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Entenda o que é a "chuva negra", fenômeno que pode atingir SP neste fim de semana

Ocorrência é resultado da chegada da fumaça das queimadas do Pantanal que se junta à alta carga de poluição atmosférica produzida na cidade

19 set 2020 - 06h59
(atualizado às 09h25)
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SÃO PAULO - Com possibilidade de acontecer até domingo, 20, em São Paulo, o fenômeno da "chuva negra" resulta da chegada da fumaça das queimadas do Pantanal que se junta à alta carga de poluição atmosférica produzida na cidade. Segundo pesquisadores, embora o acúmulo de material particulado no ar aumente riscos para saúde e possa provocar problemas respiratórios, a chuva, em si, tem maior potencial de poluir rios e mananciais - sem grandes impactos para pessoas, casas ou veículos.

Os incêndios lançam à atmosfera fuligem e material particulado, que são partículas muito finas de sólidos ou líquidos que ficam suspensas no ar, além de gases como monóxido (CO) e dióxido de carbono (CO2). As correntes aéreas, no entanto, arrastam a fumaça desde os focos da queimada, hoje principalmente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, até outras regiões.

Partículas mais pesadas sedimentam no caminho, mas boa parte da poluição é transportada por centenas de quilômetros. Em região de influência de deslocamentos de correntes de ar, São Paulo acaba recebendo parte dessa carga poluente, que pode bifurcar e chegar a Estados da Região Sul ou à Argentina.

Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy explica que, na capital paulista, o produto dos incêndios encontra a atmosfera já carregada de impurezas. "É um 'plus' de poluição chegando e se agregando no momento em que a umidade está muito baixa", afirma. Segundo Bocuhy, o cenário de poluição extra deve ser considerado preocupante. "A literatura científica identifica a fuligem como de periculosidade para a saúde e que afeta principalmente idosos, crianças e pessoas com menos recursos financeiros."

"Quando o material particulado entra pelas narinas, os alvéolos não conseguem filtrar, de tão pequenos que são, então vai direito para a corrente sanguínea", descreve o presidente do Proam. "Há estudos que o associam a problemas no sistema respiratório e também acaba sendo um elemento carcinogênico, ou seja que potencializa o desenvolvimento de câncer."

Bombeiros combatem focos de queimada em reserva de Presidente Epitácio, no oeste paulista. Área teve quatro queimadas em um mês
Bombeiros combatem focos de queimada em reserva de Presidente Epitácio, no oeste paulista. Área teve quatro queimadas em um mês
Foto: Corpo de Bombeiros / Divulgação. / Estadão Conteúdo

É o excesso de poluentes no ar que "escurece" a chuva, diz o pesquisador: "A 'chuva negra' não é prejudicial, ela limpa a cidade: tira da atmosfera e lança na água". O problema, diz Bocuhy, é que a chamada poluição difusa - detritos acumulados que a água retira do ar ou das superfícies, como asfalto, veículos e construção - vai parar nos rios. "Ela é carregada para o solo, escorre superficialmente e acaba nos mananciais."

Participante de pesquisa que monitora a presença de poluentes a atmosfera, Eduardo Landulfo, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen-Cnen), explica que a "chuva negra" pode se formar por duas situações. A primeira é quando a carga se encontra com uma nuvem de chuva, os materiais se agregam e há precipitação. Já a segunda acontece quando a "pluma de fumaça" se forma abaixo da nuvem. "Se chover, a água capta essa sujeira e aí transforma na 'chuva negra'."

Segundo afirma, os principais impactos da chuva são relativos à poluição difusa, mas sem grandes riscos para pessoas ou bens. "Como há compostos de nitrogênio e oxigênio, poderia acidificar, mas essa hipótese é só se chover por vários dias, com efeito prolongado", explica. "Se chover um dia só, é só lavar o carro, para não ficar sedimentos, aqueles pontinhos pretos, que podem comprometer a lataria."

Estadão
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