em dezenas de milhares de pacientes, e cita exemplos de casos concretos.

A médica patologista Francine Hehn de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Genética e Biologia Molecular do Hospital Moinhos de Vento, explica que mesmo a inflamação causada por uma biópsia é benéfica para o tratamento do câncer.

"Toda vez que uma intervenção é feita no organismo, por menos invasiva que seja, há um processo inflamatório para reparar aquela área", explicou a médica.

"As células inflamatórias são responsáveis pela cicatrização e, neste caso, no ponto em que é feita a biópsia, onde há um tumor, as células inflamatórias, além de atuarem na cicatrização, tentam combatê-lo".

"As células fazem uma reação inflamatória para combater o tumor e não o contrário, para estimular o tumor", acrescentou a mastologista Maira Caleffi, dos Hospital Moinhos de Vento. "Há um direcionamento das células inflamatórias para combater o tumor, mas às vezes essa reação inflamatória não é o suficiente".

Estadão
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