Menino surdo ganha ouvido biônico no RJ
Aos 6 anos, o menino Yago Bueno dos Santos não consegue ouvir a voz da mãe, vê desenho tentando imaginar as falas dos personagens e ainda não entendeu o nome da irmã que está prestes a nascer. Sem conseguir ouvir desde janeiro, quando teve meningite, Yago passou os últimos meses num mundo de silêncio, difícil para um menino que sempre foi muito falante. Mas o drama está próximo de ter fim. Yago foi submetido, há uma semana, a uma cirurgia de implante de ouvido biônico, a primeira realizada pelo Sus no Rio.
"Em cerca de 20 dias, o implante será ativado. A partir daí, ele já começará a ouvir barulhos, mas aos poucos vai ouvir melhor. Acredito que em um ano vai ter uma vida normal", afirma a chefe do serviço de Fonoaudiologia do Hospital do Fundão, onde foi feita a cirurgia, Maria Isabel Kos.
Mãe de Yago, Patrícia Bueno dos Santos, que está grávida, espera ansiosa a recuperação do menino. "Quero que ele possa voltar a estudar, a me ouvir", conta emocionada.
Pai do menino, o militar Sérgio Bueno dos Santos, 40, diz que a perda de audição da criança deixou a família em desespero. "A gente estava sofrendo muito. Yago sempre foi muito falante, já estava com dificuldades para falar e esqueceu algumas palavras", diz Sérgio, que saiu com a família do Mato Grosso do Sul para o Rio em busca de tratamento.
Segundo o Fundão, só o ouvido biônico ¿ dispositivo eletrônico colocado no ouvido interno do paciente para que ele volte a ouvir - custa cerca de R$ 50 mil. Hoje, cerca de 100 pacientes esperam pela oportunidade de fazer o procedimento no Hospital do Fundão, onde tudo é gratuito.
"O implante é indicado para pessoas que não têm resultado com aparelhos de audição. Recupera 99% dos casos de surdez", afirma Kos. Para ser operado no Fundão, o paciente precisa ser encaminhado por uma unidade de saúde.
Plano de saúde não cobre
O menino Yago não poderia ter sido operado com as despesas cobertas pelo plano de saúde, caso tivesse um. Desde a última semana, os planos de saúde, que eram obrigados a cobrir implantes auditivos, estão isentos do dever. Resolução da Agência Nacional de Saúde desobriga os planos a cobrirem implantes em deficientes entre 6 e 18 anos.
Para as outras faixas etárias, os planos de saúde só precisam pagar pelo implante de um ouvido. "É como dar um óculos com uma lente. Mas é muito melhor você ter dois olhos", critica o presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia Ricardo Ferrreira Bento.