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Post edita reportagem do 'Fantástico' para alegar inocência de Bolsonaro em trama golpista

VÍDEO NO INSTAGRAM CORTA TRECHO EM QUE GENERAL MÁRIO FERNANDES DISSE TER FALADO COM BOLSONARO SOBRE NECESSIDADE DE 'AGIR O QUANTO ANTES'; EX-PRESIDENTE FOI INDICIADO, MAS AINDA AINDA NÃO FOI JULGADO

25 nov 2024 - 17h21
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O que estão compartilhando: que áudios divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 24, confirmam a inocência de Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de golpe de Estado.

Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O post selecionou apenas 39 segundos de uma reportagem de 17 minutos de duração. A publicação enganosa não mostra um trecho em que o general da reserva Mário Fernandes diz ter conversado com o ex-presidente sobre a necessidade de "agir o quanto antes". O militar acrescenta que Bolsonaro teria dito que qualquer ação poderia ser feita até 31 de dezembro de 2022.

Vale reforçar que Bolsonaro só será considerado culpado ou inocente depois de julgado. Ele não é réu até este momento. O ex-presidente e outros 36 foram indiciados pela Polícia Federal (PF) na semana passada pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O inquérito será ainda analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se apresenta uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O autor do post enganoso foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta checagem. Nesta segunda-feira, 25, Bolsonaro publicou um texto em que afirma que a cogitação e a preparação do delito, exceto em casos previstos em lei, não é punível no Brasil.

Saiba mais: O Fantástico mostrou conversas entre o general da reserva Mário Fernandes e um oficial do Exército que não teve o nome divulgado. No primeiro trecho, o oficial diz ser contra jogar dentro das "quatro linhas da Constituição", porque estão "em guerra" e "eles estão vencendo".

O segundo trecho mostra o general Mário Fernandes se queixando de Bolsonaro não ter assinado o decreto do golpe, enquanto o oficial pergunta se vão esperar o Brasil virar uma Venezuela para "virar o jogo".

A postagem enganosa não mostra um trecho da conversa em que Fernandes diz ter falado com Bolsonaro sobre a necessidade de agir o quanto antes, porque muitas oportunidades já teriam sido perdidas. Ele diz, no áudio, que Bolsonaro disse que qualquer ação poderia ser feita até 31 de dezembro de 2022.

Postagens retiram trecho de conversa de contexto

Desde que veio à tona a apreensão de uma minuta para o golpe na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, ainda em janeiro de 2023, apoiadores de Bolsonaro têm argumentado nas redes sociais que o ex-presidente não tinha participação ou conhecimento na suposta trama golpista.

Nos últimos dias, após a prisão de quatro militares e um policial federal por supostamente planejarem um golpe de Estado que envolvia os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes, mais postagens começaram a circular procurando afastar Bolsonaro do caso.

De acordo com esses posts, a inocência de Bolsonaro seria provada pelo fato de outros militares se queixarem da falta de ação e de ele não ter assinado o "decreto do golpe". Esses posts omitem outros trechos das trocas de mensagens reveladas pela PF. Em uma das conversas, entre Mário Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid, o ajudante de ordens do ex-presidente diz que ele "tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera para ver até onde vai, ver os apoios que tem".

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Trecho de reportagem foi editado em vídeo viral

A reportagem completa do Fantástico teve acesso a 55 áudios que circulavam em grupos de militares de alta patente. Essas conversas, segundo a PF, indicam como o grupo tramava um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder. A matéria do repórter Maurício Ferraz tem 17 minutos de duração, enquanto a postagem enganosa tem apenas 39 segundos.

No post, foram usados dois trechos de conversas do general Mário Fernandes com um oficial do Exército, que não teve a identidade revelada. Fernandes era o número 2 do gabinete da Secretaria-Geral da Presidência da República e, segundo a PF, usou a impressora do gabinete para imprimir, com o papel timbrado da Presidência, a minuta de um decreto para criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, formado em sua grande maioria por militares. Para a PF, é mais um indício de que um golpe de Estado estava em curso.

O primeiro trecho usado pelo post viral aparece aos 7 minutos e 13 segundos da reportagem, quando o repórter narra:

"[...] o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com alguns líderes desses grupos.

[Mário Fernandes] - Talvez seja isso que o alto comando, que a Defesa quer.

[Oficial do Exército] - O senhor me desculpa a expressão, mas quatro linhas é o c******, quatro linhas da Constituição é o c******. Estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro, por incompetência nossa".

Logo na sequência, aparece outro trecho. Este, na verdade, só começa aos 10:16 da reportagem. Ou seja, quase três minutos depois:

"Em outra mensagem, Mário Fernandes reclama que Bolsonaro não assinou o decreto do golpe.

[Mário Fernandes] Cara, p****, o presidente tem que decidir assinar esta m****.

[Oficial do Exército] Vai esperar virar uma Venezuela pra virar o jogo, cara? Democrata é o c******".

O post enganoso ocultou uma parte considerável do material do Fantástico, especialmente porque é nesta parte não utilizada que os áudios deixam claro que Mário Fernandes conversou com Bolsonaro sobre os planos.

"[Repórter] Num outro áudio, o general Mário Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Bolsonaro sobre a diplomação da chapa Lula e Alckmin no TSE.

[Mário Fernandes] Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até o dia 31 de dezembro e tudo. Aí na hora eu disse: 'Pô, presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades'".

Estadão
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