Governo Bolsonaro usou, sim, aviões da FAB e cartão corporativo, ao contrário do que diz Marçal
ALEGAÇÕES FALSAS FORAM FEITAS EM ENTREVISTA A UM PODCAST, QUE VIRALIZOU NAS REDES SOCIAIS; O CANDIDATO NÃO RESPONDEU AO CONTATO E O PODCASTER DECLAROU QUE 'SE HOUVE O USO E NÃO CRITICARAM FOI PORQUE O USO FOI NORMAL'
O que estão compartilhando: um vídeo em que o candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) afirma que o governo de Jair Bolsonaro (PL) passou quatro anos sem usar os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Na mesma gravação, o podcaster Nilson Castro diz que o ex-presidente não usou o cartão corporativo.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Há diversos registros de uso de aeronaves da FAB por Bolsonaro, e ministros do governo dele e até familiares (aqui, aqui e aqui). A própria FAB registrou o primeiro voo oficial de Bolsonaro em janeiro de 2019. Na ocasião, a aeronave presidencial partiu de Brasília (DF) para Zurique, na Suíça, onde a comitiva presidencial participou do Fórum Econômico Mundial.
Os gastos com o cartão corporativo da presidência da República durante a gestão de Bolsonaro somaram ao menos R$ 27,6 milhões até o início de 2023, incluindo despesas em hotéis de luxo e com gastos pessoais, como sorvetes e cosméticos. As informações foram obtidas pela Fiquem Sabendo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
O Verifica procurou Marçal, que não respondeu. Já o podcaster alegou ter repetido o que foi dito pela imprensa e acrescentou que "se houve o uso e não criticaram foi porque o uso foi normal".
Saiba mais: as alegações foram feitas em um trecho de um programa transmitido no YouTube e compartilhado via Instagram e WhatsApp. Ao longo da gravação, Marçal e Castro elogiam o governo Bolsonaro, afirmando que ele fazia economia de gastos; Marçal declara que "os caras ficaram quatro anos sem usar os aviões da FAB", ao que Castro acrescentar que "o cara não usou o cartão corporativo".
Ainda em 2019, Bolsonaro admitiu o uso de um helicóptero da FAB por parentes que foram ao casamento de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no Rio de Janeiro.
Em janeiro de 2020, o Estadão noticiou que, até aquele momento, 13 ministros do governo Bolsonaro haviam utilizado os jatos da FAB para deslocamentos ao exterior. O campeão de uso era o chanceler Ernesto Araújo, que havia viajado 22 vezes, seguido de Ricardo Salles (Meio Ambiente), Osmar Terra (Cidadania), Tereza Cristina (Agricultura) e Fernando Azevedo (Defesa) - três viagens cada um.
Vídeo em que Bolsonaro diz que a PF desmentiu 'caso das joias' tem indícios de IA
Trecho de julgamento de Bolsonaro circula sem contexto; ação não impacta inelegibilidade
Os aviões da FAB aparecem, ainda, na polêmica das joias sauditas durante o governo passado. Como divulgou o Estadão, Jairo Moreira da Silva, primeiro-sargento da Marinha, foi enviado ao aeroporto de Guarulhos em um avião da FAB para retirar as joias retidas na Receita Federal. A solicitação do voo foi feita pelo tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. A viagem de Silva tinha como objetivo "atender a demandas do Senhor Presidente da República naquela cidade".
Em 2021, a Folha de S.Paulo noticiou que ministros do governo Jair Bolsonaro levaram parentes, pastor e lobistas em voos da FAB. Os dados foram repassados ao jornal também via LAI.
No site da FAB é possível identificar todos os registros de voos realizados por ano, que incluem a informação sobre a autoridade que o solicitou.