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Coluna do Nilton Bonder: Vestes da Alma

Assim como há roupas para o corpo, existem roupas para a alma.

5 dez 2021 - 07h11
(atualizado às 19h13)
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Assim como há roupas para o corpo, existem roupas para a alma. São três as roupas da alma: o pensamento, a fala e a ação.

Através desses trajes, interagimos uns com os outros. A fala e a ação são peças explícitas. E mesmo o pensamento, inicialmente oculto, tal qual roupa de baixo, também aos poucos se revela. Juntos, respondem pelo look externo que veste a alma.

E é assim que somos vistos pelos outros, já que não enxergam a alma, mas tão somente os pensares, os falares e os agires de nossa pessoa. Para revelar a alma nua, à aura pelada, seria preciso desnudar-se da consciência e desses três recursos.

Suas propriedades são próprias de vestimentas. E tal qual as vestes podem ser retiradas ou trocadas, as falas podem ser coibidas e mudar de assunto, as ações contidas e alteradas, e os pensamentos, mesmo com toda a sua autonomia, contornados por ideias e interesses.

Dior, Stella McCartney, Valentino, Valentino e Paul Smith  
Dior, Stella McCartney, Valentino, Valentino e Paul Smith
Foto: Divulgação / Estadão

Porém não é assim com as emoções e com a inteligência, manifestações estas incontinentes e involuntárias da alma. Também suas qualidades são análogas. Questionaria o raso: "Mas as roupas não são a hipocrisia do corpo?". Não o são!

É que a qualidade das roupas está justamente em traduzir a essência para o outro. Para si o corpo é sempre mais verdadeiro que as vestes, mas para os outros, as roupas são mais significativas que o corpo. Heresia? Veja, por exemplo, que o amor que você sente, que para você é o fundamental, para o outro é o amor que você pensa, fala e age, o mais importante.

Para a relação dos humanos que vestem a alma, o voluntário é sempre muito mais relevante que o involuntário. O voluntário é a única pele com a qual podem se roçar e se tocar. Toda a carícia depende desses invólucros da essência! Usar roupas para si mesmo representa mascarar, confundir e iludir a si próprio. No entanto, usar roupas para o outro é como pensar, falar e agir por você na realidade do outro.

Sim, as roupas são parte do que é voluntário em cada um; e o corpo, do que é involuntário. Sim, as vestes, tal como a identidade e a consciência, dão rosto e nome ao que seria meramente percebido como um corpo no espaço. Razão pela qual despir-se é mais nudez para humanos do que estar nu. Os rebeldes, os exibicionistas e até os naturistas, mais do que ninguém, sabem que sua nudez perante os outros é a mais artificial e eloquente forma de vestuário.

Estadão
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