Como a ciência de dados está transformando o futebol: do treinamento à experiência dos fãs
Análise de dados revoluciona o futebol e ganha destaque no primeiro Symposium on Analytics for Football Excellence
No mundo do futebol, cada movimento em campo, decisão tática e escolha de treinamento pode ser otimizado com ciência de dados. Essa área combina estatística, inteligência artificial e ciência cognitiva, criando estratégias para melhorar a performance de jogadores, prever lesões e, cada vez mais, engajar fãs.
Essa abordagem permite uma visão mais abrangente e precisa do que o uso isolado de observações ou estatísticas básicas. Com técnicas avançadas de aprendizado de máquina, otimização combinatória e reconhecimento de padrões, é possível identificar talentos emergentes, otimizar performances e engajar fãs de maneiras inovadoras.
Prevenindo Lesões: Intenso Monitoramento para Maior Segurança
Imagine um jogo decisivo: um jogador essencial começa a demonstrar sinais de fadiga, mas isso não é visível para o público. Hoje, clubes de maneira geral utilizam sensores vestíveis que monitoram dados como frequência cardíaca, velocidade e carga física durante os treinos e as partidas.
Esses dados são processados e servem de base para alertar os treinadores sobre a necessidade de substituir o jogador ou poupá-lo de partidas antes que uma lesão ocorra. Além de informações obtidas durante o esforço físico, é possível utilizar dados de saúde, como a qualidade do sono, para enriquecer as informações sobre um atleta e ajudar a comissão técnica a tomar a melhor decisão.
No estudo, os autores propuseram um modelo baseado em inteligência artificial para prever episódios de lesões sem contato. O modelo conseguiu prever, aproximadamente, 70% dos casos de lesões, o que é um ganho significativo.
Análise tática e otimização de performance: o futebol é uma rede complexa
O jogo de futebol é um jogo de conquista de território. Sendo assim, um dos principais fundamentos para que uma equipe possa evoluir em campo é o passe. Durante uma partida, é possível identificar cada passe de uma equipe e gerar o que é chamado de rede de passes. A rede de passes é considerada uma rede complexa, pois varia rapidamente com o tempo. Entretanto, ainda é possível obter informações relevantes analisando a rede de passe sem este caráter temporal.
A Figura 1 apresenta a rede de passes de Espanha e Inglaterra na final da Copa do Mundo Feminina de 2023. Através desta rede é possível avaliar, na média, quantos passes são necessários para se chegar à meta adversária, quais jogadores foram mais importantes naquele jogo e, até se o esquema tático utilizado pelo treinador é mais vertical ou mais cadenciado.
Além dessas informações, é possível criar métricas como a que os autores sugeriram no estudo "Analisando Robustez da Rede de Passes Através da Dispersão de Hub e Authority". Neste trabalho, os jogadores são classificados como hubs (passadores) e authorities (recebedores de passes).
A pesquisa analisa se uma equipe possui uma distribuição mais homogênea sobre essas duas características. Como resultado, o trabalho concluiu que equipes que possuem valores mais altos para essa métrica ocupam os primeiros lugares nas principais ligas do mundo.
Engajamento dos fãs: uma nova experiência com dados
Jogos virtuais de fantasia baseado no futebol vem atraindo uma legião crescente de entusiastas, representando uma interseção fascinante entre esporte, análise de dados e entretenimento digital. Os entusiastas discutem estratégias, compartilham ideias e criam conteúdos relacionados, aumentando a interação e o engajamento em torno do futebol.
Além do valor como entretenimento, um dos maiores jogos virtuais nacionais, o Cartola FC, também apresenta um potencial financeiro significativo, fomentando uma comunidade ativa e engajada. Isso abre um leque de oportunidades para empresas e entidades que desejam se envolver com essa base de fãs apaixonada por futebol e tecnologia. Nesse sentido, uma pesquisa muito interessante acabou de ser apresentada no Simpósio Brasileiro de Pesquisa Operacional (SBPO 2024).
Os autores criaram um sistema que propõe o uso dos resultados de modelos preditivos para antecipar as pontuações dos jogadores em rodadas futuras e aplicá-las em um modelo de otimização com o objetivo de se conseguir formar uma equipe com a maior pontuação possível. Para isso, não só foram analisados o desempenho individual dos jogadores, mas também foram consideradas suas pontuações combinadas para alcançar o melhor resultado possível.
SAFE 2024: O Encontro que Une Dados e Futebol no Rio de Janeiro
Esses assuntos e vários outros serão discutidos no primeiro Symposium on Analytics for Football Excellence (SAFE). O evento, promovido pelo Laboratório ACE (cooperação entre professores da UFRJ e CEFET), promete reunir estudantes, professores, pesquisadores e profissionais para discutir a crescente influência da análise de dados no futebol. Com uma programação completa com palestras, mesa redondas e apresentações científicas, o SAFE 2024 surge como um marco na integração entre tecnologia e esporte no Rio de Janeiro.
Serão destaques desse evento:
· Palestra de Abertura com Teo Benjamin, Head de Analytics do Flamengo, que compartilhará sua experiência na aplicação de dados para impulsionar um dos maiores clubes do país;
· Apresentação do ACE Laboratory, um laboratório dedicado a projetos inovadores em ciência de dados aplicada ao esporte. O laboratório tem sido fundamental no desenvolvimento de soluções que combinam tecnologia de ponta com necessidades práticas do futebol brasileiro e em outros esportes. Em seguida, três alunos do ACE Laboratory apresentarão seus projetos;
· Mesa Redonda: Ecossistema do Futebol. Essa mesa redonda reunirá representantes de clubes, universidades e da TV Globo para discutir o tema "Interação entre Clubes, Universidades e Televisão".
· Palestra de Encerramento com Matheus Caminha. Matheus é gerente de ciência de dados na Globo e explorará o desafio de definir a programação televisiva voltada para o futebol.
Eventos como o SAFE 2024 são essenciais para preparar profissionais e pesquisadores para um futuro em que ferramentas cada vez mais sofisticadas serão incorporadas ao dia a dia dos clubes. Ao promover a troca de conhecimentos e experiências, o SAFE contribui para que o Brasil permaneça na vanguarda das inovações no esporte.
Glauco Amorim é criador do SAFE 2024.
Pedro Henrique González não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.