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Postagem distorce declaração de Lula para parecer que ele confessa ter comprado votos em 2022

EM ENTREVISTA, PRESIDENTE ACUSOU SEU RIVAL JAIR BOLSONARO DE APROVAR R$ 300 BILHÕES EM AUXÍLIOS PARA TENTAR SE REELEGER

9 ago 2024 - 11h49
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O que estão compartilhando: vídeo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que "foram colocados" cerca de R$ 300 bilhões para "ganhar as eleições". Legenda sobreposta ao vídeo diz: "Lula conta como comprou todos".

Lula acusava seu adversário nas eleições para presidente em 2022, Jair Bolsonaro, de ter comprado votos para tentar se reeleger.
Lula acusava seu adversário nas eleições para presidente em 2022, Jair Bolsonaro, de ter comprado votos para tentar se reeleger.
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e conferiu que: é enganoso. O post recorta e distorce uma entrevista de Lula para parecer que ele confessa ter comprado votos. Na verdade, ele se referia ao seu adversário nas eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro. O petista o acusou de aprovar cerca de R$ 300 bilhões para tentar se reeleger. Ele cita taxistas e motoristas em referência aos beneficiários que receberam auxílio naquele ano eleitoral. O recorte que viralizou nas redes é parte de uma entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (confira aqui).

Saiba mais: O conteúdo verificado aqui circula no Instagram e no WhatsApp. Leitores pediram a verificação pelo número (11) 97683-7490.

O vídeo nas redes começa com o presidente dizendo: "Fui candidato agora nas eleições porque eu tinha consciência que a única chance de derrotar o fascismo era eu". Uma pesquisa por essa frase no Google leva a uma série de reportagens da imprensa, publicadas dia 2 de julho deste ano. Na data, Lula realizou uma entrevista à Rádio Sociedade da Bahia. A busca também leva à transcrição completa da conversa no site do Planalto (confira aqui).

A entrevistadora perguntou ao presidente como ele via o avanço de candidatos da direita e se ele tinha receio de sofrer etarismo (discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos). Mais adiante em sua resposta, o petista citou indiretamente seu adversário nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro:

"Então eu sou assim, Silvana, por isso eu sou muito motivado, tenho muita força. Eu, na verdade, fui candidato agora nas eleições porque eu tinha consciência que a única chance de derrotar o fascismo era eu. A única chance. Porque, Silvana, você sabe quanto de recurso foi colocado nos últimos dois anos para tentar ganhar as eleições? O equivalente a US$ 60 bilhões. Eu vou traduzir em reais: 300 bilhões. Para tentar não perder as eleições, comprando votos, dando dinheiro para taxista, para motorista, distribuindo dinheiro para todo mundo, fazendo isenção, fazendo desoneração. Perdeu. Perdeu as eleições. E eu vou contar uma coisa para você. Não volta mais. Porque esse povo vai ter que aprender a gostar da democracia. Vai ter que aprender a conviver de forma civilizada, de forma educada. Um respeitar o outro."

Reportagem da Reuters, de outubro de 2022, calculou um custo de R$ 273 bilhões envolvendo medidas orçamentárias já colocadas em prática naquele ano e mais compromissos feitos pelo então presidente Jair Bolsonaro nos meses anteriores à eleição. O Estadão detalhou ano passado que o governo Bolsonaro liberou 84% de todo o recurso de auxílios financeiros durante o período eleitoral de 2022, segundo auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU). Apenas entre agosto e outubro, foram pagos R$ 9,77 bilhões do total de R$ 11,65 bilhões previstos no ano em empréstimos consignados do Auxílio Brasil, do Auxílio Caminhoneiro e do Auxílio Taxista.

O valor de 300 bilhões de reais também já foi mencionado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No programa "Conversa com o Presidente", da TV Brasil, Haddad relacionou o valor à tentativa de reeleição da campanha de Jair Bolsonaro: "Auxílios em véspera de eleições, auxílio caminhoneiro, auxílio taxista, auxílio isso, auxílio aquilo. Bom, na soma total, estamos falando de algo em torno de R$ 300 bilhões". Segundo o ministro, a conta foi realizada pela equipe de transição do governo Lula.

O Estadão Verifica tentou contato com a Secom do governo federal para entender a fonte da alegação de Lula, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Compra de voto pode levar à reclusão e inelegibilidade

A "compra de voto", na verdade, é uma prática ilícita, que acontece quando um candidato doa, oferece, promete ou entrega para o eleitor qualquer bem ou vantagem com a finalidade de obter seu voto. Essa prática pode tornar um candidato inelegível por oito anos, conforme a Lei de Inelegibilidade. O Código Eleitoral prevê ainda pena de reclusão de até quatro anos para quem praticar essa conduta.

Não pesa contra Jair Bolsonaro condenação por compra de votos. Em junho do ano passado, o TSE declarou o ex-presidente inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, pela reunião com embaixadores na qual o então presidente atacou o sistema eleitoral do País com informações falsas.

A acusação de que "Lula teria admitido compra de votos" também foi desmentida pela Reuters, Lupa e pelo Boatos.org.

Como lidar com postagens desse tipo: Falas de presidentes costumam estar transcritas no site oficial do Planalto e em notícias da imprensa. O Estadão Verifica já desmentiu mais peças de desinformação que tiram falas de Lula do contexto original, para acusar crimes. Por exemplo, foi verificado que o presidente não cometeu ilegalidade ao levar 11 contêineres com presentes quando deixou a Presidência. Essa confusão começou com um recorte isolado da Rede TVT, de 4 de março de 2016.

Estadão
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