Matar filhotes beneficia espécies da natureza, diz estudo
23 mai2012 - 09h24
(atualizado às 09h32)
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O infanticídio pode ser um instrumento eficiente para a sobrevivência de determinadas espécies de animais, indicam um crescente número de estudos. A ideia é chocante do ponto de vista humano, mas a realidade é que para muitos filhotes de animais, a maior ameaça à sua sobrevivência vem de sua própria espécie.
"Não é como um ato de predação, que é silencioso", disse o especialista em leões Craig Packer, da University of Minnesota, em Falcon Heights, Estados Unidos. "Durante o infanticídio há rugidos, é violento e muito perturbador", ele diz, descrevendo como leões adultos matam filhotes. "Eles mordem (os filhotes) atrás da cabeça e na nuca, esmagando seus abdomens".
O infanticídio tende a ser pouco estudado enquanto recurso para garantir a sobrevivência dos mais fortes em uma determinada espécie. Entretanto, há registros de que ele acontece entre roedores e primatas, peixes, insetos e anfíbios.
Segundo estudos, o infanticídio pode trazer benefícios às espécies animais que o cometem, como maiores oportunidades para que o infanticida se reproduza e mesmo alimentação (quando o infanticida come o filhote morto). Matar um filhote é também uma maneira de evitar que seus pais tenham que investir energia para cuidar da cria. O infanticídio é com frequência cometido por machos adultos.
Normalmente, a proteção que um filhote recebe do pai cumpre um papel importante em assegurar sua sobrevivência. Mas quando novos machos entram em cena, tudo pode mudar. Os machos recém-chegados tendem a derrubar os machos pais de suas posições no topo da hierarquia do grupo. Se eles conseguem ferir, expulsar ou até matar um macho que ocupava uma posição dominante no grupo, tomando o seu lugar, os filhotes do antigo líder passam a correr grande risco. Isso acontece porque machos recém-chegados com frequência têm apenas um objetivo: ter seus próprios filhotes com a mãe.
Em sociedades de leões, por exemplo, matar filhotes faz com que suas mães voltem a ficar férteis mais rápido, aumentando a chance de que os novos machos se reproduzam. E se não matam filhotes alheios, correm o risco de que os filhotes do antigo líder cresçam e deem o seu próprio golpe.
Estratégia feminina
Mas o infanticídio não é cometido apenas por animais machos. Fêmeas também o praticam, disse o zoólogo Tim Clutton-Brock, da University of Cambridge, na Inglaterra. "Fêmeas matam os filhotes umas das outras com a mesma prontidão", ele disse.
Ratas matam as crias de outras fêmeas para se alimentar e se apoderam dos ninhos para criar seus próprios filhotes. Ratas também matam sua própria cria se os filhotes têm deformidades ou ferimentos. Isso permite que elas concentrem seus recursos em outros filhotes.
O infanticídio também pode aumentar o sucesso reprodutivo de um animal, reduzindo a competição para os filhotes do infanticida. Besouros fêmeas matam as larvas de suas rivais para assegurar que suas próprias larvas sobrevivam.
Esse comportamento foi observado também em mais de 40 espécies de primatas, mas em muitas dessas espécies as fêmeas usam estratégias para reduzir os riscos de que ele ocorra, segundo um estudo publicado na revista científica Journal of Theoretical Biology.
A saída utilizada por essas fêmeas é o acasalamento com parceiros múltiplos para gerar o que os especialistas chamaram de "confusão de paternidade". Ou seja, os machos não sabem quem é o pai do filhote. Isso dá aos filhotes maiores chances de sobreviver quando novos machos tentam se integrar no grupo.
Suricatos
Quando há mudanças na hierarquia de dominância, "o infanticídio ocorre apenas quando a chance de o assassino ser o pai do próximo filhote é alta", disse o estudo. Os suricatos (mamíferos pequenos e altamente sociáveis que habitam regiões inóspitas) se reproduzem de forma cooperativa, ou seja, se um macho alfa e uma fêmea alfa se reproduzem, outros integrantes do grupo em posições de subordinação ajudam a criar os filhotes do casal alfa.
Fêmeas dominantes matam filhotes de subordinados e os próprios subordinados, se tiverem cria própria, podem também matar o filhote de uma fêmea dominante. Suricatos machos, no entanto, não sujam suas patas com o sangue de filhotes.
Clutton-Brock explicou: "Suricatos machos não apresentam (comportamento) infanticida porque assim que (as fêmeas) têm filhotes, ficam prontas para se acasalar novamente. Então, matar crianças não interessa aos machos". Uma situação que contrasta bastante com a dos leões, onde as fêmeas passam quase 18 meses amamentando após o nascimento dos filhotes.
Sabe-se que machos nômades, ou coalizões de machos competindo pelo controle de matilhas, matam filhotes com o objetivo de fazer com que a mãe volte a ficar fértil. Desta forma, podem se reproduzir com ela.
O fotógrafo David Evans montou "campana" durante semanas, sete horas por dia, para registrar o momento em que um filhote de panda vermelho deixaria a toca protegido pela mãe
Foto: Caters News / The Grosby Group
Evans, 37 anos,diz que chegou a ficar emocionado com o momento em que o filhote se aventurou pelo zoológico de Chester, no Reino Unido
Foto: Caters News / The Grosby Group
O panda vermelho (Ailurus fulgens) está na lista vermelha de animais ameaçados na categoria vulnerável. Segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que organiza a lista, estima-se que existem menos de 10 mil desses animais em seus habitats naturais - ele é encontrado em países como Nepal, China, Índia e Mianmar
Foto: Caters News / The Grosby Group
Mãe brinca com filhote de leão-do-Atlas, uma subespécie extinta na natureza, mas que ainda pode ser encontrada em cativeiro
Foto: EFE
Dois filhotes de leão do Atlas são apresentados no zoológico de Hannover, na Alemanha
Foto: AFP
A reprodução controlada dos leões do Atlas, também conhecidos como leões berberes ou de Barbary, salvou a subespécie da total extinção e alguns indivíduos foram levados à Europa para aumentar a população
Foto: AFP
O Panthera leo Leo é o maior e mais pesado dos leões
Foto: AFP
Além do tamanho, chama a atenção no macho a juba espessa que cobre uma área maior do corpo se comparado com outras subespécies
Foto: EFE
O pelo do leão do Atlas mais longo chega às pernas da frente e ao abdome
Foto: EFE
Gorila de espécie ameaçada carrega filhote no zoo de Pittsburgh
Foto: AP
Filhote dorme nas costas da mãe
Foto: AP
Fotógrafo registrou o momento em que uma ursa enfrentou dois tigres para proteger os filhotes
Foto: BBC Brasil
Os filhotes passaram todo o tempo agarrados às costas da mãe no confronto com tigres
Foto: BBC Brasil
O confronto, de menos de três minutos, aconteceu na Reserva de Tigres de Ranthambore, na Índia
Foto: BBC Brasil
Ursos e tigres são animais que normalmente se evitam
Foto: BBC Brasil
Mas diante da ameaça aos filhotes, a ursa não hesitou em atacar
Foto: BBC Brasil
Ela avistou um dos tigres e pulou em sua direção, afugentando-o
Foto: BBC Brasil
A mãe protetora levantou as patas dianteiras para assustar o outro tigre
Foto: BBC Brasil
O fotógrafo Aditya Singh vive nos arredores da reserva e visita a região diariamente
Foto: BBC Brasil
No zoológico de Duisburg, na Alemanha, Giza, da subespécie tigre siberiano, levou a sua nova filhote para o primeiro passeio de sua vida na área verde do zoo.Leia notícia relacionada
Foto: AP
A mãe Gisa levou a filhote fêmea para o primeiro passeio de sua vida na área verde do zoo
Foto: AP
Na Sibéria, restam apenas cerca de 200 tigres deste tipo soltos na natureza
Foto: AP
Ainda sem nome, a filhote ficou o tempo todo perto da mãe
Foto: AP
Imagem mostra a ursa polar Vilma e seu filhote Anori, que nasceu em 4 de janeiro deste ano. Anori tem o mesmo pai que o famoso urso polar Knut
Foto: AFP
Anori virou a estrela do zoológico alemão após sua apresentação ao público, no final de março
Foto: AP
A mãe, Vilma, não deixa o filhote sozinho
Foto: AP
O filhote de urso polar, chamado de Anori, brinca com sua mãe Vilma em seu recinto ao ar livre no jardim zoológico de Wuppertal, na Alemanha. Anori nasceu 04 de janeiro e deixou a gruta pela primeira vez na quinta-feira, 29 de março. Leia mais
Foto: AP
Anori é irmão, por parte de pai, do famoso urso Knut que morreu em 2011
Foto: EFE
Ao lado da mãe Salomé, filhote de gorila aprende a dar os primeiros passos em um zoológico britânico. Vote nas melhores imagens de maio
Foto: The Grosby Group
Chamado de Kukena, o filhote tem sete meses de idade e, desde o nascimento, nunca saiu de perto da mãe
Foto: The Grosby Group
Agora Kukena está começando a explorar o mundo sozinho
Foto: The Grosby Group
Kukena também está começando a mordiscar os alimentos macios, como banana, além de se alimentar do leite materno, que ele continuará a tomar, até que complete três anos de idade
Foto: The Grosby Group
Kukena é o terceiro bebê que Salomé teve no jardim zoológico. Seu último bebê, Komale, nasceu em dezembro de 2006, após um curso de inovador tratamento de fertilidade
Foto: The Grosby Group
Os gorilas do zoológico são parte de um programa internacional de conservação da espécie criticamente ameaçada de extinção
Foto: The Grosby Group
Com o pequeno filhote em seu colo, a macaca Betina se exibe para os frequentadores do zoológico de Ramat Gan, em Israel
Foto: AFP
Agarrado ao corpo da mãe, o filhote sente-se protegido para saltar entre as árvores
Foto: AFP
O nascimento do pequeno animal surpreendeu os funcionários do local, pois aconteceu 11 anos após Betina dar a luz pela última vez
Foto: AFP
Com apenas duas semanas, o filhote recebe todo o carinho e proteção da mãe
Foto: AFP
O pequeno filhote de gibão, espécie de macaco que vive nas árvores, é amamentado no colo da mãe
Foto: AFP
Imagem divulgada pela Sociedade Zoológica de Chicago, mostra uma fêmea de lagarto com seus filhotes
Foto: AP
Uma fêmea de tigre albino foi flagrada com seus filhotes recém-nascidos no zoológico de Yalta, em Skazka, na Ucrânia
Foto: AP
Tigrylia deu à luz a quatro filhotes, sendo um deles um raro tigre albino
Foto: AP
A imagem de uma tigresa branca foi o símbolo da campanha presidencial da ex-primeira-ministra ucraniana Yulia Tymoshenko
Foto: AP
Os filhotes estão sob os cuidados de funcionários do zoológico
Foto: AP
Na foto, um dos filhotes é amamentado por um funcionário do zoológico em Yalta, na Ucrânia
Foto: AP
Segundo funcionários, a tigresa de três anos de idade está tendo dificuldades em cuidar dos filhotes
Foto: AP
Eles acreditam que a mãe está se distraindo com os visitantes do zoológico e seu parceiro, um tigre que veio da França, com 6 anos de idade, chamado Patrice. Decida qual é a melhor fotografia de animais de maio
Foto: AP
Filhotes de tigre ficam juntos à mãe em Odessa
Foto: AP
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