É falso que mensagens no celular de Mauro Cid mostrem que Bolsonaro rejeitou golpe
POSTAGEM DISTORCE CONTEÚDO DE MENSAGEM SOBRE EX-PRESIDENTE NÃO QUERER TROCAR MINISTRO DA DEFESA
O que estão compartilhando: que mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid mostram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) rejeitou o plano para aplicar um golpe de Estado no Brasil.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Os relatórios da investigação da Polícia Federal e as mensagens obtidas no celular de Mauro Cid indicam, na verdade, que Bolsonaro sabia do plano de golpe, que "enxugou" o texto da minuta do decreto golpista e que tinha conhecimento dos planos para envenenar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e explodir o ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
O post investigado distorce o conteúdo de outra conversa obtida pela Polícia Federal (PF). Em uma troca de mensagens com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, o general Mário Fernandes, ex-Secretário Geral da Presidência, disse que havia conversado com Bolsonaro sugerindo que ele trocasse o ministro da Defesa para que tivesse mais apoio.
Segundo Fernandes, Bolsonaro teria respondido que não trocaria o ministro. "Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe", teria sido a resposta do então presidente.
Ainda de acordo com as conversas obtidas pela PF, menos de um mês depois, em 8 de dezembro, Mário Fernandes entrou em contato com Mauro Cid relatando que Bolsonaro havia dito que o melhor dia [para o plano golpista] seria 12 de dezembro. Cid respondeu que o ex-presidente esperaria para ver os apoios que teria.
O Verifica procurou a assessoria de imprensa de Bolsonaro, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Segundo a PF, o texto original da minuta pedia novas eleições, além das prisões dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O Estadão mostrou que, ao alterar o texto, Bolsonaro manteve apenas a prisão de Moraes.
No ofício enviado em 14 de novembro deste ano ao STF, a PF voltou a dizer que Bolsonaro participou da escrita do decreto. Segundo a Polícia Federal, os diálogos no celular de Mauro Cid sobre um monitoramento do ministro Alexandre de Moraes começaram em dezembro de 2022, seis dias depois de "o então Presidente da República Jair Bolsonaro ter 'enxugado' o decreto e ter se reunido com o Comandante do COTER, general Estevam Cals Theophilo, no dia 09/12/2022, com a finalidade de consumar o Golpe de Estado".
Dois dias antes, segundo a PF, em 7 de dezembro, houve uma reunião entre Bolsonaro e os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, "para apresentação da minuta do golpe de Estado".
Bolsonaro rejeitou trocar ministro, não plano de golpe
Para alegar que Jair Bolsonaro foi contra a tentativa de golpe de Estado que o manteria no poder, mesmo perdendo as eleições, a postagem enganosa distorce uma mensagem enviada pelo general Mário Fernandes, ex-Secretário Geral da Presidência, para Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, conhecido como Caveira.
Na ocasião, Fernandes pedia que Marcelo Câmara conversasse com os comandantes das Forças Armadas e com o próprio Bolsonaro para que ele aproveitasse as oportunidades que surgiam. O ex-Secretário Geral da Presidência chegou a dizer que sugeriu a Bolsonaro trocar de ministro da Defesa, para que tivesse mais apoio. Segundo a PF, o tema das mensagens era um ataque ao sistema eleitoral.
A PF coletou mais mensagens de Mário Fernandes, desta vez dirigidas a Mauro Cid, a partir do início de dezembro de 2022. Ele cobrava que Cid falasse com Bolsonaro para agir em relação ao golpe, já que várias oportunidades já teriam sido perdidas. Segundo ele, o próprio Bolsonaro teria dito que o dia 12 de dezembro não seria um problema, mesmo sendo o dia da diplomação de Lula como presidente eleito.
"Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades", disse Fernandes.
Mauro Cid responde: "Não, pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais passar. Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12, mas com certeza não vai acontecer nada".