Não, Haddad não disse que 'taxar os pobres' é mais 'lucrativo' porque seriam 98% da população
CONTEÚDO FEITO COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL UTILIZA IMAGENS FEITAS APÓS VISITA A LULA, EM SÃO PAULO, E CLONA VOZ DO MINISTRO DA FAZENDA PARA INCLUIR DECLARAÇÕES QUE NÃO FORAM DITAS
O que estão compartilhando: que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que gosta de taxar os pobres, porque eles são 98% da população brasileira e, assim, o lucro será maior.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O conteúdo foi criado com uso de inteligência artificial para imitar a voz do ministro. No vídeo original, feito em 16 de dezembro de 2024 após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receber alta hospitalar depois de uma cirurgia no crânio, Haddad falava sobre o que havia conversado com o presidente. O conteúdo foi transmitido ao vivo pela CNN.
Em nenhum momento ele falou sobre gostar de taxar os pobres, nem que eles deveriam parar de reclamar. Também é falso que 98% da população brasileira seja formada por pobres: o dado mais recente, divulgado em dezembro do ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corresponde a 2023 e mostra que 27,4% da população brasileira vivia na pobreza naquele ano - em 2022, eram 31,6%.
Saiba mais: o conteúdo investigado foi postado originalmente no TikTok, mas a conta responsável não foi localizada. Depois, ele se espalhou em outras redes, como o Threads e também passou a circular pelo WhatsApp. Leitores do Verifica podem pedir a checagem de conteúdos pelo WhatsApp pelo número (11) 97683-7490.
Vídeo tem características de deepfake
O conteúdo que viralizou nas redes sociais mostra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, supostamente afirmando que gosta de taxar pobres porque eles são 98% da população brasileira e dariam mais "lucro". Ele também parece opinar que não seria justo taxar 2% de milionários.
O conteúdo mostra o ministro afirmando que a população mais pobre não poderá comer carne, mas pagará mais caro por fígado, asa, pé de galinha e abóbora. A fala termina com o ministro supostamente pedindo que os pobres parem de reclamar. Mas, embora uma leitura labial dê a entender que o ministro realmente falou essas palavras, nada disso foi dito por ele.
Por meio de uma busca reversa de imagens, o Verifica localizou o vídeo original usado para produzir o conteúdo falso. Trata-se de uma entrevista concedida por Haddad no dia 16 de dezembro do ano passado. Ele visitou o presidente Lula, que havia recebido alta após passar por uma cirurgia na cabeça, em São Paulo.
Há vários elementos no vídeo original que mostram que as imagens são as mesmas usadas no vídeo falso: a parede rosa de uma casa que aparece ao fundo; carros estacionados na rua; um poste com o fundo de três placas do lado direito da cabeça do ministro; e um motociclista de camisa roxa que passa ao fundo, aos 0:15 segundos do vídeo manipulado.
O Verifica submeteu o áudio à ferramenta Hiya, da plataforma InVid, que analisa a presença de conteúdo gerado por inteligência artificial. A ferramenta apontou uma faixa média de detecção de IA de 66% para clonagem de voz.
O que Haddad fala no vídeo original?
O conteúdo original, da CNN, começa com o ministro dando uma entrevista após visitar o presidente Lula. Ele diz:
"Está absolutamente tranquilo. Falamos sobre vários assuntos, expus para ele a situação da reforma tributária, o estado da arte, o que está para ser decidido pela Câmara agora em caráter definitivo. Também tratamos das questões, das medidas fiscais, também apresentei pra ele os relatores, como é que a gente está tentando encaminhar, a necessidade de votação essa semana, e aí alguns projetos das reformas microeconômicas também que precisam ser votados essa semana. Então, eu dei o quadro para ele desses três blocos de medidas, coloquei ele a par também da situação de cada uma delas tanto no Senado quanto na Câmara para que ele pudesse eventualmente julgar a conveniência de tomar alguma providência, dar algum telefonema tranquilizador pra acelerar as coisas e estou voltando para Brasília porque tem muito trabalho lá".
O restante do vídeo não foi usado. Ele tem pouco mais de cinco minutos de duração, mas não há nenhum trecho que inclua as palavras utilizadas no vídeo desinformativo.