China critica falas de Biden sobre apoio a Taiwan
Presidente americano disse em entrevista que EUA defenderiam Taiwan no caso de uma invasão chinesa, provocando a ira de Pequim, para quem a declaração foi uma "grave violação" dos compromissos diplomáticos.A China classificou nesta segunda-feira (19/09) os comentários do presidente americano, Joe Biden, de que os Estados Unidos defenderiam Taiwan no caso de um ataque chinês, como uma "grave violação" dos compromissos diplomáticos assumidos por Washington. Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan expressou "sincera gratidão" pelo apoio do democrata.
Em entrevista ao canal americano CBS, neste domingo, questionado sobre se os EUA defenderiam Taiwan no caso de uma invasão chinesa, Biden respondeu: "Sim, se ocorrer um ataque sem precedentes."
Para Pequim, a declaração de Biden constitui uma "grave violação do importante compromisso assumido pelos Estados Unidos de não apoiar a independência de Taiwan", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, acrescentando que "isso emite um sinal errado às forças separatistas que fazem campanha pela independência de Taiwan".
As declarações de Biden surgem após uma significativa reaproximação entre os Estados Unidos e Taiwan, enquanto as relações sino-americanas atravessam a pior fase em várias décadas.
Na quarta-feira, o Comitê para as Relações Externas do Senado dos Estados Unidos aprovou o projeto de lei Taiwan Policy Act, que prevê uma ampliação do apoio militar americano ao país insular em 6,5 bilhões de dólares, nos próximos cinco anos.
Na mesma semana, a China condenou a venda de armamento a Taiwan pelos EUA, no valor de 1,1 bilhão de dólares, e prometeu "contramedidas" para "defender a sua soberania e interesses de segurança".
No início de agosto, a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, já havia provocado a fúria de Pequim. "Pedimos aos EUA que reconheçam plenamente a extrema importância e alta sensibilidade da questão de Taiwan para que não prejudiquem ainda mais as relações China-EUA", disse Mao Ning.
"Cheque em branco" a Taiwan
Para Jessica Chen Weiss, cientista política e professora da Universidade Cornell, nos EUA, os novos comentários de Biden são "perigosos, mesmo que não sejam uma mudança oficial na política".
"Mais explícita aqui do que nas gafes anteriores, é a sugestão de que os EUA enviariam tropas para lutar por Taiwan, independente do que Taiwan fizer", escreveu no Twitter, acrescentando que isso "fortalecerá a percepção de que os EUA estão emitindo um cheque em branco para Taiwan".
Em maio, Biden já havia sinalizado que usaria força militar para defender Taiwan de uma invasão chinesa, obrigando a Casa Branca a se pronunciar no sentido de que a postura oficial dos EUA em relação à ilha não havia mudado.
A situação de Taiwan
Taiwan é uma ilha autogovernada desde 1949, com regime democrático e politicamente próxima de países do Ocidente. A China, no entanto, considera o considera parte de seu território e exige que os países escolham se vão manter relações diplomáticas com Pequim ou com Taipei. O governo chinês também vê Taiwan como uma província chinesa, que um dia será "reunida" ao continente, mesmo que para tal seja necessário usar força.
Neste contexto, os EUA não têm laços diplomáticos formais com Taiwan e reconhecem a República Popular da China (RPC), com sede em Pequim, como "único governo legal", sob a política de "uma só China".
No entanto, Washington não reconhece explicitamente a soberania chinesa sobre Taiwan e continua fornecendo armas à ilha autogovernada, o que levou à atual complicada área cinzenta diplomática e estratégica.
Os EUA se comprometeram com a capacidade de defesa de Taiwan, que até agora significou principalmente entregas de armas. A questão da assistência militar das tropas americanas em caso de ataque foi deliberadamente deixada em aberto pelos antecessores de Biden, sob uma política de "ambiguidade estratégica", segundo a qual a intervenção militar direta não é garantida, mas tampou explicitamente descartada.
le/av (DPA, AFP, Lusa, ots)