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Como Júpiter pode não ter superfície? Um mergulho neste planeta tão assustador e grande, capaz de engolir mil Terras e ainda sobrar espaço

A composição de Júpiter é mais parecida com a do Sol do que com a da Terra.

8 nov 2024 - 12h10
(atualizado em 12/11/2024 às 18h00)
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Uma foto de Júpiter tirada pela espaçonave Juno da NASA em setembro de 2023. NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS, image processing by Tanya Oleksuik
Uma foto de Júpiter tirada pela espaçonave Juno da NASA em setembro de 2023. NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS, image processing by Tanya Oleksuik
Foto: The Conversation

O planeta Júpiter não tem base sólida - nenhuma superfície, como a grama ou a terra que pisamos aqui na Terra. Não há nada sobre o qual caminhar e nenhum lugar para pousar uma nave espacial.

Mas como pode ser assim? Se Júpiter não tem uma superfície, o que ele tem? Como pode se manter unido?

Mesmo sendo um professor de física que estuda todos os tipos de fenômenos incomuns, percebo que o conceito de um mundo sem superfície é difícil de entender. No entanto, muito sobre Júpiter continua sendo um mistério, mesmo quando a sonda robótica Juno, da NASA, começa seu nono ano orbitando este estranho planeta.

A massa de Júpiter é duas vezes e meia a de todos os outros planetas do sistema solar juntos.

Primeiro, alguns fatos

Júpiter, o quinto planeta a partir do Sol, está localizado entre Marte e Saturno. É o maior do sistema solar, grande o suficiente para que mais de 1.000 Terras caibam dentro, com espaço de sobra.

Enquanto os quatro planetas internos do sistema solar - Mercúrio, Vênus, Terra e Marte - são todos feitos de material sólido e rochoso, Júpiter é um gigante gasoso com uma composição similar à do Sol; é uma bola de gás turbulenta, tempestuosa e agitada. Alguns lugares em Júpiter têm ventos de mais de 400 mph (400 milhas por hora, equivalente a cerca de 640 quilômetros por hora), em torno de três vezes mais rápido do que um furacão de categoria 5 na Terra.

Uma fotografia do planeta Júpiter envolto em faixas azuis, marrons e douradas.
Uma fotografia do planeta Júpiter envolto em faixas azuis, marrons e douradas.
Foto: The Conversation

Uma foto do hemisfério sul de Júpiter, tirada pela sonda espacial Juno, da NASA, em 2017. NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Gerald Eichstadt/Sean Doran

Em busca de terra firme

Começando do topo da atmosfera da Terra e descendo a cerca de 60 milhas (aproximadamente 100 quilômetros), a pressão do ar aumenta continuamente. Por fim, uma nave atinge a superfície da Terra, seja solo ou água.

Compare isso com Júpiter: começando perto do topo de sua atmosfera composta majoritariamente de hidrogênio e hélio, a pressão aumenta à medida que se desce, como acontece na Terra. A diferença é que, em Júpiter, a pressão é imensa.

À medida que as camadas de gás acima empurram a nave para baixo mais e mais, é como estar no fundo do oceano - porém, em vez de água, você está cercado por gás. A pressão se torna tão violenta que o corpo humano implodiria; ou seria esmagado.

Ao descer 1.000 milhas (1.600 quilômetros), o gás quente e denso começa a se comportar estranhamente. Eventualmente, se transforma em uma forma de hidrogênio líquido, criando o que pode ser considerado o maior oceano do sistema solar, mas sem um pingo de água.

Abaixo mais 20.000 milhas (cerca de 32.000 quilômetros), o hidrogênio se torna mais parecido com metal líquido fluido, tão exótico que só recentemente, e com grande dificuldade, os cientistas o reproduziram em laboratório. Os átomos deste hidrogênio metálico líquido são comprimidos tão firmemente que seus elétrons ficam livres para vagar.

Tenha em mente que essas transições de camada são graduais, não abruptas; a transição do gás hidrogênio normal para a forma líquida e, depois, para a metálica ocorre de forma lenta e suave. Em nenhum ponto há um limite nítido, material sólido ou superfície.

Uma ilustração que mostra as camadas interiores de Júpiter, incluindo seu núcleo.
Uma ilustração que mostra as camadas interiores de Júpiter, incluindo seu núcleo.
Foto: The Conversation

Uma ilustração das camadas interiores de Júpiter. Uma barra é aproximadamente igual à pressão do ar ao nível do mar na Terra. NASA/JPL-Caltech

Assustador até a medula

Por fim, o núcleo de Júpiter - a região central do interior. Não deve ser confundida com uma superfície.

Os cientistas ainda estão debatendo a natureza exata do material do núcleo. O modelo mais aceito: não é sólido como uma rocha, mas parece uma mistura quente, densa e possivelmente metálica de líquido e sólido.

Neste lugar, a pressão é tão intensa que seria como se 100 milhões de atmosferas terrestres estivessem pressionando você — ou dois edifícios Empire State sobre cada centímetro quadrado do seu corpo.

A pressão, entretanto, não seria o único problema. Uma nave espacial que tentasse alcançar o núcleo de Júpiter seria derretida pelo calor extremo - 35.000 graus Fahrenheit (20.000 graus Celsius). Isso é três vezes mais quente que a superfície do Sol.

Uma imagem tirada de Júpiter pela Voyager 1. Observe a Grande Mancha Vermelha, uma tempestade grande o suficiente para conter três Terras.
Uma imagem tirada de Júpiter pela Voyager 1. Observe a Grande Mancha Vermelha, uma tempestade grande o suficiente para conter três Terras.
Foto: The Conversation

Uma imagem tirada de Júpiter pela Voyager 1. Observe a Grande Mancha Vermelha, uma tempestade grande o suficiente para conter três Terras. NASA/JPL

Júpiter ajuda a Terra

Júpiter é um lugar estranho e proibitivo. Porém, se não estivesse por perto, é possível que os seres humanos não existissem.

Isso, porque ele atua como um escudo para os planetas internos do sistema solar, incluindo a Terra. Com sua enorme atração gravitacional, Júpiter alterou a órbita de asteroides e cometas por bilhões de anos.

Sem a intervenção deste imenso planeta, alguns desses detritos espaciais poderiam ter colidido com a Terra. Se houvesse uma colisão cataclísmica, poderia ter causado um evento de nível de extinção como o que aconteceu com os dinossauros.

Talvez Júpiter tenha ajudado a nossa existência, mas o planeta em si é extraordinariamente inóspito à vida - pelo menos, como a conhecemos.

O mesmo não acontece com uma lua de Júpiter, Europa (umas das 79 luas do planeta gasoso), talvez nossa melhor chance de encontrar vida em outro lugar no sistema solar.

A sonda robótica Europa Clipper, da NASA, lançada em outubro de 2024, está programada para fazer cerca de 50 sobrevoos naquela lua para estudar seu enorme oceano subterrâneo.

Poderia haver algo vivo na água de Europa? Os cientistas não saberão por um tempo. Devido à distância de Júpiter em relação à Terra, a sonda não chegará até abril de 2030.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Benjamin Roulston não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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