Lula teve cérebro operado por neurocirurgiões, não por cardiologista
NÃO FOI ROBERTO KALIL FILHO QUEM FEZ CIRURGIAS NO PRESIDENTE; COMO ELE É MÉDICO DO PETISTA, APENAS ACOMPANHOU OS TRATAMENTOS DE SAÚDE
O que estão compartilhando: que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma cirurgia no cérebro com um médico que é cardiologista. Além disso, não raspou o cabelo nem a barba e saiu andando e dando entrevista dois dias depois.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O cardiologista Roberto Kalil Filho e a infectologista Ana Helena Germoglio são médicos de Lula e, por isso, acompanham os tratamentos de saúde aos quais ele é submetido. No entanto, os dois procedimentos feitos no petista nos últimos dias 10 e 12 de dezembro, após ele apresentar sangramento cerebral, foram conduzidos por neurologistas.
Embora a entrevista coletiva após a cirurgia do dia 10 tenha sido conduzida por Kalil no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, foram os neurologistas Marcos Stávale, Rogério Tuma e Mauro Suzuki quem decidiram pelo procedimento e explicaram o que eles fizeram no presidente durante a cirurgia. A primeira intervenção foi feita no dia 10 e durou cerca de duas horas: uma trepanação craniana para drenar o hematoma no cérebro.
Dois dias depois, em 12 de dezembro, o presidente foi submetido a um procedimento complementar conhecido como embolização cerebral. Neste caso, o responsável foi o neurorradiologista intervencionista José Guilherme Caldas.
Como já mostrou o Verifica, ambas as intervenções permitem uma recuperação rápida, e a alta do presidente, no sexto dia após a intervenção, ocorreu dentro do esperado. Lula mostrou, em entrevista ao Fantástico, que raspou parte do cabelo para fazer as cirurgias.
Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) disse que os "procedimentos médicos realizados pelo presidente foram amplamente detalhados pela equipe médica responsável por meio de boletins médicos e entrevistas coletivas" e lamentou a "disseminação de informações falsas, teorias conspiratórias e achismos com o intuito de desinformar a população".
O autor da publicação no Threads não permite o envio de mensagens pela rede social.
Saiba mais: O presidente passou mal na noite do dia 9 de dezembro, em Brasília, e foi submetido a uma cirurgia no dia seguinte em São Paulo. Desde então, publicações nas redes sociais colocam em dúvida a veracidade do problema de saúde e da realização das cirurgias.
Desta vez, um post alega que a cirurgia no cérebro de Lula foi feita por um cardiologista. A publicação também põe em dúvida o procedimento ao questionar a rapidez da recuperação e dizer que não houve raspagem do cabelo, nem da barba.
Porém, como mostram as imagens da entrevista concedida por Lula ao Fantástico após receber alta, no dia 15, o presidente teve, sim, parte do cabelo raspado, do lado esquerdo, justamente no local da intervenção. De qualquer forma, para a cirurgia não há necessidade que todo o cabelo seja raspado, segundo explicou um neurologista ao Verifica.
Lula foi operado por neurocirurgiões
A primeira cirurgia feita em Lula foi uma trepanação craniana, na madrugada do dia 10 de dezembro, no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo. Nessa intervenção, são feitos pequenos orifícios no crânio onde são introduzidos drenos - no caso do presidente, apenas um dreno foi inserido. O termo técnico é trepanação, e não craniotomia, porque o segundo é usado para aberturas maiores na cabeça.
"[A trepanação] é um procedimento relativamente padrão em neurocirurgia, não é uma abertura, uma violação do crânio importante, e cursa, geralmente, com a cicatrização espontânea dessa abertura, sem necessidade nenhuma de uma outra intervenção futura para fechamento", explicou o neurocirurgião Mauro Suzuki, um dos médicos que operaram o presidente. Ele é o diretor clínico do Sírio-Libanês em Brasília, para onde Lula foi levado logo após se sentir mal, no dia 9.
O responsável por conduzir a cirurgia foi o também neurocirurgião Marcos Stávale, que falou sobre a trepanação em entrevista coletiva no dia 10 de dezembro. "A cirurgia não foi muito longa, em torno de duas horas", afirmou. "O sangramento estava situado entre o cérebro e a membrana meníngea, chamada dura-máter. Ele comprimia o cérebro, ele foi removido, o cérebro está descomprimido e ele está com as funções neurológicas preservadas".
Quem também participou das decisões sobre a cirurgia e do próprio procedimento foi o neurologista Rogério Tuma, que disse que o sangramento foi decorrente da queda sofrida por Lula no dia 19 de outubro. "Isso pode acontecer meses depois. Ele já tinha absorvido o primeiro sangramento e aí acabou tendo um segundo, mas é tudo provavelmente consequente à queda", disse na entrevista coletiva.
O cardiologista Roberto Kalil Filho e a infectologista Ana Helena Germoglio acompanharam a cirurgia. Germoglio, médica oficial do presidente, o acompanhou desde Brasília. Kalil recebeu Lula no aeroporto logo que ele chegou a São Paulo e também foi com o presidente de ambulância até o hospital.
Segundo procedimento foi feito por neurorradiologista intervencionista
No dia 12 de dezembro, às 7h, o presidente passou por um segundo procedimento, complementar ao primeiro, chamado de embolização cerebral. Nele, é inserido um cateter pela artéria femoral do paciente, por onde se passa uma microguia que faz o cateterismo da artéria meníngea média. O Verifica já mostrou que este procedimento reduz em até 30% a chance de recorrência no sangramento.
Na entrevista coletiva realizada no dia 12 de dezembro no Hospital Sírio-Libanês, o cardiologista Roberto Kalil Filho informou que o neurorradiologista intervencionista José Guilherme Caldas havia feito o procedimento e pediu que ele explicasse o que foi feito.
"O procedimento é feito da seguinte forma: o que importa é acabar com o sangue que chega perto do hematoma, é o que a gente injeta é como se fosse uma gelatina, uma partícula, na verdade, que entope esse vaso. Como a artéria mede em torno de 1mm, os cateteres são bem fininhos. É um procedimento relativamente simples", disse.
Em entrevista ao Verifica esta semana, o também neurorradiologista intervencionista Renato Tosello explicou que é comum que pacientes possam andar 24 horas após a realização da embolização cerebral, o que também ocorreu no caso do presidente.
Durante a entrevista coletiva no dia 15 de dezembro, após receber alta hospitalar, o presidente disse ao neurologista Marcos Stávale que seguiria suas recomendações para a recuperação e também afirmou que o próprio Stávale havia feito os curativos na cabeça.