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Como a imprensa europeia noticiou o acordo Mercosul-UE

6 dez 2024 - 15h01
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Após anúncio do longamente negociado pacto de livre comércio, veículos da Alemanha, Áustria, França e Itália consideram vantagens, porém registrando a resistência de governos como francês e polonês, antes da assinatura.Zeit Online (Alemanha) - A luta errada

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (esq., no púlpito) tomou as rédeas da cúpula do Mercosul em Montevidéu
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (esq., no púlpito) tomou as rédeas da cúpula do Mercosul em Montevidéu
Foto: DW / Deutsche Welle

É bem possível que mais uma vez o acordo não se concretize. Sobretudo na França e na Polônia, os governos resistem, curvando-se à pressão de seus agricultores. Isso já transcorreu assim várias vezes, por fim em dezembro de 2023. No último minuto, exigiram-se, por vontade da União Europeia, emendas ao acordo pronto em questões ambientais e das cadeias de abastecimento - possivelmente uma tática de procrastinação.

Aqui há muito a dizer, no tocante ao equilíbrio entre moral e negócios. Partidários do acordo contrapõem aos agricultores em protesto que ele de modo algum prevê a importação de volumes ilimitados de produtos agrícolas para a Europa. Em relação à carne bovina, por exemplo, vigoram limites estreitos. E há também a contrapartida de que os próprios fazendeiros europeus vão poder exportar muito para a América do Sul: frutas, legumes, óleos, até carne de vaca.

O outro argumento é que nem sempre se deve seguir a vontade dos agricultores. Grandes vantagens do acordo estão em setores economicamente mais importantes, como engenharia mecânica, energia verde, química, exportações tecnológicas da Europa para a Argentina, importação de matérias primas cobiçadas do Brasil para a Europa.

Süddeutsche Zeitung (Alemanha) - Acordo não é perfeito, mas também tem bons efeitos

O temor dos criadores de gado franceses perante a carne da América do Sul é, em si, injustificado: o volume de importações permanece restrito demais. No entanto, são justificadas as apreensões dos ambientalistas: os fazendeiros dos países do Mercosul vão lucrar certamente também às custas da natureza, pois se poderá desmatar ainda mais florestas e usar ainda mais pesticidas, apesar de todas as assertivas em contrário.

No entanto, a aliança comercial é oportuna. Pois também outros têm interesse nos produtos da América do Sul. Nos últimos anos, a China se transformou na mais importante parceira comercial da maioria dos países do Mercosul. Pequim quer soja, ferro, óleo e carne, e considerações ambientais só têm relevância secundária - se tiverem. A UE é bem diferente; o novo acordo comercial pode não ser perfeito, mas pelo menos é uma possibilidade de seguir exercendo influência sobre esses Estados.

Die Presse (Áustria) - Acordo do Mercosul: Alcançado consenso político básico

Quanto à criação de uma zona de livre comércio entre a UE e o Mercosul, na realidade já se havia alcançado um consenso político básico no verão de 2019. Entretanto o pacto voltou a ser questionado por diversos Estados-membros da UE, como França, Polônia ou Áustria, e seguiram-se anos de novas negociações.

A postura contrária da Áustria quanto ao acordo do Mercosul está constitucionalmente congelada desde 2019, por um veto do Conselho Nacional.

[...]

O acordo entre a UE e os países do Mercosul criaria uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, com mais de 700 milhões de habitantes. Ela visa, acima de tudo, reduzir taxas aduaneiras e assim propelir o comércio.

Políticos do comércio veem no planejado acordo, além disso, uma mensagem ao futuro presidente americano Donald Trump, e um importante passo na luta de concorrência com a China. A ideia é mostrar a Trump que, no longo prazo, acordos de livre comércio em funcionamento são melhores para a economia nacional do que a alienação de mercados com novas tarifas e outras barreiras comerciais.

Le Monde (França) - França: acordo só envolve a Comissão Europeia

Desde o verão se aceleraram as discussões entre a Comissão Europeia, que negocia em nome dos Vinte e Sete [membros da UE] e o Mercosul. Já em dezembro de 2023, Ursula von der Leyen pensava que o acordo estava ao alcance da mão, mas teve que renunciar in extremis. Emmanuel Macron - de que ela ainda precisava para ser reconduzida à liderança da Comissão, após as eleições europeias de 9 de junho - lhe expressara mais uma vez sua oposição categórica. Enquanto isso, em Buenos Aires, o presidente argentino cessante preferiu deixar a decisão para seu sucessor, Javier Milei, recém-eleito mas ainda não empossado.

Faz 25 anos que a Comissão Europeia e o Mercosul negociam. Em 2019, já se alcançara um acordo entre as duas partes, mas a França assumiu a liderança da rebelião, convencendo vários outros Estados europeus, a começar pela Alemanha. O Executivo comunitário, de fato, não tem poder de ratificação: este fica nas mãos dos Estados-membros e Parlamento Europeu, os únicos que podem lavrar em pedra um tratado comercial.

Libero Quotidiano (Itália) - Giorgia Meloni detém Von der Leyen: "Não há condições para assinar"

À oposição da França e da Polônia, soma-se o "alto lá" italiano. O governo - informavam na noite de ontem [05/12] fontes do Palácio Chigi - sustém que não há condições para firmar o atual texto do acordo de associação UE-Mercosul, e que a assinatura só virá havendo condições de tutela adequadas e compensações para eventuais desequilíbrios do setor agrícola.

[...]

Em nossas mesas vão chegar bifes e hortaliças com um impacto ambiental bem superior ao dos produzidos no Velho Continente, apesar da guinada "green" feita sobre os ombros dos agricultores e na pele dos consumidores.

Sem contar que, com o previsível boom das exportações de produtos alimentares do Mercosul, teremos transferido as emissões carbônicas para além dos confins da Europa - multiplicando-as, visto que cultivadores e criadores sul-americanos não hão de estar sujeitos às constrições ambientais impostas por Bruxelas.

A reciprocidade invocada pelo governo parte daí - estando-se ciente que, se Bruxelas viesse assinar o tratado mesmo assim, seriam necessárias compensações, para evitar o colapso da agricultura e zootecnia europeias.

av/bl (ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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