É falso que governo do Japão tenha nomeado vacina da covid como 'droga mais mortal da história'
DESINFORMAÇÃO COMEÇOU A SER ESPALHADA DEPOIS QUE O PAÍS SE TORNOU O PRIMEIRO A APLICAR UM NOVO TIPO DE IMUNIZANTE; MINISTÉRIO DA SAÚDE JAPONÊS CONSIDERA TECNOLOGIA SEGURA
O que estão compartilhando: que o Japão teria "nomeado oficialmente" as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19 de "medicamento mais mortal da história da medicina".
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Postagens nas redes sociais repercutem uma coletiva de imprensa feita por quatro pessoas contrárias a uma nova geração de imunizantes chamados de "replicon". Nenhum dos participantes - um político, uma jornalista e dois professores universitários - representa o governo japonês. O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão diz que a segurança das vacinas foi atestada em laboratório e nos testes clínicos. O imunizante passou a ser aplicado em outubro no país asiático.
Dentre os participantes está o professor Yasufumi Muramaki. Ele foi selecionado para um programa de bolsas da Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC), entidade criada em abril de 2020 que defende tratamentos não aprovados e ineficazes para o tratamento da covid-19. Outras pessoas ligadas à entidade já foram alvo de checagens do Estadão Verifica (leia mais aqui).
Vacinas de mRNA replicon tiveram segurança comprovada em testes
Em 1º outubro, o governo japonês iniciou uma nova campanha de vacinação contra a covid-19 que deve se estender até março de 2025. O jornal The Japan Times informou que estão disponíveis cinco imunizantes, incluindo um novo tipo chamado vacina replicon. O Japão é o primeiro país a implementá-la. O fabricante diz (confira aqui) que ela possui a vantagem de requerer uma dose menor e oferecer proteção mais duradoura que as vacinas de mRNA padrão.
A novidade, porém, gerou uma onda de desinformação no país. Um dos boatos falsos é o de que os vacinados poderiam infectar pessoas não vacinadas transmitindo componentes do vírus através dos fluidos corporais. Isso fez com que alguns estabelecimentos proibissem a entrada de vacinados em suas instalações, como relatou o jornal Asahi.
A hipótese de que a vacina replicon pode infectar pessoas não vacinadas por meio de contato carece de evidências científicas e foi refutada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão. "Para a aprovação farmacêutica, a segurança foi revisada com base nos resultados de testes em animais e ensaios clínicos. Foi confirmado que não houve grandes diferenças na segurança em comparação com as vacinas de mRNA existentes", destacou a pasta.
Matéria do The Japan Times sobre a reação negativa da vacina replicon no país entrevistou o professor assistente de geriatria na Escola de Medicina Icahn no Mount Sinai, em Nova York, Yuji Yamada. Ele explicou que não há possibilidade de a vacina causar a transmissão do vírus, porque a composição dela é formada apenas por RNA mensageiro que produz proteínas spike no corpo do próprio vacinado. Essa proteína não tem capacidade para causar infecção, mas serve para ensinar as células do corpo a reconhecer a presença do coronavírus, vírus causador da covid-19.
Artigo publicado na revista científica The Lancet, em 16 de novembro, alertou para a importância de combater a desinformação associada à vacina de replicon. A tecnologia poderá ser usada futuramente para combater outras doenças.
Casos adversos com vacinas são extremamente raros. No Brasil, eventos supostamente atribuíveis à vacinação contra a covid-19 que foram classificados como graves, fatais ou não, foram 1,1 casos notificados a cada 100 mil doses, de acordo com nota do Ministério da Saúde, enviada ao Estadão Verifica.
Procurada pelo Verifica, a embaixada do Japão no Brasil disse que não iria comentar o conteúdo, mas orientou as pessoas a procurarem fontes oficiais para se informarem e citou como exemplo o site do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão.
O Verifica mostrou que eram falsas as alegações de que vacinas contra a covid-19 tenham provocado a morte de 17 milhões e que mataram mais pessoas que '121 bombardeios nucleares em Hiroshima'.