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Como o Brasil pode reduzir as emissões de metano

Agropecuária foi responsável por 71% da emissão de poluente no último ano; País assumiu compromisso de diminuir 30% até 2030

3 nov 2021 - 21h59
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O Brasil e mais de cem países assinaram um acordo nesta terça-feira, 2, para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, em um anúncio liderado pelos Estados Unidos na COP-26. A agropecuária foi responsável por 71,85% das emissões brasileiras de metano em 2020, segundo dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), ligado ao Observatório do Clima. Por isso, o cumprimento da meta dependerá de mudanças no setor, como melhoras no manejo de pastagens e na atenção nutricional aos animais.

No Brasil, o setor agropecuário brasileiro emitiu 14.543.687 toneladas de metano apenas em 2020. O restante das emissões do poluente no País estão ligadas aos setores de resíduos (15%, com 3.174.819 toneladas), uso de terras e florestas (8,6%), energia (3,6%) e processos industriais (0,2%).

Elaborado pelo SEEG, o relatório Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa de 2021 apontou que a "fermentação entérica" (popularmente chamada de "arroto do boi", gerada pela digestão dos ruminantes) é responsável por quase dois terços (65%) de todas as emissões de poluentes pelo agro no País. A maior parte, 96,9%, é proveniente de rebanhos de bovinos de corte e de produção de leite, o que inclui também o manejo dos dejetos dos animais.

As emissões de gases de efeito estufa aumentaram 1,7% no gado de corte em 2020, segundo o relatório. O incremento está relacionado à redução do consumo de carne bovina, "o que manteve mais gado no pasto e, portanto, mais metano sendo emitido pelo rebanho". No caso do metano, a emissão também ocorre no cultivo de arroz irrigado, no manejo do solo e na queima de resíduos agrícolas.

Produção de gado é o foco principal

Diferentemente do Brasil, outras partes do mundo têm em setores como o de combustíveis e resíduos uma maior fatia na emissão de metano. Diretora executiva da Imaflora (ONG que coordena a parte de agropecuária do SEEG), a engenheira agrônoma Marina Piatto destaca que a produção de gado precisará ser o principal foco brasileiro para garantir redução.

"A maior parte vem da fermentação entérica. O nosso rebanho é formado por 220 milhões de cabeças de gado (o maior do mundo)", destaca. Ela pondera que uma redução no número de animais por meio de uma mudança nos hábitos de consumo seria mais difícil e ressalta que a adoção de técnicas de aperfeiçoamento do manejo garante mudanças significativas.

Estas melhorias abrangem especialmente uma pastagem com gramínea de melhor qualidade, uma suplementação nutricional e outras medidas. O resultado é tanto um uso mais qualificado da terra quanto o alcance do peso ideal mais cedo. Em vez do abate do boi na casa dos três anos e meio ou quatro anos, isso pode ocorrer por volta dos dois anos.

"O animal é uma máquina viva de produção de metano. Se ele tem uma pastagem e uma suplementação bem feitas, tem um ganho de peso mais rápido e não precisa ficar até 4 anos no pasto fermentando", compara. "É um conjunto de tecnologias simples, que dobram, às vezes triplicam, a eficiência produtiva e reduzem a emissão por quilo de carne."

Na avaliação da engenheira, é importante haver um período de transição equilibrada, para garantir que os diferentes perfis de produtores, especialmente os de menor porte, acompanhem esse processo. Ela cita exemplos de medidas para este meio tempo, como crédito subsidiado, assistência técnica e incentivos vindos do próprio setor privado (como o pagamento de prêmio de performance).

"Precisa de uma força-tarefa do setor público e privado. O ideal é uma transição inclusiva com incentivos por 5 ou 10 anos, para o produtor se modernizar, depois determinar que a partir de tal data não será mais aceito abate de boi velho, desmatagem, pastagem degradada…"

Segundo Paulo Artaxo, professor de Física da Universidade de São Paulo (USP), "medidas simples e efetivas" podem impactar na redução das emissões de metano. "A indústria e a pecuária estavam relutantes em fazer há muitos e muitos anos. É uma proposta que está em cima da mesa há muito tempo", afirma ele, integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, o IPCC.

Ele cita o exemplo de estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que demonstraram que uma melhora na qualidade das pastagens aumentaria a produtividade da pecuária e reduziria o impacto ambiental. "É uma situação que todos ganham", comenta.

Setores de energia e resíduos também são emissores

Em energia, por sua vez, a liberação de metano ocorre pela queima de combustíveis e as chamadas "emissões fugitivas", que são decorrentes do escape do metano durante a exploração de petróleo e gás natural. No setor petrolífero, afirma Artaxo, grande parte do metano emitido é oriundo de vazamentos. "Ou seja, se estancar os vazamentos, além de reduzir as emissões, tem ganho de produção. De novo, todos ganham."

Além disso, como o relatório do SEEG destaca, no caso da gestão de resíduos, as emissões de metano e dióxido de carbono em aterros sanitários representam umas das principais emissoras de gases de efeito estufa em regiões metropolitanas. "Com a pandemia, levantamentos iniciais indicaram um aumento de 10% na geração de resíduos no ano de 2020", salienta.

Estadão
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