Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Estudo contrário a vacinas contra covid tem método falho e se baseia em dados não confirmados

EFEITOS MAIS COLATERAIS DOS IMUNIZANTES SÃO LEVES, COMO DOR DE CABEÇA E FEBRE; RISCO DE COÁGULOS É RARÍSSIMO E MUITO MENOR SE COMPARADO AO RISCO CAUSADO PELA PRÓPRIA INFECÇÃO PELO CORONAVÍRUS

18 nov 2024 - 13h03
Compartilhar
Exibir comentários

O que estão compartilhando: que um estudo científico teria mostrado que as vacinas contra a covid-19 aumentam o risco de derrame cerebral.

Estudo não encontrou relação de causalidade entre vacinas constra Covid-19 e derrames cerebrais
Estudo não encontrou relação de causalidade entre vacinas constra Covid-19 e derrames cerebrais
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O estudo em questão foi publicado por um médico conhecido por difundir desinformação sobre vacinas. A análise usa dados de um sistema dos Estados Unidos no qual qualquer paciente pode notificar possíveis efeitos adversos, sem que haja comprovação da causa deles. De acordo com um especialista ouvido pelo Verifica, a associação feita no estudo entre vacinas e derrame não significa que uma é consequência da outra.

Os dados disponíveis sobre as vacinas mostram que elas são muito seguras. Os efeitos colaterais mais comuns das vacinas, segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), são leves, como dor no local da injeção e dor de cabeça. Pesquisas publicadas em revistas científicas confiáveis indicam que o risco de AVC após a vacinação contra a covid é raríssimo, e muito mais baixo se comparado ao risco causado pela infecção da doença.

Saiba mais: Uma postagem no Instagram informa que os autores de um artigo científico exigiram a proibição global e imediata das vacinas contra a covid-19 devido ao aumento de coágulos cerebrais. Porém, o estudo não prova que há associação entre os imunizantes e coágulo cerebral. Na verdade, os dados disponíveis atualmente indicam que as vacinas contra covid são muito seguras. Os efeitos adversos mais comuns são leves, como dor no local da aplicação da injeção, dor de cabeça, cansaço e febre.

Um estudo publicado na revista científica Journal of Neurology. Neurosurgery & Psychiatry mostrou que AVCs podem ocorrer após a vacinação contra a covid-19, mas o risco é muito maior ao contrair a própria doença. Segundo essa pesquisa, AVCs ocorreram em 1,4% dos casos de infecção por covid. Outro estudo, publicado na revista Neurology, indicou um risco muito mais raro de AVC após a imunização: 4,7 casos a cada 100 mil vacinas aplicadas.

Em relação a coágulos cerebrais, o que os cientistas encontraram é que ocorrem de forma raríssima, e estão mais associados à infecção por covid do que à vacina. Uma pesquisa indicou que o risco de coágulos causado pela doença é 10 vezes maior do que o risco causado pela vacina.

O que diz o artigo citado na postagem

O artigo "Vacinas contra covid-19: Fator de Risco para Síndromes Trombóticas Cerebrais" (Covid-19 Vaccines: A Risk Factor for Cerebral Thrombotic Syndromes) buscou descobrir se houve aumento no risco de derrame cerebral em pacientes que receberam a vacina contra a covid-19. Publicado em 1º de novembro, ele foi escrito por Claire Rogers, James A. Thorp, Kirstin Cosgrove e Peter A. McCullough. Desde o início da pandemia da covid-19, McCullough tem promovido informações falsas sobre o tratamento da doença e as vacinas de mRNA. Inclusive, ele foi alvo de checagem do Verifica.

Os autores analisaram os dados de acidente vascular cerebral que constam no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS, na sigla em inglês),ao longo de 34 anos, de 1º de janeiro de 1990 até 31 de dezembro de 2023. A série histórica corresponde a um total de 408 meses.

Eles contaram quantos derrames foram notificados nesse período após a implementação de três grupos distintos de imunizantes:

vacinas contra a covid-19vacinas contra a gripetodas as outras vacinas (exceto o imunizante contra covid-19)

As vacinas contra a covid-19 foram observadas por 36 meses, porque a campanha de vacinação nos Estados Unidos, onde o estudo foi realizado, iniciou em dezembro de 2020. Nos outros dois grupos de vacinas, as observações foram feitas considerando o período total, de 408 meses.

Os autores do artigo contaram 5.137 casos de tromboembolismo cerebral em 36 meses após as vacinas contra covid-19. Considerando o período de 408 meses, eles encontraram 52 casos de derrame para as vacinas contra a gripe e 282 casos para todas as outras vacinas. Porém, eles não consideraram que:

A própria covid pode aumentar o risco de derrame cerebral;O sistema de notificação reúne dados de suspeitas de eventos adversos, não de efeitos colaterais comprovados;Como o VAERS é alimentado por dados enviados por pacientes e médicos, a facilidade do acesso à internet pode ter ajudado a aumentar o número de registros;Existem muitos dados que comprovam a segurança das vacinas.Artigo não prova que vacinas causam derrames

O coordenador da Rede Análise, um coletivo dedicado à divulgação científica, Isaac Schrarstzhaupt analisou, a pedido do Verifica, a credibilidade do estudo. "Parece mais um texto de opinião escrito para gerar pânico do que um artigo", avaliou ele. "Em termos metodológicos, o artigo é falho, porque não faz ajustes de possíveis vieses".

Ele explica que, nos 36 meses em que os autores observaram um aumento no número de notificações de derrame, ocorreram outros eventos que aumentam o risco de derrame, como por exemplo, a disseminação da própria covid. Isso foi ignorado pelos autores.

"Tem infinitos artigos que mostram o risco de derrame por covid, porque é uma doença que tem efeito no aparelho circulatório", explicou. "No mínimo, os autores teriam que ter analisado se as pessoas do estudo pegaram ou não covid. Mas eles consideram apenas o sexo e a idade delas, o que deixou o resultado enviesado'.

Schrarstzhaupt explica que o que os autores buscaram fazer é conhecido como inferência causal — descobrir se uma exposição (nesse caso, vacinas contra covid-19) causou um desfecho (nesse caso, derrames). Porém, o que os autores encontraram foi uma associação estatística entre as duas variáveis, o que não significa que uma é consequência da outra.

Por exemplo, cita ele, existe também uma associação entre um maior consumo de sorvete e o aumento de ataques de tubarão. Mas isso não significa que o consumo de sorvete causa ataques de tubarão. Há um fator subjacente que influencia as duas variáveis desse exemplo: o verão. As temperaturas mais altas incentivam as pessoas a se refrescarem com sorvete. Simultaneamente, o clima mais quente e as férias escolares levam um maior número de banhistas a visitarem praias e entrarem no mar, aumentando a probabilidade de encontros com tubarões.

VAERS reúne notificações não confirmadas

O VAERS é uma ferramenta do CDC dos Estados Unidos para farmacovigilância. Ela se assemelha com o VigiMed aqui do Brasil. Nelas, qualquer pessoa pode reportar algo que tenha sentido após tomar um medicamentos ou uma vacina. Os dados coletados não mostram efeitos colaterais, mas sim levantam suspeitas sobre reações, que só serão confirmadas após passarem por um processo de investigação.

Por exemplo, o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em junho de 2023, informou que houve 4.458 mortes notificadas associadas à vacina contra a covid-19. No entanto, após revisão das avaliações de causalidade, apenas 50 tiveram relação causal com a vacinação. Isto significava na época, 0,013 casos a cada 100 mil doses aplicadas.

No boletim a síndrome de trombose com trombocitopenia (STT) - caracterizada pela formação de coágulos de sangue, o que pode acarretar o entupimento de veias e artérias - consta entre os eventos raros associados à vacina contra a covid-19, assim como hipersensibilidade graves, eventos de pericardite e miocardite e síndrome de Guillain-Barré.

Schrarstzhaupt observa que a frequência de notificações recebidas pelo VAERS nos 34 anos analisados no artigo pode ter passado por oscilações ao longo do tempo. "Eu acredito que para notificar no VAERS em 1990 a pessoa não tinha um computador ou um celular em casa, talvez ela tivesse que ir até um serviço de saúde. Não era tão fácil como é hoje", disse ele.

Outra explicação para o aumento de notificações de derrame no VAERS nos últimos 36 meses da série histórica do artigo pode ter sido ocasionado pela quantidade de informações falsas e enganosas que circularam sobre as vacinas no período. Isso pode ter estimulado as pessoas a reportarem mais, avalia Schrarstzhaupt.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade