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Entenda o que significa o símbolo triangular com números em embalagens plásticas

POSTAGENS AFIRMAM QUE O INDICADOR ESTARIA RELACIONADO À 'TOXICIDADE', MAS SERVE PARA ORIENTAÇÃO DE DESCARTE SELETIVO E DE IDENTIFICAÇÃO DE MATERIAIS

31 jan 2025 - 11h37
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Uma postagem viral no Instagram alega que embalagens de comida feitas com plásticos têm um indicador numérico de toxicidade. O conteúdo afirma que recipientes com as numerações 1, 2, 4 e 5 são seguras para o consumo humano. Já recipientes com 3, 6 e 7 seriam prejudiciais à saúde. Mas não é bem assim. Para explicar o que significa o símbolo citado e possíveis danos ao corpo humano, o Estadão Verifica consultou especialistas no assunto. Leia abaixo.

Símbolo não tem relação com informação toxicológica

O símbolo triangular com indicação numérica citado no vídeo serve para orientação de descarte seletivo e de identificação de materiais, de acordo com definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclarece que o símbolo não está relacionado a informações toxicológicas ou classificação de risco. Veja abaixo o significado de cada identificação:

1: Politereftalato de etileno (PET);2: Polietileno de alta densidade (PEAD); 3: Policloreto de vinila (PVC); 4: Polietileno de baixa densidade (PEBD); 5: Polipropileno (PP); 6: Poliestireno (PS);7: Outros (material não especificado nos itens anteriores).Legislação define parâmetros para migração de substâncias

O conteúdo especifica que embalagens numeradas com 3 (PVC) conteriam ftalatos, que, segundo a postagem, alterariam hormônios. Em seguida, o autor comenta que embalagens com o número 6 (PS) liberariam estireno, que seria "comprovadamente cancerígeno". Por fim, afirma que o 7 significa que o recipiente é feito de policarbonato e liberaria Bisfenol A (BPA) na comida. Neste último caso, cabe ressaltar que o indicador 7 se refere a "outros materiais", embora o policarbonato esteja incluso na categoria.

De acordo com Simone Carvalho, assessora técnica da Associação Brasileira da Indústria Plástica (Abiplast), o estireno dá origem ao Poliestireno, material usado em produtos como copos, pratos, talheres e potes para iogurtes. O ftalato, explica, é um tipo de plastificante para o PVC, utilizado, por exemplo, em bolsas de sangue.

Ela ressalta, no entanto, que todos os materiais em contato com alimentos seguem uma regulação que dispõe sobre limites seguros. Ao Verifica, a Anvisa explicou que substâncias presentes nos materiais em contato podem migrar para os alimentos e, por isso, são regulamentadas.

"Para garantir a segurança, a Anvisa estabelece requisitos específicos para regulamentar o uso desses materiais. Em relação à migração de substâncias, a legislação define parâmetros de migração total, migração específica e composição dos materiais", explicou, em nota à reportagem.

A especialista ressalta que o malefício é diferente de uma substância que tem ação tóxica, por exemplo. "Não é imediatamente após o consumo. Isso, muitas vezes, pode aparecer até na outra geração. Os desreguladores [endócrinos], de forma geral, incluindo BPA e ftalatos, não têm uma atividade semelhante à atividade tóxica".

Apesar de ser permitido na fabricação de embalagens plásticas em contato com alimentos, a Anvisa não permite a presença do BPA na composição de mamadeiras ou artigos semelhantes destinados à alimentação de lactentes. A regra foi estabelecida na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 56, de 16 de novembro de 2012.

Segundo a agência, estudos recentes levantaram dúvidas quanto à segurança do BPA. "Segundo os especialistas, devido à considerável incerteza relacionada com a validade e relevância destas observações referentes a baixas doses de BPA seria prematuro afirmar que estas avaliações fornecem uma estimativa realista do risco à saúde humana", afirmou a Anvisa, em nota. A proibição é uma medida de segurança adotada por alguns países, inclusive o Brasil.

O BPA é permitido para outras aplicações e segue limites máximos de migração para o alimento estabelecidos pela legislação. Os limites, segundo explicado pela Anvisa, seguem resultados de estudos toxicológicos.

Especialistas avaliam que risco carcinogênico de estireno é baseado em evidências limitadas

Outro possível dano à saúde mencionado na gravação seria o câncer. A postagem afirma que o estireno, presentes em embalagens com indicação 6, seria "comprovadamente cancerígeno".

À reportagem, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) explicou que a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês) classifica o estireno como "possivelmente carcinogênico para humanos".

Apesar disso, explicou a nota, essa classificação é baseada em evidências limitadas em humanos e em estudos com exposições ocupacionais por inalação, e não por contato oral por meio de embalagens de alimentos.

A Sboc ressaltou que as concentrações de estireno liberadas por embalagens de poliestireno aprovadas para uso alimentar estão abaixo dos limites considerados seguros de agências como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e da própria Anvisa.

"Enquanto há evidências de que o poliestireno pode ter efeitos adversos à saúde, incluindo potencial carcinogênico, a exposição através de embalagens de alimentos parece apresentar um risco baixo, de acordo com as avaliações de risco atuais. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender completamente os riscos associados à exposição a longo prazo", avaliou.

Recomendações para uso de plásticos

A médica nutróloga Eline de Almeida Soriano, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, afirma que adotar alternativas mais seguras é uma prática recomendada para minimizar esses riscos, embora os possíveis danos à saúde não sejam imediatos.

"Os riscos são agravados pelo contato frequente e inadequado, como aquecer alimentos em embalagens plásticas ou armazenar alimentos gordurosos por longos períodos", explicou.

A endocrinologista Elaine aconselha algo semelhante. A especialista afirma que é importante evitar acondicionar alimentos na geladeira em plásticos ou esquentá-los no micro-ondas no recipiente.

Apesar de evidências limitadas sobre efeitos adversos em humanos, a Sboc também sugere evitar situações que aumentem a liberação de estireno. Como alternativa, aconselha embalagens feitas de materiais alternativos, como vidro ou aço inoxidável.

Cabe ressaltar que, de acordo com a assessora técnica da Abiplast, a liberação de ftalatos, estireno ou BPA ocorre apenas quando as embalagens apresentam elementos residuais. Simone reforça, no entanto, que essa migração deve estar dentro dos limites seguros especificados pelas Resoluções de Diretoria Colegiada da Anvisa.

Estadão
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