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Crianças não devem ter acesso ao Facebook, defendem especialistas em carta aberta

Grupo de mais de cem especialistas e organizações pede extinção de aplicativo de mensagens infantil anunciado em dezembro, que Facebook oferece como ambiente 'divertido e seguro'.

30 jan 2018 - 17h41
(atualizado às 17h59)
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Carta aberta de especialistas diz que 'crianças pequenas não têm idade para navegar nas complexidades dos relacionamentos online'
Carta aberta de especialistas diz que 'crianças pequenas não têm idade para navegar nas complexidades dos relacionamentos online'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mais de cem especialistas e organizações internacionais em saúde infantil pediram ao Facebook que extinga seu recém-lançado aplicativo de mensagens voltado a crianças com menos de 13 anos, o Messenger Kids.

Em uma carta aberta a Mark Zuckerberg divulgada nesta terça-feira, os especialistas e grupos de proteção à infância afirmam que o Messenger Kids é uma iniciativa "irresponsável" que almeja estimular as crianças pequenas a usar o Facebook.

O argumento dos signatários da carta é de que crianças pequenas não estão prontas para ter contas em redes sociais.

"O Messenger Kids provavelmente será a primeira plataforma de redes sociais amplamente usada por crianças de 4 a 11 anos. Mas um crescente número de estudos demonstra que o uso excessivo de aparelhos digitais e de redes sociais é danoso para crianças e adolescentes, o que torna bastante provável que o novo aplicativo prejudique o desenvolvimento saudável dessas crianças", diz a carta aberta.

"Crianças pequenas não têm idade para navegar nas complexidades dos relacionamentos online, que frequentemente derivam em mal-entendidos e conflitos até mesmo entre usuários com maturidade."

O Messenger Kids foi anunciado em dezembro como uma "solução divertida e segura" para que crianças conversem, via vídeo ou chat, com amigos e familiares. É uma versão simplificada do Messenger, que no entanto exige consentimento parental antes do uso e cujos dados gerados não são usados para publicidade dirigida.

"Após conversar com milhares de pais, associações parentais e especialistas em paternidade nos EUA, descobrimos que havia a necessidade de um aplicativo de mensagens que permitisse às crianças se conectar com as pessoas que amam, mas também tivesse o nível de controle desejado pelos pais", dizia comunicado de dezembro do Facebook.

Em resposta à carta aberta desta terça, o Facebook afirmou que "desde o lançamento, em dezembro, temos escutado de pais ao redor dos EUA que o Messenger Kids os ajuda a manter contato com seus filhos e que seus filhos mantenham contato com familiares, perto ou longe. Soubemos, por exemplo, que pais que trabalham à noite agora podem contar histórias de ninar para seus filhos; que mães em viagens profissionais estão tendo atualizações diárias de seus filhos enquanto estão longe".

Mas a carta aberta questiona a necessidade de o Facebook oferecer esse serviço. "Para conversar com familiares e amigos à distância não é necessário ter uma conta no Messenger Kids. As crianças podem usar as contas dos pais no Facebook ou no Skype. Eles também podem simplesmente telefonar."

Pesquisas apontam elos entre uso de redes sociais e depressão e ansiedade entre adolescentes
Pesquisas apontam elos entre uso de redes sociais e depressão e ansiedade entre adolescentes
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A carta menciona também pesquisas científicas segundo as quais o uso de redes sociais aumenta os riscos de depressão e de ansiedade entre adolescentes.

"Adolescentes que passam uma hora por dia conversando em redes sociais dizem ter menos satisfação com praticamente todos os aspectos de sua vida diária", diz a carta.

"Crianças da 8ª série (entre 13 e 14 anos) que usam redes sociais de seis a oito horas por semana têm 47% mais chances de se considerarem infelizes do que seus amigos que usam as redes sociais com menor frequência."

Os especialistas citam também um estudo feito com meninas de 10 a 12 anos. "Quanto mais elas usavam redes como o Facebook, maior era sua tendência a idealizar a magreza, preocupar-se com sua aparência e fazer dietas".

Outras estatísticas mencionadas apontam que:

- 78% dos adolescentes checam seus telefones a cada hora

- 50% deles se dizem viciados em seus telefones

- Metade dos pais afirma que é uma "batalha constante" controlar o tempo gasto pelos filhos diante de telas

Além disso, os especialistas questionam a alegação de que o Messenger Kids vai atrair, de forma segura, usuários infantis que mentiam sua idade para abrir contas em outras redes sociais.

"Crianças de 11 ou 12 anos que já usam o Snapchat, Instagram ou Facebook dificilmente vão migrar para um aplicativo que é claramente voltado para crianças menores. O Messenger Kids não está respondendo a uma necessidade - está criando uma."

A carta termina afirmando que "seria melhor deixar as crianças pequenas em paz para que se desenvolvam sem as pressões derivadas do uso das redes sociais. A criação de crianças na era digital já é difícil o bastante. Pedimos que vocês não usem os enormes alcance e influência do Facebook para tornar esse trabalho ainda mais difícil."

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