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Sete anos depois, estação brasileira renasce na Antártida

Substituta de base que pegou fogo, nova unidade deve ser concluída em março

24 fev 2019 - 03h10
(atualizado às 18h15)
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É uma construção de respeito. Capaz de superar ventos de até 200 km/h, abalos sísmicos frequentes, solos sempre congelados. Só em estruturas de aço de alta resistência são 700 toneladas e as fundações atingem até 28 metros de profundidade. No total, 54 pilares sustentam 226 contêineres de 3,5 toneladas.

A nova estação brasileira na Antártida impressiona pelos desafios logísticos e de engenharia e pelos traços futuristas. Projetada pelo escritório de arquitetura curitibano Estúdio 41, escolhido num concurso, e executada pela China National Electronics Imports and Exports Corporation (Ceiec), a obra custou US$ 99,6 milhões (cerca de R$ 373 milhões) e deve ser concluída no dia 12. Mas só deve ser inaugurada oficialmente no próximo verão.

Visão da Estação Antártica Comandante Ferraz em 2008
Visão da Estação Antártica Comandante Ferraz em 2008
Foto: Paulo Whitaker / Reuters

O Estado passou esta semana na Estação Antártica Comandante Ferraz acompanhando os últimos trabalhos da construção, que começou em novembro de 2015, ainda sob impacto do incêndio que há exatos sete anos destruiu 70% das instalações e matou dois militares. Mais de 200 chineses se revezam quase 24 horas por dia na obra. Muitos vieram de Harbin, região perto da fronteira com a Rússia famosa pelo festival de esculturas de gelo e frio intenso.

A Ceiec desbancou finlandeses, chilenos e brasileiros na concorrência feita pela Marinha. Entre as atribuições do contrato, está levar de volta à China todos os contêineres, guindastes, veículos e materiais de construção que não servirem. "Mais de 80% da obra já está pronta e a partir de março o canteiro começará a ser desmontado. Em 5 de abril, a maioria dos chineses vai sair daqui no navio Magnólia rumo ao aeródromo da base chilena", diz o capitão de mar e guerra da reserva Geraldo Juaçaba, responsável pela reconstrução. Ficarão 25 chineses, que passarão o inverno com 16 militares brasileiros e têm a missão de manter a estação aquecida e testar equipamentos.

A base é composta por três blocos com capacidade para até 64 pessoas. O Leste, destinado às pesquisas, serviços e convívio, tem 14 laboratórios, refeitórios, cozinha e setor de saúde. O Oeste, 32 camarotes, biblioteca, ginásio e auditório, além de paiois de mantimento e tanques no nível inferior.

Formação do continente

No Técnico, geradores, garagem, caldeiras, um incinerador apelidado de dragão e estação de tratamento de água e esgoto, entre outras coisas. Há ainda oito aerogeradores de energia, painéis solares e módulos isolados, de telecomunicações, meteorologia e ozônio, lavagem de sedimentos, mergulho e resíduos perigosos. Todas as fundações do prédio principal foram pré-montadas em Shangai e trazidas de navio em 2016. No ano seguinte, foram fabricados e pré-montados pilares, estruturas e contêineres.

A construção foi vista pela Marinha como uma forma de transferência de tecnologia. Tanto que engenheiros brasileiros passaram quase um ano na China supervisionando os preparativos.

O engenheiro eletricista e capitão-de-corveta Daniel Pontes foi um deles. Com quase tudo pronto, diz sentir grande orgulho. "Se essa estação não é a mais moderna da Antártida, certamente é uma das mais." A seu lado, o engenheiro mecânico e capitão-tenente Christovam Leal Chaves conta que mais de três mil itens foram analisados pela fiscalização.

Depois do trauma do incêndio de 2012, a segurança virou quase obsessão e acabou ampliando a área da base. "Nosso projeto original tinha 3,3 mil m², mas a estação acabou ficando com 4,5 mil m², em boa parte para aumentar a segurança", explica Juaçaba. É quase o dobro da antiga, que tinha 2,6 mil m². Tudo também foi pensado para reduzir custos. "Não há lugar mais caro para construir e manter que a Antártida. É fundamental pensar na logística para fazer, ocupar, manter e desmontar se necessário", diz a arquiteta Cristina Engel, que ajudou a montar os requisitos para construção. "O Brasil é um país tropical que teve de aprender a construir na Antártida."

Enquanto a obra da estação não termina, militares e alguns civis brasileiros ocupam o Módulo Antártico Emergencial (MAE). Feito por uma empresa canadense, é uma junção de cerca de 60 contêineres, que formam área de aproximadamente 950 m² e permitem uma rotina confortável, com três alas de alojamentos, refeitório, enfermaria, banheiros e academia de ginástica.

Ciência

Requisito para o Brasil continuar membro consultivo do Tratado da Antártida, as pesquisas científicas no continente continuaram após o incêndio, no MAE e em estações parceiras. Mas a maior parte dos estudos é feita fora da Comandante Ferraz, no Navio Polar Almirante Maximiano, no Módulo Criosfera 1, a 2,4 mil km ao sul da base brasileira, e em acampamentos. Cientistas costumam, porém, amargar fases de incerteza em relação à verba para pesquisas. O edital de 2013, que era para ter sido pago até 2016, teve a última parcela paga em 2017. Em novembro, o governo federal liberou edital de R$ 18 milhões.

"A situação agora está melhor e os pesquisadores estão na expectativa da inauguração da nova estação e da aquisição de equipamentos para os laboratórios pelo Ministério da Ciência e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)", conta Jefferson Cardia Simões, vice-presidente do Comitê Científico Internacional de Pesquisa Antártica. As pesquisas, diz ele, abrangem desde ciências básicas da atmosfera até estudo de como a massa de gelo responde às mudanças climáticas e impacta a elevação do nível dos mares. "Ao reinaugurarmos a estação, não estamos falando só de ciência. Será a casa do Brasil na Antártida e demonstra nosso interesse em dizer: 'Olha, também queremos decidir o futuro dessa região do planeta'."

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