Bolsonaro engana ao dizer que criou Pix e que bancos perderam R$ 30 bi com pagamento instantâneo
MODALIDADE COMEÇOU A SER DESENVOLVIDA EM 2018; RECEITA DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS CAIU R$ 5 BILHÕES; EX-PRESIDENTE FOI PROCURADO MAIS NÃO RESPONDEU
O que estão compartilhando: um vídeo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no qual ele diz que durante o seu governo foi criado o Pix e que o sistema de pagamento instantâneo faz os bancos perderem R$30 bilhões por ano.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. O Pix, sistema de pagamento instantâneo, foi desenvolvido pelo equipe técnica do Banco Central (BC) em 2018, durante a gestão de Michel Temer. Em um período de 5 anos (de 2019 a 2023), a receita com tarifas de "serviços de conta corrente", como "pacotes de serviços", TEDs e outras cobranças do tipo dos cinco principais bancos do País caiu R$ 5 bilhões de reais.
O Verifica procurou a assessoria do ex-presidente, mas ele não respondeu.
Saiba mais: No dia 15 de janeiro, Bolsonaro postou um vídeo em seu perfil no Instagram sobre o sistema de pagamento instantâneo, o Pix. Em determinado momento, ele diz: "Em 2020, em plena pandemia, nós criamos o auxílio emergencial. Mais de 40 milhões de pessoas se beneficiaram e passaram a ter conta em banco. Ato contínuo, em novembro de 2020, nós criamos o Pix via Banco Central sem qualquer taxa". Mais adiante, ele diz que, com o sistema de pagamento instantâneo, as pessoas deixaram de fazer transferências via TED ou DOC e com isso "os bancos perderam quase R$ 30 bilhões por ano". O vídeo com as informações enganosas acumula 9,1 milhões de visualizações.
Pix começou a ser desenvolvido em 2018
As alegações feitas por Bolsonaro no vídeo que viralizou no Instagram foram checadas antes. Em agosto de 2022, o Projeto Comprova, iniciativa colaborativa entre veículos de comunicação com o objetivo de verificar a veracidade de informações que viralizam nas redes sociais, mostrou que era enganoso um tuíte que alegava que Bolsonaro criou o Pix e que o modelo de pagamento retirou bilhões de reais dos bancos em cobrança de taxas.
Naquela época, a verificação explicou que, embora tenha sido lançado em novembro de 2020 (durante a gestão do então presidente Bolsonaro), o conceito do Pix surgiu em 2016 e o sistema começou a ser preparado em 2018, durante a administração de Michel Temer.
Como mostrou o Estadão, em maio de 2018, seis meses antes da eleição em que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, o Banco Central instituiu o grupo de trabalho Pagamentos Instantâneos.
O relatório da administração do Banco Central de 2018 informa que o BC definiu os requisitos fundamentais que estabelecem a política institucional para o desenvolvimento do sistema de pagamentos instantâneos.
Em 5 de outubro de 2020, quando começou o cadastro da chave Pix, um mês antes de o sistema ser oficialmente lançado no País, Bolsonaro alegou desconhecer o Pix. A declaração foi dada na saída do Palácio da Alvorada, quando um apoiador do presidente o parabenizou pela nova medida. Bolsonaro respondeu que não tinha conhecimento sobre o assunto.
Bancos não perderam R$ 30 bilhões
Também é enganosa a alegação de que os bancos perderam quase R$ 30 bilhões relacionados às cobranças de taxas para transferências, via TED e DOC. De acordo com levantamento feito pelo jornal Valor Econômico, em um período de cinco anos (de 2019 a 2023), os cinco maiores bancos tradicionais do País - Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander - perderam R$ 5 bi em receita de tarifas de "serviços de conta corrente", como "pacotes de serviços", TEDs e outras cobranças do tipo.
Ainda de acordo com a reportagem, quando se leva em conta o efeito da inflação, a perda em cinco anos chega a R$ 14 bilhões. Mesmo assim, a cifra está longe dos R$ 30 bilhões por ano, valor alegado por Bolsonaro.
Alegações semelhantes à de Bolsonaro no vídeo viral foram desmentidas pelo Aos Fatos.