Post engana ao relacionar ao governo Lula distribuição de ossadas que é feita há 14 anos no Ceará
Marcio Cocão, o homem que aparece no vídeo, disse ao Comprova que a doação era de ossada com carne para preparo de sopas.
ENGANOSO - Postagem engana ao relacionar doação de ossos ao governo Lula (PT). Vídeo de pessoas esperando para receber o alimento é real, mas ação é promovida por pessoa sem relação com a gestão federal. Responsável diz que organiza o gesto desde 2010.
Conteúdo investigado: Vídeo em que pessoas fazem fila para receber doação de ossadas. Nas imagens está o texto “hoje 06 dezembro 2024 entrega de ossada”. A legenda da publicação diz “VEJA – População faz fila para ganhar doação com um saco de osso para comer. Esse é o Brasil de Lula! Prometeu picanha e entregou osso”.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: Vídeo de doação de ossada, em Fortaleza, mostra ação realizada desde 2010. Postagem no X associando ao governo Lula ignora histórico do gesto. Além disso, ele é feito por pessoa que não tem vínculo com o governo federal.
A publicação enganosa diz que Lula “prometeu picanha e entregou osso”, uma referência à promessa do mandatário de reduzir o valor do corte de carne. Marcio Cocão, o homem que aparece no vídeo, disse ao Comprova que a doação era de ossada com carne para preparo de sopas.
“Se você ver o vídeo direitinho, você vai ver que é osso com carne. Não tem picanha porque não tenho dinheiro para comprar picanha, eu ganho de graça e dou de graça”, disse.
Marcio contou que realiza as doações de alimentos desde 2010. A população que recebe as doações é local, e habita os bairros em torno do Conjunto Ceará, na capital cearense. Ele disse que começou a doar os alimentos porque “gosta de fazer o bem”.
Além de ossada, o homem também doa pães, refeições prontas e panetones, como mostra o seu perfil no Instagram.
Marcio disse não ter motivações políticas e que mantém a rotina de doações porque “ninguém faz nada”. “Eu não prometi nada, quem prometeu foi o Lula, e o que eu tenho a ver?”, indagou.
Em uma postagem de outubro de 2022, durante o período eleitoral, ele fez uma declaração à população criticando o discurso de candidatos políticos, como mostra um vídeo em sua rede social.
O Comprova contatou o dono da conta que compartilhou o conteúdo enganoso, que se descreve como um “perfil de notícias”. No entanto, não houve resposta até a publicação desta checagem.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de dezembro, a publicação alcançou 445,1 mil visualizações.
Fontes que consultamos: Fizemos buscas no Google pelos termos que compõem uma faixa que aparece no vídeo. A busca resultou no Instagram do homem responsável pela doação de alimentos. No perfil foram encontradas as informações necessárias para a checagem, como um telefone de contato, o que permitiu a entrevista com o home que promoveu a distribuição.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Comprova já investigou conteúdos semelhantes a este. O projeto mostrou que um vídeo de mulheres criticando o preço dos alimentos é de 2022, no governo Bolsonaro (PL), e não durante a gestão Lula. A iniciativa também mostrou que é falso que osso de patinho tenha começado a ser comercializado por conta de suposta crise no atual governo.
* Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada e mantida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros --incluindo o Terra-- para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhadas nas redes sociais.