Calor de erupção do monte Vesúvio transformou cérebro de vítima em vidro
Encontrado em uma cidade fundada pelos romanos, o cérebro de um homem foi afetado pelo calor extremo.
O calor da mais notória erupção do Monte Vesúvio, na Itália, foi tão extremo que transformou o cérebro da uma das vítimas em vidro, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (23), na revista científica New England Journal of Medicine.
O famoso vulcão teve uma erupção no ano 79 d.C., matando milhares de pessoas e destruíndo assentamentos romanos na região onde hoje fica Nápoles.
O vilarejo de Herculaneum e seus habitantes foram soterrados por material vulcânico. O local virou um enorme túmulo, preservando os restos mortais de quem estava por ali.
Recentemente, uma equipe de pesquisadores estudou um dos corpos mumificados, desenterrado no vilarejo em uma escavação nos anos 1960, e retirou fragmentos de um material negro e envidraçado do crânio da vítima.
Os pesquisadores acreditam que o material negro é formado pelos restos vitrificados do cérebro do homem.
O estudo explica que vitrificação é um processo no qual um material, normalmente areia, é aquecido a altas temperaturas e resfriado rapidamente, formando vidro.
Fragmento raro
"A preservação de um cérebro antigo é algo extremamente raro, muito difícil de encontrar", diz o antropólogo forense Pier Paolo Petrone, da Universidade de Nápoles Frederico 2º, principal autor do estudo.
"Essa é a primeira vez que encontramos restos de cérebro humano vitrificados por calor."
Os pesquisadores acreditam que a vítima era um homem de pouco mais de 20 de idade. Ele foi encontrado deitado em uma cama da madeira, enterrado por material vulcânico, em Herculaneum. Ele provavelmente foi morto instantaneamente pela erupção, diz Petrone.
Uma análise da madeira queimada encontrada perto do corpo mostrou que a temperatura máxima atingida foi de 520° C.
Essa altíssima temperatura significa que "o calor extremo irradiado foi capaz de incendiar a gordura corporal e vaporizar tecidos macios", antes de uma "rápida queda de temperatura".
O estudo conclui que houve vitrificação de tecido cerebral humano com base em vários indícios: a detecção de material envidraçado na cabeça da vítima, além de proteínas que existem no cérebro humano e de ácidos graxos que existem no cabelo humano.
O material envidraçado não foi encontrado em outros locais do sítio arqueológico.
Durante a erupção do Vesúvio, Herculaneum foi enterrada por rios de lava, rápidas correntes de rocha fragmentada, cinzas e gases quentes.
O material vulcânico carbonizou e preservou parte da cidade, incluindo os esqueletos de moradores que não conseguiram escapar.
Arqueólogos investigam há séculos as ruínas de Herculaneum e de Pompeia — outro vilarejo romano famoso por ter sido destruído pelo Vesúvio.