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Como os amigos podem fazer bem ou mal para sua saúde

Nós tendemos a copiar a forma como amigos e familiares se comportam, o que potencialmente pode nos levar a engordar demais ou até ao divórcio. Saiba o porquê!

1 jan 2020 - 17h18
(atualizado em 2/1/2020 às 08h54)
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Nós tendemos a copiar a forma como amigos e familiares se comportam, o que potencialmente pode nos levar a engordar demais ou até ao divórcio. Mas há estímulos positivos que podem ser explorados
Nós tendemos a copiar a forma como amigos e familiares se comportam, o que potencialmente pode nos levar a engordar demais ou até ao divórcio. Mas há estímulos positivos que podem ser explorados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No começo de um novo ano, várias pessoas adotam resoluções para ter um estilo de vida mais saudável.

Muitas acham que fazer dieta ou se inscrever numa academia é mais fácil quando amigos e familiares adotam a mesma resolução.

Mas nem todas as decisões que afetam a nossa saúde são conscientes e intencionais, já que tendemos a copiar o comportamento de amigos, colegas e parentes que admiramos.

Infelizmente, também imitamos os hábitos ruins para a nossa saúde, como fumar ou comer demais.

Esse fenômeno ajuda a explicar por que condições não contagiosas, como doenças do coração, derrames e câncer, parecem se espalhar de uma pessoa a outra como uma infecção.

Seus amigos podem te engordar?

Pessoas que valorizamos e com quem estamos em constante contato formam nossa rede social.

O Estudo Cardíaco de Framingham (Farmingham Heart Research), liderado por pesquisadores de universidades como Harvard e Cambridge, analisa o poder desses contatos sociais desde os anos 40, ao acompanhar três gerações de moradores de Framingham, em Massachusetts, nos Estados Unidos.

A pesquisa indica que temos mais chance de nos tornarmos obesos se alguém de nosso círculo íntimo for obeso. Conforme o estudo, uma pessoa é 57% mais propensa a se tornar obesa se tiver como amigo ou amiga uma pessoa muito acima do peso.

Moradores de Framingham, em Massachusetts, foram acompanhados por pesquisadores desde 1948, para um estudo sobre como os círculos sociais afetam o comportamento humano
Moradores de Framingham, em Massachusetts, foram acompanhados por pesquisadores desde 1948, para um estudo sobre como os círculos sociais afetam o comportamento humano
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No caso de ter uma irmã ou irmão obeso, o percentual é de 40%. E uma pessoa que tem parceiro obeso tem chance 37% maior de ficar acima do peso.

O impacto é maior se as duas pessoas forem do mesmo gênero e se a ligação emocional entre elas for grande.

O estudo de Framingham indica, por exemplo, que ter um vizinho obeso não afeta o seu peso, se vocês não tiverem um relacionamento próximo, mesmo que você o veja diariamente entrando e saindo de casa.

Em relacionamentos "desiguais", a pessoa que enxerga a amizade da outra como muito importante é mais propensa a engordar se o amigo ou a amiga ficar acima do peso.

O nível de divórcios e vício em cigarro e álcool também parece se espalhar entre amigos e parentes.

Embora nossa saúde seja afetada pelo envelhecimento e predisposições genéticas a certas condições, nosso risco de desenvolver doenças não infecciosas aumenta a depender de certos comportamentos: se você fuma, se adota uma dieta equilibrada, a quantidade de atividade física que faz semanalmente e o volume de álcool que ingere.

Doenças não infecciosas como de coração, pulmão, derrame, câncer e diabetes, causam sete a cada 10 mortes no mundo todo. No Reino Unido, são a causa de 90% das mortes.

Sentimentos contagiam

As conexões sociais também podem afetar nosso humor e comportamento. Não surpreende, portanto, que o fumo entre adolescentes seja influenciado pelo desejo de popularidade. Quando adolescentes considerados "populares" fumam, os níveis de dependência em cigarro aumentam e o número de jovens que desejam e conseguem parar de fumar cai.

Ao mesmo tempo, jovens cujos amigos são mais desanimados tendem a desenvolver esse tipo de humor também. No caso de depressão clínica, estudos não encontraram evidências de que ela possa se espalhar pelo convívio.

Mas desânimo e mau humor já são suficientes para afetar a qualidade de vida dos adolescentes e, em alguns casos, podem aumentar o risco de desenvolverem depressão clínica no futuro.

A ideia de que sentimentos contagiam é respaldada por um controverso experimento secreto conduzido em quase 700 mil usuários do Facebook. A pesquisa filtrou de maneira seletiva o que podia ser visto nos feeds de notícia, que usam algoritmos para mostrar postagens relevantes para o usuário da rede social.

As pessoas com quem a gente convive, pessoalmente ou nas redes sociais, afetam nosso humor, nosso comportamento e nosso padrão de consumo
As pessoas com quem a gente convive, pessoalmente ou nas redes sociais, afetam nosso humor, nosso comportamento e nosso padrão de consumo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Dois experimentos paralelos foram conduzidos. Um deles reduziu a exposição dos usuários a postagens associadas a emoções positivas, enquanto o outro reduziu a exposição a postagens que mostravam emoções negativas.

Os usuários alimentados com mais mensagens positivas se mostraram mais propensos a postarem eles próprios fotos e legendas positivas, enquanto os que passaram a ver mais postagens negativas aumentaram as suas publicações associadas a emoções ruins.

Isso sugere que os sentimentos podem se espalhar por nossas redes sociais, apesar da falta de interação face a face. Uma crítica comum a estudos sobre redes sociais é o fato de nos conectarmos na internet com pessoas que já demonstram adotar estilo de vida parecidos com os nossos ou ter gostos semelhantes.

Mas vários estudos reconhecem e adaptam seus achados a esse fenômeno, conhecido como contágio social.

Como tirar proveito do "contágio social"

Se copiamos o comportamento de amigos e familiares, como aproveitar isso da melhor maneira possível?

Iniciativas como "janeiro sem álcool" (Dry January) ou "janeiro vegano" (Veganuary), que surgiram recentemente no Reino Unido, são exemplos de tentativas coletivas de implementar opções saudáveis de vida.

Também na Inglaterra houve a campanha "stopoctober" ou "pare em outubro", que encorajou pessoas a pararem de fumar naquele mês. Essa iniciativa, baseada em estudos que mostram o "contágio" de comportamentos por meio de conexões sociais, tem sido bem-sucedida desde que foi lançada em 2012.

Acredita-se que ela estimulou mais de um milhão de tentativas de parar de parar de fumar, o que sugere que um único empurrão coletivo pode ter mais eficácia do que campanhas constantes feitas ao longo do ano.

Campanhas coletivas que envolvem uma meta clara, para ser cumprida num mês específico, costumam ter mais efeito que mensagens contínuas em defesa de um estilo de vida mais saudável divulgadas ao longo do ano
Campanhas coletivas que envolvem uma meta clara, para ser cumprida num mês específico, costumam ter mais efeito que mensagens contínuas em defesa de um estilo de vida mais saudável divulgadas ao longo do ano
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um problema observado é que mensagens e campanhas tradicionais que visam incentivar comportamentos mais saudáveis tendem a aumentar a desigualdade, porque não conseguem alcançar todas as camadas sociais da população.

Essas mensagens costumam ter efeito maior entre os mais ricos— pessoas que costumam priorizar a saúde e que possuem situação educacional, econômica e social que lhes permite mudar de comportamento.

No entanto, até mesmo aqueles que não são "conscientes sobre a saúde" são influenciados pelo comportamento das pessoas com quem convivem, interagem e com quem se importam.

Se queremos melhorar a saúde de uma população inteira, talvez seja útil explorar o "contágio" social, principalmente por meio de pessoas capazes de influenciar muitos. Esses indivíduos influentes, que são peças centrais de suas redes sociais, costumam ser admirados por outros, mais propensos a compartilhar experiências e interagir com várias pessoas ao mesmo tempo.

Mais pesquisas precisam ser feitas sobre como o contágio de comportamento pode ser usado para dar eficácia a políticas públicas, sistemas públicos de saúde e para encorajar escolhas saudáveis que garantam uma redução de doenças não infecciosas.

Esse artigo foi escrito por uma especialista que não é funcionária da BBC. Dr. Oyinlola Oyebode é professora da Escola de Medicina da Universidade de Warwick, no Reino Unido.

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