O que é clickbait? Aprenda a identificar conteúdos que atraem cliques, mas frustram leitores
POSTAGENS CAÇA-CLIQUES USAM MANCHETES EXAGERADAS E APELATIVAS PARA GERAR ENGAJAMENTO; ESPECIALISTAS ALERTAM PARA AUMENTO DE DESINFORMAÇÃO E POLUIÇÃO DO AMBIENTE ONLINE
Se você já clicou em um link atraído por um título que despertou sua curiosidade, mas o conteúdo não entregou o que prometia, saiba que essa é uma experiência comum na internet. Nenhum usuário está imune à estratégia conhecida como clickbait — caça-clique ou isca de clique, na tradução literal para o português — que visa exatamente isso: gerar acesso a sites por meio de chamadas atraentes, conduzindo o usuário a páginas que não têm a informação anunciada.
O uso do sensacionalismo como estratégia para chamar a atenção de leitores não é exclusivo do ambiente digital. No entanto, foi na internet que essa prática se intensificou. A disputa pela atenção dos usuários recorre à manipulação de informações e ao uso de dados descontextualizados ou falsos. Nesta reportagem, o Verifica detalha quais são as características de um clickbait, seus riscos e como identificá-los.
Clickbait e a busca por visualizações
O clickbait está presente em diversas plataformas, como redes sociais e sites. A estratégia também é comum em sites que se passam por veículos jornalísticos, mas que têm como principal objetivo gerar engajamento e receita por meio de cliques.
De acordo com a professora de Direito Yasmin Curzi, pesquisadora no Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi a economia digital que produziu a expansão do uso do clickbait. Ao Verifica, a professora explicou que nos primeiros anos da internet comercial, com o crescimento de plataformas como o Google, começaram a surgir novas formas de monetização.
"Um dos modelos mais populares foi o de pagamento por clique (PPC - Pay Per Click), que recompensa os sites toda vez que um usuário clica em um link, anúncio ou banner", disse.
No contexto das redes sociais, a pesquisadora comentou que o uso de clickbait foi potencializado nas plataformas devido à disputa por tráfego. O conteúdo sensacionalista atrai mais atenção na linha do tempo dos usuários.
Segundo Curzi, plataformas como Facebook, X e Instagram passaram a priorizar conteúdos que geram mais engajamento, como cliques, curtidas, compartilhamentos e comentários, o que favorece o uso do clickbait. "Esse tipo de conteúdo sensacionalista ou ultrajante é justamente o que produz mais números", afirmou.
A professora comenta que mesmo veículos de imprensa tradicionais estão sujeitos a esse modelo de negócios centrado na busca por visibilidade. Curzi pontuou que, nesse contexto, até mesmo a mídia consolidada passou a criar títulos e imagens que chamassem a atenção instantaneamente, para competir com páginas sensacionalistas.
Os clickbaits podem apresentar algum risco?
Na explicação de Yasmin Curzi, seguir um clickbait pode resultar em riscos para a segurança do computador ou celular, ou até mesmo acabar em prejuízos financeiros. A pesquisadora da FGV afirma que, muitas vezes, ao "morder a isca", o usuário se depara com uma página que solicita informações pessoais ou pede para fazer um download. Isso pode resultar em golpes ou na instalação de vírus.
"A recomendação é que se leia a URL completa do link, especialmente o nome de domínio, aquela parte que vem entre o 'www' ou o 'https://', e o seu endereço final, se é '.com', '.org', '.gov'. Para sites oficiais do governo, por exemplo, o final é sempre '.gov'.", orientou.
Outro risco da proliferação dos clickbaits é o aumento do compartilhamento de desinformação. O sociólogo e professor da FGV Victor Piaia comentou que a tendência é que esses caça-cliques se espalhem ainda mais.
Ele chamou atenção para o cansaço que esse ambiente poluído gera aos usuários, e como isso pode afetar a leitura de conteúdos jornalísticos. Para o professor, ainda que as pessoas consigam distinguir os clickbaits do jornalismo, os dois tipos de conteúdo estão no mesmo mercado de visibilidade informacional no ambiente digital.
"Quando você gera um ambiente poluído, degradado, pouco confiável, que não tem como objetivo a informação, de certa forma o jornalismo está disputando esse espaço e aí você tem mais uma dificuldade para a circulação de notícias que são efetivamente instrutivas, apuradas, ou seja, que tem um trabalho jornalístico sério por trás", elaborou Piaia.
Para Curzi, há mecanismos psicológicos que fazem com que os clickbaits chamem mais a atenção das pessoas, de forma geral, seja despertando mais curiosidade, trazendo medo ou dialogando com emoções.
"Esse conteúdo sempre vai ser mais chamativo, se não tivermos educação midiática capaz de fazer com que as pessoas entendam como e quando estão sendo manipuladas para acessarem esse tipo de conteúdo", afirmou a professora.
O que fazer ao se deparar com um clickbait?
Yasmin Curzi explicou que não há uma legislação específica para coibir o uso de clickbaits, mas é possível enquadrar essa prática em outras normas.
"O artigo 37 do CDC [Código de Defesa do Consumidor], por exemplo, proíbe a publicidade enganosa, ou seja, qualquer mensagem publicitária que induza o consumidor ao erro sobre produtos ou serviços", afirmou a professora de Direito.
Isso significa que, se um caça-clique promete algo que o conteúdo não entrega, ou se for manipulado de forma a enganar o consumidor, ele pode ser considerado publicidade enganosa, sujeitando o infrator a uma penalidade.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD - Lei nº 13.709/2018) também pode se aplicar aos clickbaits, especialmente quando eles envolvem a coleta de dados pessoais do usuário de maneira indevida. Curzi explicou que a LGPD regula como as empresas devem tratar os dados pessoais, incluindo o armazenamento, o uso e o compartilhamento de informações.
"Se um clickbait resultar em coleta de dados pessoais (por exemplo, ao forçar o usuário a fazer login ou preencher formulários para acessar conteúdo), a LGPD exige que haja consentimento explícito do usuário para que esses dados sejam utilizados", esclareceu a pesquisadora.
Além da legislação, o órgão de autorregulação da publicidade no Brasil, o Conar, estabelece diretrizes éticas e orientações para campanhas publicitárias e possui canal de denúncias para peças em desacordo. Também é possível denunciar o conteúdo ou página ao Procon, em casos de publicidade enganosa ou risco ao consumidor.
