Que benefícios têm realmente os escritórios que permitem que você trabalhe de pé?
Muitos profissionais passam várias horas do dia sentados, mas algumas empresas começam a oferecer alternativas para tentar combater o sedentarismo.
Vários estudos correlacionam a vida sedentária a uma série de doenças, como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e problemas cardíacos.
Muitos que trabalham em escritórios passam longos períodos do dia sentados, e o uso constante de emails, programas de mensagens e as tarefas diante do computador fazem com que sequer tenhamos que nos levantar para falar com os colegas que estão a vários metros de distância, em outros departamentos.
Por isso, faz alguns anos que alguns escritórios internacionais começaram a permitir que seus funcionários trabalhem de pé, investindo muito dinheiro em equipamentos para isso. Mas, de fato, isso é bom para a saúde?
Além das horas que ficamos sentados no trabalho ou quando estudamos, cada vez mais passamos nosso tempo livre nessa mesma posição, assistindo TV, jogando videogame, lendo, navegando na internet ou até mesmo nos meios de transporte.
Não há uma recomendação oficial sobre quantas horas do dia em que ficamos sentados seriam excessivas. Mas vários especialistas recomendam que deveríamos fazer intervalos durante os períodos de trabalho e estudo, além de nos movimentar em ao menos duas das oito horas de uma jornada de trabalho padrão.
E ir gradualmente aumentando o tempo em que nos movimentamos até passar metade do turno - ou seja, quatro horas - fazendo o que chamam de "atividades de intensidade leve".
Manter-se ativo é bom para a saúde física e mental
Essa é uma das recomendações de um comunicado publicado em 2014 no periódico British Journal of Sports and Medicine. Outro relatório publicado no mesmo ano pela autoridade de saúde da Inglaterra, a Public Health England, recomenda minimizar o tempo em que passamos sentados.
"Manter-se ativo é bom para a saúde física e mental. Mudanças simples de comportamento, como interromper longos períodos em que se passa sentado, podem fazer uma grande diferença."
Segundo o grupo de especialistas que fez o comunicado, ficar de pé ou fazer algum tipo de movimento por mais de duas horas por dia no trabalho está associado a menores riscos para a saúde.
E quem ficava de pé ao menos quatro horas por dia tinha um risco ainda menor, independentemente do nível de atividade física da pessoa.
Nesse contexto, os escritórios que permitem trabalhar de pé oferecem a oportunidade de mudar a postura e evitar ficar horas demais sentado.
A questão não é se esses escritórios são melhores do que os tradicionais ou não: a chave está no fato de que passar horas demais sentado não é bom para a saúde.
Trabalhar algumas horas de pé dá a oportunidade de uma pessoa ser mais ativa, assim como subir e descer escadas, fazer pausas no trabalho e mudar a postura regularmente ou fazer reuniões caminhando, uma moda há alguns anos nos escritórios mais inovadores.
O ponto positivo é que esses locais oferecem uma alternativa ao sedentarismo prolongado, ainda que passar muitas horas de pé também possa ser contraproducente para pessoas que sofrem de dores da coluna, por exemplo.
Se isso não é uma solução, pode ajudar a melhorar a saúde dos empregados.
Segundo um estudo recente da Universidade de Deakin, na Austrália, com mais de 230 profissionais de escritórios, a adoção das mesas ajustáveis que permitem alternar entre trabalhar de pé ou sentados pode prevenir doenças associadas à obesidade.
O investimento vale a pena para as empresas?
O estudo, publicado no Scandinavian Journal of Work, Environment and Health, estima que o custo de oferecer esse tipo de opção aos trabalhadores é de US$ 344 (cerca de R$ 1400) por pessoa, mas os autores da pesquisa acreditam que esse valor pode ser reduzido com a produção em maior escala das mesas ajustáveis, com pedidos maiores e com compartilhamento dos equipamentos pelas equipes.
"Essa intervenção tem o potencial de ter um impacto positivo, significativo e sustentável para reduzir o tempo que se passa sentado no trabalho, mas o mais importante é que vale a pena o investimento", disse a pesquisadora Lan Gao, líder do estudo.
"Na verdade, não há evidências suficientes para fazer uma recomendação específica sobre quanto tempo sentados ou deitados está associado a resultados piores para a saúde", disse ela ao jornal britânico The Guardian. "Mas se recomenda interromper o tempo em que se fica sentado ou deitado com a maior frequência possível."
Por outro lado, ainda não há muitos estudos a respeito, mas uma pesquisa recente com 96 pessoas concluiu que trabalhar de pé no escritório por 30 minutos não tinha nenhum efeito adverso sobre a criatividade dos trabalhadores em suas tarefas profissionais.
Mas a pesquisa, publicada em 2017 no International Journal of Environmental Research and Public Health, diz que ainda resta investigar o impacto sobre a produtividade após várias horas de trabalho.