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Por que um especialista em lesões cerebrais quer restringir a cabeçada no futebol

Bennet Omalu, primeiro médico a publicar sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), afirma que 'nenhuma pessoa com menos de 18 anos deveria cabecear uma bola de futebol'.

10 ago 2018 - 15h07
(atualizado às 15h54)
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Cabecear é 'perigoso' e 'não faz sentido', diz um dos maiores especialistas em lesões cerebrais
Cabecear é 'perigoso' e 'não faz sentido', diz um dos maiores especialistas em lesões cerebrais
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Cabecear uma bola de futebol deveria ser algo restrito a jogos profissionais, e vetada para menores de 18 anos, segundo um dos maiores especialistas do mundo em lesões cerebrais.

Bennet Omalu foi o primeiro médico a publicar sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), uma condição que tem efeitos de longo prazo e é causada por traumas repetidos na cabeça.

"Não faz sentido controlar com a cabeça um objeto que viaja a uma alta velocidade", diz Omalu. "Acredito que, em algum momento, a nível profissional, precisamos restringir cabeçadas. É perigoso."

Falando à emissora BBC Radio 5, o neuropatologista acrescentou: "Nenhuma pessoa com menos de 18 anos deveria cabecear uma bola de futebol".

"Crianças com menos de 12 anos deveriam jogar uma forma de futebol com menos contato entre elas. Crianças com 12 a 18 anos poderiam jogar, mas não deveriam cabecear", disse.

"Sei que isso é algo difícil de aceitar para muitas pessoas, mas a ciência evolui. Nós mudamos com o tempo. A sociedade muda. É hora de mudarmos alguns comportamentos."

Jogador teve lesão cerebral e Alzheimer

No início dos anos 2000, uma investigação sobre a morte do jogador Jeff Astle concluiu que ele faleceu por conta de uma lesão cerebral causada por cabeçadas em bolas pesadas feitas de couro.

Ele morreu em 2002, aos 59 anos, depois de sofrer do mal de Alzheimer por quase 10 anos, após uma carreira de 18 anos no futebol.

Na quarta-feira, sua filha, Dawn, pediu que seja investigada a relação entre a Encefalopatia Traumática Crônica e as cabeçadas neste esporte.

"Esse é um fato agora. Não estamos presumindo que outros jogadores podem ter morrido da mesma doença do meu pai, isso é um fato agora", disse ela.

Seus comentários foram feitos após a morte, em abril, do jogador Rod Taylor, que sofria desta mesma condição.

Sua filha, Rachael Walden, disse à BBC que cabecear não deveria ser banido, mas defende que a Associação de Jogadores de Futebol Profissionais (PFA, na sigla em inglês) e a Associação de Futebol, duas das principais entidades do esporte na Inglaterra, deveriam fazer mais para apoiar ex-jogadores e suas famílias.

"A demência do meu pai foi causada por cabeçadas e concussões. Não podemos esperar que eles morram antes de começar a ajudá-los. Precisamos ajudá-los agora", disse ela.

"Não estamos culpando os clubes de futebol ou os clubes pelos quais ele jogou. Temos orgulho deles. Não se trata de mudar o esporte, mas de tentar fazer com que a PFA assuma sua responsabilidade por seus membros na hora em que eles mais precisam."

Outros jogadores já foram diagnosticados com demência

Diversos ex-jogadores já foram diagnosticados com demência, entre eles os campeões mundiais Nobby Stiles, Martin Peters e Ray Wilson, que fizeram parte da seleção inglesa.

Ao falar sobre os efeitos das cabeçadas, Omalu disse: "O cérebro humano flutua como um balão dentro do crânio, então, quando você cabeceia uma bola, você sofre uma lesão cerebral. Você machuca seu cérebro quando cabeceia a bola".

"Jogar futebol aumentaria o risco de sofrer uma lesão cerebral quando você fica mais velho e de desenvolver demência e encefalopatia traumática crônica."

Já houve uma série de iniciativas para combater lesões na cabeça em esportes.

No críquete, passaram a ser admitidas substituições de jogadores que tenham sofrido concussões ou em casos em que há uma chance de que isso possa ter ocorrido.

No rugby, foi divulgado em março um plano de ação para tornar o esporte mais seguro.

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