Optogenética: cientistas querem controlar os neurônios com a luz
11 ago2012 - 15h25
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Controlar o comportamento de um macaco com uma luz azul. Esse feito pode parecer esdrúxulo para quem não entende o seu significado. O estudo que apresentou esse resultado, publicado no dia 26 de julho, na revista Current Biology, abre caminho para uma análise mais acurada dos neurônios e, no futuro, para o tratamento de doenças neurológicas em seres humanos. Espera-se que a optogenética, como é chamada essa área, possa tratar mal de Parkinson, epilepsia, depressão, distúrbios obsessivos-compulsivos e outros problemas neurológicos.
O grande diferencial da optogenética é que a técnica permite a ativação de neurônios específicos do cérebro, o que pode contribuir para a identificação da raiz de diversas doenças mentais e apontar caminhos para sua cura. Mas ainda existe um longo caminho até lá. "Há muitos aspectos da técnica que precisam ser resolvidos: se é eficiente por período prolongado, se resulta efeitos colaterais, etc", afirma o primeiro autor do artigo, o belga Wim Vanduffel, PhD em ciências médicas e professor das escolas médicas de Harvard, nos Estados Unidos, e da KU Leuven, na Bélgica.
Enquanto isso, a alteração comportamental de macacos com feixes de luz já se trata de um grande avanço. Os primatas analisados não deram um pulo orquestrado pela luz azul dos cientistas, porém, de forma mais sutil, apresentaram a reação esperada. Dois macacos haviam sido treinados para olhar em direção a uma tela quando recebessem determinado estímulo. Após a aceleração de seu circuito neuronal por meio do feixe de luz, eles realizaram a tarefa com maior agilidade. Antes, a optogenética havia tido resultados comportamentais apenas com animais menores, como camundongos.
A técnica
Esse controle neurológico por meio de uma luz não é fácil de ser explicado. Primeiramente, há que se considerar que o emissor de luz não é uma lanterna ou um aparelho comum, mas um pequeno cabo de fibra óptica. "Essencialmente, um feixe de luz incide sobre uma célula contendo material fotossensor, e as respostas elétricas resultantes da interação da luz com o material são observadas ou utilizadas para desencadear outros processos biológicos", escreve o físico Carlos Alberto dos Santos, professor visitante sênior da Universidade Federal da Integração Latino-americana, em artigo publicado pelo Instituto Ciência Hoje, entidade sem fins lucrativos que promove a divulgação científica.
Vanduffel dá mais detalhes: "Usa-se uma ferramenta genética (vírus) para inserir genes em células cerebrais. Os genes são transformados em proteínas específicas. No nosso caso, os genes vêm de organismos microbiais, e as proteínas são sensíveis à luz. As proteínas (chamadas de opsinas) surgem na membrana celular dos neurônios e, quando a luz as atinge, elas 'abrem', e íons (partículas carregadas) podem entrar na célula. A entrada de íons positivos leva à ativação do neurônio".
Da mosca ao macaco
Os primeiros experimentos da optogenética ocorreram em 2005, com moscas. O fisiologista austríaco Gero Miesenböck fez moscas pularem e voarem quando estimuladas por raios de luz. Em 2007, o psiquiatra americano Karl Deisseroth levou, com feixe de luz, um rato a sair correndo. Só em 2009 é que a técnica passou a ser utilizada em mamíferos de grande porte, quando o cientista americano Edward Boyden, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), realizou experimentos com um macaco-rhesus, embora ainda não conseguisse resultados comportamentais.
Do macaco ao ser humano
Após os resultados do novo estudo, a optogenética se configura como uma ferramenta de investigação neurológica ainda mais eficaz. "O trabalho de Vanduffel e colaboradores pode ser considerado o grande salto para a aplicação em humanos", considera Santos. "Apesar dessa expectativa, ainda existem muitos obstáculos tecnológicos, entre os quais podemos destacar o isolamento e a implantação de proteínas marcadoras, similares à proteína verde fluorescente (GFP, na sigla em inglês)".
O pesquisador belga, que passou dois anos trabalhando com primatas até obter os resultados desejados, também tenta frear previsões otimistas demais quanto ao uso da optogenética em seres humanos. "Neste momento, eu vejo isso como uma ferramenta maravilhosa adicionada ao repertório de ferramentas de pesquisa para os cientistas", diz Vanduffel. "Vamos poder lidar com algumas questões que antes não poderíamos. É a primeira vez que é possível ativar (ou silenciar, com diferentes opsinas) tipos celulares muito específicos no cérebro com resolução temporal muito alta. Poderemos estudar a função das células: qual é o seu papel?".
Muita luz ainda será necessária para que a optogenética evolua do macaco para o homem. No futuro, a técnica de controle de neurônios através da luz poderá ajudar a curar doenças como epilepsia, mal de Parkinson, dependência química e outras disfunções neurológicas. Para Vanduffel, esse tipo de avanço está muito distante. "Mas eu não tenho uma bola de cristal", admite.
O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) é o maior acelerador de partículas do planeta e teve custo avaliado em cerca de US$ 10 bilhões
Foto: Cern / Divulgação
O acelerador tenta reproduzir as condições do universo logo após o Big Bang
Foto: Cern / Divulgação
Um dos objetivos dos cientistas no LHC é tentar descobrir o bóson de Higgs, a única partícula do modelo padrão da física de partículas que ainda não foi confirmada
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O modelo explica o comportamento e as interações das partículas fundamentais que constituem a matéria ordinária, da qual somos feitos
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O LHC faz as partículas darem voltas em um túnel de 27 km na fronteira entre Suíça e França
Foto: Cern / Divulgação
Viajando a 99,9% da velocidade da luz, as partículas colidem com outras na direção oposta e os cientistas observam os resultados
Foto: Cern / Divulgação
Existem quatro locais onde ocorrem as colisões ao longo do túnel, cada um com um enorme detector
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Somente o CMS (sigla em inglês para solenoide compacto de múons) pesa 12,5 mil toneladas
Foto: Cern / Divulgação
O CMS e o Atlas são os dois detectores que buscam o bóson de Higgs. Segundo a agência BBC, o CMS custou US$ 458 milhões
Foto: Cern / Divulgação
O Atlas tem 45 m de comprimento, 25 m de altura e 7 toneladas
Foto: Cern / Divulgação
Além do bóson de Higgs, o Atlas busca dados sobre outras dimensões de espaço - além das três que estamos acostumados -, matéria escura e outros
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Foi no Alice que os cientistas registraram colisões de átomos de chumbo, em sua busca pelas condições iniciais do universo
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Essas colisões chegaram a temperaturas inéditas em experimentos realizados pelo homem: 10 trilhões de °C
Foto: Cern / Divulgação
A estrutura cilíndrica do Super-Kamiokande é formada por 50 mil t de água pura rodeada por mais de 13 mil tubos fotomultiplicadores
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
O Super-Kamiokande é observatório de neutrinos localizado a 1 km debaixo da terra, em uma mina na cidade de Hida, no Japão
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
A estrutura cilíndrica tem 42 m de altura e 39,3 m de largura
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
O Super-K, como também é chamado, para procurar por decaimento de próton, detectar neutrinos de qualquer supernova que possa existir em nossa galáxia e estudar neutrinos solares e neutrinos atmosféricos
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
O Super-Kamiokande é o maior detector de radiação Cherencov aquático do mundo
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
Radiação Cherencov é uma radiação eletromagnética que pode ser visível
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
Essa radiação provém da interação de um neutrino com os núcleos dos átomos das moléculas de água
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
A construção do Super-K começou em 1991 e a primeira observação foi feita em 1996
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
A operação do Super-Kamiokande é feita com a colaboração de 110 pessoas e 30 institutos do Japão, Estados Unidos, Coreia, China, Polônia e Espanha
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
Um dos propósitos do experimento é revelar as propriedades do neutrino
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
Em 1998, os cientistas descobriram mudanças nos tipos de oscilações de neutrinos no voo na observação de neutrinos atmosféricos
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
A observação das propriedades do neutrino pode ajudar o entendimento de como a matéria foi criada no começo do Universo
Foto: Kamioka Observatory, ICRR (Institute for Cosmic Ray Research), The University of Tokyo / Divulgação
O Supercondutor Supercolisor (SSC, na sigla em inglês) seria o maior acelerador de partículas já criado pelo homem
Foto: Fermilab / Divulgação
Ele começou a ser construído perto de Waxahachie, no Estado americano do Texas
Foto: Fermilab / Divulgação
O projeto, que começou a ser construído em 1991, custaria US$ 12 bilhões. A ideia é que ele fosse capaz de recriar as condições do Big Bang
Foto: Fermilab / Divulgação
O SSC aceleraria prótons através de um tubo de 87 km a uma velocidade aproximada à da luz
Foto: Fermilab / Divulgação
Em 1993, o Congresso americano cancelou a construção - que já havia gastado US$ 2 bilhões e criado 12 km de túneis -, por achar o SSC caro demais, e decidiu priorizar outro projeto: o da Estação Espacial Internacional
Foto: Fermilab / Divulgação
Em 31 de outubro de 2000, um foguete partia do cosmódromo Baikonur, no Cazaquistão - com três tripulantes a bordo. Eram os primeiros ocupantes a viver na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês)
Foto: AFP
A ISS foi construída com os esforços das agências espaciais japonesa (Jaxa), canadense (CSA), americana (Nasa), russa (Roscosmos) e 11 membros da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês): Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido
Foto: AFP
A ISS tem 419.857 kg, o equivalente a 320 carros. O espaço interno é de 900 m³, o equivalente ao de um Boeing 747
Foto: AFP
Em 10 anos de ocupação ininterrupta, foram mais de 600 experimentos realizados na estação
Foto: AFP
Segundo a agência EFE, estima-se que o custo total da ISS tenha chegado a US$ 100 bilhões
Foto: Getty Images
O próximo projeto megalômano? Um dos candidatos é uma viagem a Marte. O presidente americano, Barack Obama, já afirmou que espera que a viagem seja feita em 2035
Foto: Nasa / Divulgação
Na Rússia, a agência espacial do país (Roscosmos) e a europeia (ESA) já realizam uma simulação de um possível voo ao planeta vermelho, com décadas de antecedência
Foto: ESA / Divulgação
Astronautas passam pelas mesmas condições que teriam em uma nave espacial - com exceção da falta de gravidade
Foto: ESA / Divulgação
Simulação tem direito a "descida" em Marte
Foto: ESA / Divulgação
Astronautas passam por exames - conduzidos por outros astronautas, já que ninguém pode entrar nas instalações durante os 520 dias do experimento.