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Escolas usam projetos interdisciplinares para discutir poluição nos oceanos

Instituições brasileiras públicas e privadas podem participar do projeto Rede Escola Azul, liderado pela Unifesp, para engajamento na cultura de preservação oceânica

27 jun 2022 - 10h32
(atualizado às 12h33)
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O Colégio Marista de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, está a aproximadamente 400 km de distância do Oceano Atlântico. Mas a instituição era uma das três escolas brasileiras presentes no Campus Unesco, evento do braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, Ciência e Cultura realizado no início do mês junho pelo Dia Mundial dos Oceanos. Em 2019, uma turma e uma professora começaram a discutir o tema do lixo no mar. Três anos depois, a cultura oceânica se espalhou por todo o Ensino Fundamental II da escola.

"Em 2020, eles formaram o grupo 'As coralinas', integrando professoras de Ciências, Artes, Literatura e Religiosidades. Sob o tema recifes de corais e mudanças climáticas, vários outros debates vieram à tona, inclusive discussões associadas ao gênero na ciência", afirma Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A expansão da educação sobre os oceanos, no caso ribeirãopretano, continua. "No ano passado, o tema passou a ser trabalhado do ensino infantil ao ensino médio, com professores de todas as áreas. A Feira de Ciências anual da escola também foi sobre o tema dos oceanos e, neste ano, será de novo", explica o pesquisador da Unifesp, também um dos coordenadores do projeto Maré da Ciência, um programa de extensão do Campus Baixada Santista da Federal de São Paulo.

Exemplo de Portugal

Uma das ações estimulada a partir da instituição de ensino superior é a criação da Rede Escola Azul no Brasil. Um conceito que surgiu em Portugal e, agora, começa a se espalhar pelo País. O objetivo, neste caso, é trabalhar de forma transversal o tema oceano dentro do currículo escolar.

Os materiais e as estratégias repassadas aos educadores visam a desenvolver um pensamento crítico e criativo para engajar ativamente a comunidade escolar na cultura oceânica. E ainda incentivar os estudantes a terem uma maior consciência sobre os problemas ambientais marinhos, algo decisivo para que as novas gerações possam promover, e cobrar, ações e mudanças de comportamento em prol da sustentabilidade oceânica. O bioma é essencial para a vida na Terra.

"O Campus Unesco foi um momento onde nossos estudantes puderam refletir e discutir temas alinhados com as agendas globais, no papel de protagonistas do conhecimento, o que certamente marcou a vida de cada um, positivamente", afirma

Thais Pileggi, professora do Marista de Ribeirão Preto e uma das coordenadoras da iniciativa dentro da instituição. "Percebemos que atividades como essa promovem grandes transformações nos estudantes que já podem ser percebidas no dia a dia de cada um, por meio do engajamento e da consciência de que, para construirmos um futuro que queremos, dependemos do presente que fazemos para criar as mudanças que o mundo necessita."

Se em 2020 participaram do projeto 90 alunos, hoje, todos os mil alunos da escola estão sendo impactados pelo tema dos oceanos. Um dos projetos em curso neste ano é a discussão sobre a pesca artesanal com as pequenas e pequenos do ensino infantil.

"Pertencimento, união, trabalho em conjunto para sustentabilidade e formação de futuros profissionais e cidadãos adultos que tenham consciência da importância do oceano desde a sua formação inicial." Esse é o principal legado da Rede Escola Azul, afirma Ronaldo Christofoletti. E, segundo ele, qualquer escola do País pode pleitear fazer parte do projeto. "A Rede Escola Azul permite que as escolas das diferentes realidades (públicas, privadas, rurais, urbanas, costeiras, de classes alta ou baixa) troquem conhecimentos e experiências e percebam que a cultura oceânica - conceito chave da Década do Oceano que trata de entendermos como se dá a influência do oceano em nossas vidas - une a todos nós independentemente do país, distância do mar e realidade sociocultural", diz o pesquisador.

Por ser um dos integrantes do "cardume" que quer espalhar a importância dos oceanos, Christofoletti está acostumado a perceber o impacto que as atividades escolares, seja no Brasil ou no exterior, costumam ter. Segundo ele, quando crianças e professores de diferentes realidades se veem unidos por uma mesma causa e notam como que a ação local deles na comunidade escolar está diretamente ligada às metas globais das agendas da ONU e Unesco, as atividades e trabalhos ganham um significado maior do que o seu conteúdo. "Eles compreendem que decisões globais tomam vida e corpo nas ações locais. A rede permite mais do que a troca de conhecimento, a formação de uma cidadania azul, de cidadãos conscientes do seu papel hoje e em sua futura profissão, de conservar os oceanos", explica.

Engajamento

O evento realizado pela Unesco no dia 8 de junho - e o braço da ONU para a Educação, Ciência e Cultura tem vários projetos que buscam alavancar o tema marinho - contou ainda com o Colégio Objetivo de Rio Claro e o Colégio Pio XX da capital paulista. Além de uma escola de Portugal e duas de Angola. "Foi o primeiro "Unesco Campus" lusófono, realizado inteiramente em português", afirma Vinicius Lindoso, da Comissão Intergovernamental Oceanográfica da Unesco.

Em termos de Educação, explica o representante da entidade internacional, uma das ações recentes da Unesco visa a engajar seus países-membros a adotar a temática dos oceanos em seus currículos escolares até 2025. Assunto, inclusive, que estará em debate na Conferência da ONU sobre Oceano que começa nesta segunda-feira, 27, em Lisboa.

A rede portuguesa das escolas azuis também preparou um evento para ser realizado durante a reunião internacional. "As nossas escolas brasileiras da rede, e de outros países, estão interagindo de forma eletrônica. As instituições gravaram vídeos com os alunos perguntando para as crianças portuguesas curiosidades sobre a conferência. Neste primeiro dia da reunião, os alunos de Portugal vão gravar as respostas que circularão pelas redes sociais", explica o pesquisador da Unifesp.

Segundo Christofoletti, é algo simples, mas que vai permitir às crianças saber, por meio de pessoas da mesma idade, o que significa estar em uma conferência internacional, do porte da realizada pela ONU sobre os oceanos. E, mais uma vez, perceber como as grandes discussões globais, quase sempre, tem uma ligação direta com o dia a dia das pessoas, ainda mais quando se trata de temas ambientais.

Estadão
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