País perde 20% da energia gerada no sistema de transmissão
Pesquisa indica que da geração até a chegada ao consumidor, o País perde 20% da energia produzida. O volume desperdiçado no sistema de transmissão é muito superior ao verificado no Chile (6%) e na Europa (7%), de acordo com o relatório O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade, preparado um um grupo de organizações não governamentais que acompanha o setor.
De acordo com o estudo, a ineficiência do setor elétrico é paga pelo consumidor, que recebe contas com valores cada vez mais elevados e sofre com apagões.
O cálculo das perdas é resultado de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União em 2007, em que foram avaliadas as deficiências no sistema de transmissão.
Para as ONGs, o investimento do governo na construção de hidrelétricas distantes das grandes cidades pode agravar ainda mais a situação. A principal crítica diz respeito ao custo da transmissão da energia produzida a longas distâncias.
"As consequências da transmissão de longa distância, que ainda carecem de manutenção, são claramente perceptíveis pela população, afinal, as falhas nas linhas de transmissão, muitas vezes, acarretam nos denominados 'apagões' que se tornaram recorrentes na realidade da população brasileira nos últimos anos", destaca a advogada Oriana Rey, assessora do Programa Ecofinanças da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.
Segundo o trabalho do TCU o impacto das perdas sobre a tarifa média chega a 5%. Ao contabilizar a energia não faturada e o imposto que deixou de ser recolhido em 2007, o governo deixou de receber cerca de R$ 10 bilhões, somente naquele ano.
Em fevereiro do ano passado, 33 milhões de habitantes de oito Estados ficaram sem luz por aproximadamente quatro horas. Em novembro de 2009, problemas nas linhas de transmissão de Itaipu atingiram 70 milhões de habitantes de 18 Estados brasileiros.
Para os autores do estudo, se houvesse investimento adequado para melhorar a eficiência do sistema de transmissão de energia elétrica brasileiro seria possível reduzir as pressões para construção de novas hidrelétricas na região amazônica.
O trabalho considera que o potencial de energia solar e eólica no Brasil tem sido menosprezado nas políticas públicas do setor energético.
De acordo com o documento, com as tecnologias disponíveis atualmente para aproveitamento de energia solar, seria possível atender a 10% de toda a demanda atual de energia elétrica com a captação em menos de 5% da área urbanizada do Brasil. Os estudos apontam que, no caso da energia eólica, o potencial inexplorado chega a 300 gigawatts (GW), o que equivaleria a quase três vezes o total da capacidade atual instalada.
"A questão central é que há uma necessidade de abrir um debate mais amplo entre governo e sociedade. Criticamos as premissas usadas para estimar a demanda por energia, que são baseadas apenas no PIB", diz o geógrafo Brent Millikanm, diretor do Programa Amazônia da ONG International Rivers - Brasil.
De acordo com os pesquisadores, a ausência de uma política de incentivos para a inovação tecnológica e a ampliação da escala de produção de energia têm prejudicado a expansão de outros potenciais elétricos do País.
Os representantes das organizações Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace Brasil, Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, International Rivers - Brasil, Amazon Watch e WWF - Brasil dizem que a falta desses estímulos prejudica diretamente os resultados da indústria nacional.