Clima extremo afastou 242 milhões das escolas em 2024, diz Unicef
Levantamento da Unicef aponta que eventos climáticos extremos como enchentes, ondas de calor e ciclones atingiram alunos em pelo menos 85 países. Ásia é o continente mais afetado.Condições climáticas extremas afastaram um em cada sete adolescentes e crianças no mundo das salas de aula em 2024, conforme um levantamento divulgado pelo Unicef nesta sexta-feira (24/01), Dia Internacional da Educação.
Segundo o órgão das Nações Unidas, pelo menos 242 milhões de estudantes em 85 países deixaram de frequentar a escola devido a ondas de calor, inundações, ciclones e outras intempéries.
O relatório Learning Interrupted: Global Snapshot of Climate-Related School Disruptions in 2024 ("Aprendizado Interrompido: Panorama Global das Interrupções Escolares Devido ao Clima em 2024", em tradução livre) apontou que as ondas de calor foram os principais eventos responsáveis pelo fechamento de escolas ou interrupção de aulas - desde a pré-escola até o ensino médio.
O dado coincide com o fato de 2024 ter sido o ano mais quente da história. Segundo o Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia, o ano passado registrou pela primeira vez períodos com a temperatura global 1,5 ºC acima dos níveis do período pré-industrial.
Dos 85 países atingidos, ao menos 23 tiveram de fechar instituições de ensino diversas vezes. No Afeganistão, por exemplo, além de ondas de calor, inundações repentinas destruíram ao menos 110 escolas em maio.
A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, afirmou que "crianças são mais vulneráveis aos impactos das crises climáticas, como ondas de calor, tempestades, secas e inundações mais fortes e mais frequentes".
"Os corpos das crianças são especialmente vulneráveis. Elas se aquecem mais rapidamente, transpiram de maneira menos eficiente e se resfriam mais lentamente do que os adultos. Não conseguem se concentrar em salas de aula com um calor sufocante e também não conseguem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as escolas forem levadas pelas águas. [Tudo isso] Afeta a educação a longo prazo", destacou.
Russell também enfatizou que a educação é um dos serviços mais diretamente afetados pelos riscos climáticos e, por isso, deveria receber maior atenção das autoridades: "Mas ela é frequentemente ignorada nas discussões políticas. O futuro das crianças deve estar na linha de frente de todos os planos e ações relacionados ao clima", concluiu.
Sul da Ásia é a região mais atingida
Enquanto as inundações afetaram estudantes afegãos em maio, o relatório do Unicef aponta que as maiores interrupções ocorreram em setembro, justamente o mês de início do ano letivo em várias regiões em todo o mundo.
Nesse período, pelo menos 16 países tiveram de suspender as aulas devido a eventos climáticos extremos, especialmente no leste da Ásia e no Pacífico devido ao tufão Yagi, que afetou um total de 16 milhões de crianças. Ao longo do ano, nessas regiões, um total de 50 milhões de alunos foram diretamente atingidos.
O sul da Ásia, no entanto, foi a região mais afetada em 2024, com 128 milhões de alunos, a maioria na Índia, onde ao menos 54 milhões sofreram com ondas de calor - o mesmo ocorreu em Bangladesh para 35 milhões.
Somente no mês de abril, além de Índia e Bangladesh, as ondas de calor atingiram mais de 170 milhões de crianças e adolescentes em outros países do sul e sudeste asiático, a exemplo de Camboja, Tailândia e Filipinas.
África sofre com tempestades e seca
Na África, o fenômeno El Niño continuou a ter impacto devastador, com chuvas fortes e inundações frequentes no leste do continente e secas severas em partes do sul.
O ciclone Chido e a tempestade tropical Dikeledi, por exemplo, deixaram o território francês de Mayotte em ruínas e destruíram mais de 330 escolas em Moçambique, prejudicando gravemente a educação.
Atualmente, mais de 107 milhões de crianças estão fora da escola no continente africano. E as interrupções relacionadas ao clima em 2024 colocaram mais 20 milhões delas em risco de abandono escolar.