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Vídeo espalha entrevista antiga de empresária como se fosse da juíza Gabriela Hardt

GRAVAÇÃO ATRIBUÍDA FALSAMENTE À MAGISTRADA CONSTA EM REPORTAGEM COM DECLARAÇÕES DE RAQUEL LYRA; ELA TECIA COMENTÁRIOS SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO

2 jul 2024 - 14h30
(atualizado em 9/7/2024 às 10h34)
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O que estão compartilhando: áudio atribuído à juíza federal Gabriela Hardt em que ela teria dito que se afastou da Operação Lava Jato porque questionava sobre os milhões na conta de Luiz Inácio Lula da Silva, mas não havia dinheiro na conta dele e nem de pessoas próximas. Ela teria afirmado, ainda, que existia um trabalho para que ele fosse preso porque era uma ameaça eleitoral e porque era necessário manter acesa a opinião pública junto à Lava Jato para que a operação continuasse com o poder político.

Gravação atribuída falsamente à magistrada consta em reportagem com entrevista de empresária.
Gravação atribuída falsamente à magistrada consta em reportagem com entrevista de empresária.
Foto: Reprodução/Facebook / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O áudio que circula nas redes sociais não é da juíza federal Gabriela Hardt. Na verdade, trata-se de um trecho de uma entrevista concedida pela empresária Rosângela Lyra, fundadora do Instituto Politica Viva, ao canal BBC News Brasil, em 2022. A assessoria de imprensa da Justiça Federal da 4ª Região, onde Gabriela Hardt atua, informou que a juíza não reconhece a autenticidade da voz e nem a procedência da gravação.

Saiba mais: O áudio é compartilhado em redes sociais como Facebook, WhatsApp e TikTok acompanhado de fotos da juíza Gabriela Hardt e do ex-juiz federal e atual senador Sergio Moro (União-PR). Ambos atuaram em julgamentos da Lava Jato na primeira instância. Há, ainda, uma legenda que diz: "depois de causar sofrimento a Lula, ela confessa. Juíza Gabriela revela fatos da Lava Jato".

Na gravação, uma voz feminina diz que foi convidada pelo Ministério Público de Brasília para acompanhar as ações da Lava Jato enquanto participante da sociedade civil. Ela se afastou da operação porque questionava sobre milhões supostamente roubados por Lula e não foi encontrado o dinheiro na conta dele ou de familiares e pessoas próximas. Acrescenta que existia um trabalho para que Lula fosse preso e não se candidatasse à Presidência em 2018. Ainda seria necessário manter a opinião pública favorável à Lava Jato para a operação continuar com o poder político.

O áudio não foi gravado pela magistrada, mas sim retirado de uma reportagem sobre as mudanças no padrão de votos de São Paulo, veiculada em 28 de outubro de 2022, pela BBC News. Ao longo da produção, Rosângela Lyra concede entrevista falando sobre como mudou de visão política. Ela diz que não era eleitora de Lula, mas que mudou de ideia após a prisão dele, considerada injusta por ela. Durante a entrevista, ela faz as declarações que circulam nas redes sociais.

Atualmente, a empresária integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS) do governo federal. Também preside a Associação Comercial dos Jardins e Itaim.

Gabriela Hardt e a condenação de Lula

A juíza Gabriela Hardt assumiu o comando da Operação Lava Jato após a saída do ex-juiz Sergio Moro. Em 2019, condenou Lula a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro na ação penal que envolve o sítio Santa Bárbara, em Atibaia.

Ao ser falsamente atribuído a ela, o áudio que circula nas redes sociais transmite a ideia de que a magistrada teria agido a fim de impedir uma possível eleição de Lula e depois se arrependido. O julgamento ocorreu no ano seguinte às eleições de 2018, que são citadas no áudio e não faz sentido apontar o impedimento eleitoral como uma motivação escondida da magistrada.

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O julgamento foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por não se enquadrar no contexto da Operação Lava Jato, que investigou desvios da Petrobrás. A Corte entendeu que o caso deveria ser analisado pela Justiça Federal do Distrito Federal, mas acabou prescrito. Dessa forma, Lula não é mais considerado condenado pelo caso.

Atualmente, a magistrada trabalha na 3ª Turma Recursal da Justiça Federal do Paraná, que julga ações sobre temas previdenciários e assistenciais.

Em junho, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu abrir procedimentos administrativos disciplinares sobre a conduta de Gabriela Hardt e outros três magistrados que atuaram na operação. As suspeitas que recaem sobre a juíza envolvem o despacho em que ela homologou acordo bilionário envolvendo a criação da Fundação da Lava Jato. A medida não se concretizou.

A magistrada será investigada por 'indícios suficientes de descumprimento dos deveres do cargo e cometimento de infrações disciplinares, com ofensa à Lei Orgânica e ao Código de Ética da Magistratura Nacional, bem como aos princípios da legalidade, moralidade e republicano'. O procedimento mirava também Sérgio Moro, mas o caso foi desmembrado.

Estadão
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