Há 52 anos, Leonid Rogozov abria o próprio abdome para salvar sua vida
Na madrugada do dia 1º de maio de 1961 (pelo horário local), Leonid Rogozov retirava o próprio apêndice, salvava sua vida e entrava para os anais da medicina. O relato da operação, feita pelo filho de Rogozov, Vladislav, também médico, em uma revista científica, foi baseado no diário do soviético. "É uma situação absolutamente excepcional e desesperadora, porque não se tem outra solução", diz Pedro Martins, professor da PUCRS e chefe do serviço de cirurgia-plástica do hospital São Lucas, em Porto Alegre.
"(O apêndice) está dentro da cavidade abdominal. Então é uma cirurgia cavitária, uma cirurgia que as vezes é muito difícil. (...) É uma situação absolutamente excepcional e desesperadora, porque não tem outra solução", diz o médico brasileiro. "É impressionante. É uma coisa fantástica."
Para o médico, se o russo demorasse mais, o caso poderia piorar e ele talvez não tivesse mais condições físicas nem mentais de se operar. "Ele conseguiu intervir em uma fase que ele poderia, sozinho, resolver. Se ele estivesse em uma fase, digamos, mais avançada, ele próprio não teria um nível de bom senso capaz de operar", diz o cirurgião ao explicar que o problema poderia se espalhar e afetar o médico, que poderia até mesmo ficar em choque.
Rogozov foi conhecido por ter que operar a si mesmo para salvar sua vida. Ele era o único médico em uma estação soviética durante o inverno antártico. Sem possibilidade de resgate do mundo exterior, e à beira da morte, ele foi obrigado a abrir o próprio abdome para tirar seu apêndice. Leia mais sobre essa e outras histórias de autocirurgias clicando aqui ou na imagem ao lado.
Caso brasileiro
Luiz Américo de Freitas Sobrinho, cirurgião plástico brasileiro que também fez uma autocirurgia, explica que o caso de Rogozov foi muito diferente. "Muito, muito mais complicado. Ele entrou em uma cavidade e ele só apalpava, com o tato, onde estava o apêndice, com febre. Ele estava com uma febre alta. Ele teria pouco tempo de vida se ele não fizesse (a cirurgia)".
Freitas Sobrinho chama o ato do médico russo de "fabuloso" e diz que se espelhou nele. "A serenidade eu consegui pegar dele. (...) É como se o espírito dele estivesse junto com o meu. Ele me deu uma tranquilidade tão grande ver ele, aquela foto dele. Isso que me deu forças".
Médico brasileiro também operou a si próprio; veja o vídeo: