Solly Boussidan, Direto da Antártida
A imagem fria e gélida da Antártida no consciente popular contrasta com o sol brilhante e quente no céu azul quase sem nuvens das manhãs de verão no continente. Nas ilhas antárticas e mesmo na península, que se estende ao norte, rumo à América do Sul, os termômetros insistem em marcar temperaturas positivas por dias seguidos nesta época do ano. A temperatura média tende a se estabilizar em agradáveis 5 graus centígrados. No entanto, este cenário idílico dura pouco tempo – mesmo no verão. A Antártida é conhecida pela velocidade com que o tempo muda e histórias de turistas e cientistas que se viram presos em terra, mar ou regiões remotas são corriqueiras. E tudo isso pode ocorrer em apenas 15 minutos.
Por conta da inclinação da Terra, no hemisfério sul, as massas quentes e úmidas de ar tropical e equatorial são deslocadas em direção ao polo. O centro da Antártida é muito mais frio que sua costa, que é aquecida pelas constantes correntes marinhas que circulam ao redor do continente.
Durante o outono o efeito é ainda mais pronunciado, gerando extremos de diferenças de pressão nas diversas regiões antárticas. As tempestades tendem a ser mais fortes e rápidas na zona próxima à costa da Antártida, perdendo intensidade conforme avançam pra dentro do continente, onde a elevação e as temperaturas são mais baixas.
Enquanto as ilhas, a península e a zona costeira antártica passam por mudanças abruptas de tempo, o centro do continente, tende a ser mais estável com dias ensolarados e temperaturas muito baixas durante o ano inteiro. No entanto, quando as tempestades alcançam esta região, elas podem durar diversos dias.
Segundo o Escritório Antártico de Ushuaia, na Argentina, durante a temporada de verão de 2010, quando cruzeiros de expedição abrem suas portas para que turistas possam visitar a Antártida, houve pelo menos um caso de visitantes presos no continente por conta das tempestades polares. “Nesta ocasião, um grupo de turistas nas Ilhas Shetland do Sul deveria ter desembarcado por cerca de duas horas. No entanto, após meia hora em terra, o tempo mudou de forma tão abrupta que foi impossível retornar à embarcação pelas próximas oito horas”, conta Lucia Perez, chefe do Departamento Antártico de Ushuaia. “Apesar do susto, ninguém sofreu maiores problemas”, garante Lucia. E os turistas ainda tiveram uma enorme colônia de pinguins-de-barbicha por perto pra lhes fazer companhia.
Foto: Solly Boussidan / Especial para o Terra