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Tambores da Shell achados no Nordeste eram de empresas dos Emirados Árabes e da Libéria

Autoridades brasileiras cobraram explicações da multinacional; governo investiga se óleo dos recipientes é o mesmo que se espalhou por 178 pontos do litoral

17 out 2019 - 19h50
(atualizado às 21h32)
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BRASÍLIA - Os tambores da companhia Shell encontrados no litoral do Nordeste, em meio ao derramamento de borra de petróleo em 2 mil quilômetros da costa brasileira, foram produzidos e comercializados por empresas do grupo Shell localizadas na Europa e no Oriente Médio. O governo ainda investiga se o material da empresa é o mesmo que polui 187 pontos da costa brasileira desde o fim de agosto.

O Estado obteve, com exclusividade, detalhes das informações repassadas pela companhia anglo-holandesa às autoridades brasileiras. No documento sigiloso, a Shell encaminha ao governo brasileiro dados de dois compradores dos produtos encontrados no Brasil. A primeira é a empresa Hamburg Trading House FZE, uma distribuidora baseada nos Emirados Árabes , que adquiriu 20 tambores do lote encontrado na costa brasileira. O segundo cliente é a empresa Super-Eco Tankers Management, baseada em Monrovia, na Libéria, na África Ocidental, que comprou cinco tambores do lote da Shell.

Segundo informações técnicas da Shell, a Super-Eco Tankers Management, que comprou cinco tambores, "potencialmente opera em águas brasileiras". A distribuidora dos Emirados Árabes, na avaliação da empresa, é menos provável que passe pela costa do Brasil. A multinacional informa ainda, no documento, que a identificação do produto no tambor como "Argina S3-30" é produzido e comercializado em vários países. Foi por meio do código do tambor iniciado com o número "55", que a empresa identificou que se trata de produtos produzidos na Europa e no Oriente Médio.

O lote de tambores, que tem data de 17 de fevereiro de 2019, foi produzido em Dubai pela Shell Markets. Depois, esses tambores foram comercializados por outra empresa do grupo, a Shell Eastern Trading (SET) no Porto dos Emirados Árabes. As informações foram enviadas à Shell Brasil por meio da SET.

No documento, a Shell informa que o primeiro tambor encontrado com a logomarca da empresa "não foi produzido ou comercializado pela Shell Brasil" e que se trata, efetivamente, de um "produto líquido límpido, de coloração âmbar", diferente do que está invadindo o litoral do Nordeste.

No momento da venda dos lotes, afirma a empresa, houve "transferência de titularidade e custódia do produto e da sua embalagem pela SET ao cliente e ao distribuidor". Por isso, alega a SET, empresa do grupo Sheel, que a informação encaminhada sobre detalhes dos lotes e seus compradores "não indica necessariamente que tais empresas (cliente e distribuidor) sejam proprietários ou possuidores dos tambores investigados".

Material da Shell e óleo achado nas praias têm parentesco, mostra estudo da UFS

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou nesta quarta-feira áreas afetadas pelo vazamento de óleo no Nordeste em Bahia, Alagoas e Sergipe. Ele se reuniu com o professor Alberto Wisniewski, do Departamento de Química da Universidade Federal do Sergipe (UFS) e responsável pela análise do material encontrado nos barris da Shell e nas praias de Sergipe. "Ele (Wisniewski) explicou para nós que são fisicamente diferentes porque um está diluído, com contato com o mar, e o outro concentrado no barril, mas a fonte molecular é a mesma. O DNA é o mesmo", afirmou Salles ao Estado. "O que está nos barris está em conformidade com o que está na costa", disse.

Na avaliação do governo, a hipótese mais forte sobre a origem do crime ambiental, neste momento, é de "navio fantasma", embarcação clandestina que faz o contrabando de petróleo. Análises da Petrobrás e da Marinha já apontaram a origem venezuelana do material encontrado nas praias. O governo Nicolás Maduro, porém, nega que o óleo seja do país vizinho.

Estadão
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