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É falso que neve registrada na África do Sul tenha sido causada por 'inversão dos polos'

FENÔMENO EM REGIÕES DE ALTITUDE NA CIDADE DO CABO É RARO, MAS NÃO INÉDITO; COMUNIDADE CIENTÍFICA APONTA QUE NÃO HÁ LIGAÇÃO ENTRE INVERSÃO DOS POLOS MAGNÉTICOS DA TERRA COM MUDANÇAS CLIMÁTICAS

25 jul 2024 - 10h40
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O que estão compartilhando: postagem questiona se um registro de neve no Parque Nacional da África do Sul teria sido causado pela "inversão dos polos" e pelo "fim dos tempos".

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso porque o vídeo foi gravado em um safári, na Cidade do Cabo, em que a ocorrência de neve é rara, mas não é inédita. Segundo a hospedagem onde foi feito o registro, a nevasca durou poucas horas e ocorreu apenas nas áreas elevadas e montanhosas da região. O evento ocorreu em 8 de julho, mês de inverno no país. Especialistas explicaram à reportagem que não há evidências de que efeitos magnéticos no planeta estejam relacionados às mudanças climática.

Saiba mais: Postagem compartilha vídeo em que animais andam em meio à neve no Parque Nacional da África do Sul e afirma que o fenômeno é causado por conta da "inversão dos polos", mas isso não é verdadeiro. A gravação foi feita por hóspedes de um safári na Cidade do Cabo, próximo à montanha Table Mountain Ridge, no dia 8 de julho, mês de inverno no local. Apesar de ser raro o fenômeno na capital, a neve já foi registrada outras vezes em áreas de grande altitude.

A hospedagem onde foi feita a gravação compartilhou o vídeo em seu site. A gravação também foi republicada no jornal Daily Mail, no dia 18 de julho. O registro foi feito por visitantes que foram surpreendidos pela neve, que durou cerca de duas horas. Segundo o safári, a última vez que foi testemunhada neve como essa no local foi em julho de 2018. No mês de inverno na África do Sul, são esperadas temperaturas frias, chuvas e condições de neve na Cidade do Cabo.

Não há evidência de coorelação entre inversão dos polos e mudanças climáticas

O conteúdo analisado questiona se a neve no país africano ocorreu por conta da "inversão dos polos magnéticos da Terra", mas não não há evidências disso. Especialistas disseram à revista National Geographic em 2023 que é uma teoria da conspiração a ideia que mudanças geomagnéticas influenciariam as mudanças climáticas.

A inversão de polos é uma mudança de orientação dos polos magnéticos do planeta. O campo magnético da Terra é formado pelo movimento no núcleo externo e líquido do globo (uma camada do planeta que fica acima do núcleo interno e abaixo da crosta e da manta terreste). Essa movimentação causa variações ao longo do tempo, segundo explicação da estudiosa Daniele Caldeira Brandt, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).

"Os geomagnetistas chamam de polo norte magnético aquele que está posicionado próximo do polo norte geográfico, onde o campo geomagnético aponta verticalmente para baixo, e chamam de polo sul magnético aquele que está próximo ao polo sul geográfico, onde o campo aponta para cima", disse a especialista. "A transição entre uma polaridade e outra é chamada de inversão dos polos magnéticos da Terra ou reversão geomagnética. Isto ocorre em intervalos irregulares no tempo, sendo que a última aconteceu há 780 mil anos".

De acordo com a professora, estamos observando uma queda na intensidade do campo geomagnético, e por isso algumas pessoas desconfiam de uma reversão dos polos. "Porém, quando olhamos para os dados paleomagnéticos, vemos que o campo já passou por períodos ainda mais fracos e, mesmo assim, não inverteu sua polaridade", afirmou. "Isso nos faz crer que as mudanças observadas nos últimos séculos referem-se apenas a flutuações que ocorrem naturalmente no campo".

"Não sabemos quando irá ocorrer a próxima inversão dos polos, mas sabemos que será um fenômeno muito lento e gradativo (ao longo de milênios) e, portanto, não há com o que se preocupar", complementou.

Diferentemente do que sugere o conteúdo analisado, não há comprovação científica de correlação entre uma possível inversão dos polos e o aquecimento global. "A reversão diz apenas ao campo magnético. Não há relação com a inclinação do eixo de rotação do planeta. A Terra continua se movendo da mesma forma e as estações do ano continuam existindo, enquanto o campo geomagnético varia", esclareceu Daniele.

"É muito improvável que haja ligação entre os eventos, pois a escala temporal das reversões (do campo magnético) é muito maior que o tempo das mudanças climáticas que temos observado", acrescentou.

Segundo o professor Jefferson Cardia Simões, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor titular de Geografia Polar e Glaciologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o fenômeno da neve na África do Sul não tem ligação com as mudanças nos polos magnéticos do planeta. "Apesar de ser raro, a neve no país já ocorreu várias vezes. É sempre bom lembrar que pode nevar em várias latitudes, principalmente quando frentes fria avançam sobre a América do Sul e o sul da África", afirmou.

Como lidar com posts do tipo: É comum que sejam compartilhados conteúdos conspiratórios sobre mudanças climáticas. Portanto, é importante pesquisar em fontes confiáveis sobre o assunto, antes de acreditar em publicações nas redes sociais. O Estadão Verifica já mostrou ser consenso científico que o aquecimento atual está acontecendo em ritmo acelerado devido à influência humana.

Estadão
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